Transição energética e os financiamentos certos são urgentes para uma economia de baixo carbono, por Larissa Rodrigues

Larissa Rodrigues, Gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas
Larissa Rodrigues, Gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas

Os mais otimistas dizem que o mundo está mudando, porque as empresas estão mudando. Ou, dizem que estão. É difícil imaginar uma economia de baixo carbono se as empresas de petróleo não internalizarem esse objetivo em seus modelos de negócios. Petrolíferas não se alinharão à transição energética enquanto não se tornarem verdadeiras empresas de energia, e não de petróleo.

A Petrobras tem plena capacidade técnica para se tornar líder em energias renováveis. Já foi responsável por muitos projetos nessa área, mas eles ficam para trás diante do Pré-Sal. A cada novo campo que entra em produção, são pelo menos mais 30 anos de petróleo e gás natural pela frente. A empresa poderia ser a Enerbras (Energias Brasileiras), ao invés de ser a Pé-Pra-Trás da transição energética, com a produção de petróleo.

Empresas internacionais como BP, Equinor, Shell, Total, Galp, Eni, Occidental e Repsol apoiaram publicamente os objetivos do Acordo de Paris, mas precisam colocar em prática essa decisão, já que os compromissos existem, mas a produção de combustíveis fósseis continua. As emissões globais de CO2 pela queima desses combustíveis só aumentaram nos últimos anos. O petróleo foi responsável por um terço delas e o carvão por 40% (Global Carbon Budget 2019).

Para mudar essa fotografia, e atingir as metas do Acordo de Paris, é necessário avançar muito mais com as energias renováveis, para eletricidade e transportes, já contando com a eletrificação de frotas. É preciso reestruturar os padrões de consumo, ofertando transporte público de qualidade para que o uso individual fique para trás.

O setor financeiro também tem papel fundamental nessa mudança, afinal, viabiliza financiamentos para a infraestrutura. No Brasil, a questão climática e ambiental é avaliada apenas voluntariamente pelos bancos, seguindo padrões insuficientes para lidar com a gravidade dos impactos que os projetos financiados causam (vide Belo Monte, Mariana e Brumadinho, ou novas usinas a carvão). São necessários critérios objetivos e obrigatórios para a avaliação dos riscos ambientais nos financiamentos.

No dia 13 de fevereiro, o mundo celebrou o Dia Global do Desinvestimento em Combustíveis Fosseis. A data, criada por estudantes norte-americanos, pretende chamar a atenção para o movimento crescente de desinvestimento em combustíveis fósseis, que vão desde fundos de pensões aos patrimoniais.

Essas iniciativas são importantes para pressionar as empresas e bancos para acelerarem suas mudanças. Mas é necessário que o desinvestimento em combustíveis fósseis se torne prática dominante.

O Escolhas colocou em consulta pública uma proposta de regulação para tornar obrigatório para bancos e instituições financeiras a adoção de uma matriz de risco ambiental para avaliar os financiamentos no setor de infraestrutura.

Texto por Larissa Rodrigues, Gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas