Faz-se urgente comunicar adequadamente e engajar a sociedade num amplo movimento que resulte na aceitação pública do fato de que teremos que arcar com os custos da transição energética, se não quisermos enfrentar os custos socioambientais e geopolíticos de não fazer nada a tempo ou de fazer muito pouco.
Primeiramente, sem energia acessível e abundante a humanidade não se desenvolve. Teremos que aumentar e não reduzir a produção de energia, porque ainda há um enorme contingente humano que sequer dispõe de energia suficiente para satisfazer as mínimas condições de uma vida digna (IEA, 2022).
Partindo dessa premissa, ou buscamos novas formas de gerar e consumir energia, ou será melhor sentar e aguardar um futuro nada alvissareiro, de acordo com as previsões da ciência.
As mudanças climáticas e seus efeitos são uma realidade incontestável.
Enchentes, secas, queimadas, ondas de calor e frio, crise migratória, escassez de alimentos, enfim, desastres cada vez mais frequentes são, sem dúvida, desequilíbrios resultantes do excesso de gases do efeito estufa que liberamos na atmosfera e do lixo por nós despejados nos rios e oceanos (IPCC, 2021).
Nosso planeta levou bilhões de anos absorvendo em suas entranhas e no fundo dos mares gases e outras substâncias tóxicas durante o resfriamento.
E nesse processo constituiu a atmosfera, essa fina camada que milagrosamente nos protege das intempéries siderais, proporcionando as condições para o florescimento da vida, como a conhecemos.
Nos últimos 11 mil anos (mais ou menos), no chamado Holoceno, desenvolvemos o que hoje chamamos de sociedade humana.
E no caminho, descobrimos formas de extrair minérios e fontes de energia, explorando os recursos da natureza.
Efeitos da ação humana sobre o clima
Ocorre que há cerca de 150 anos iniciamos um acelerado processo de geração e consumo de energia que nos proporcionou níveis de prosperidade e desenvolvimento tecnológico e econômico de causar espanto a qualquer habitante de outro planeta que aqui chegasse.
Há pouco nos demos conta de que esse padrão de produção e consumo nos colocou em rota de colisão com a capacidade do planeta de processar os nossos rejeitos — os gases do efeito estufa que liberamos e o lixo que despejamos.
Enfim, nos demos conta de que o planeta não se recompõe na mesma velocidade com que geramos gases e resíduos.
A ciência nos diz que a solução seria alterar o nosso jeito de produzir e consumir energia. Os padrões de produção e consumo de energia são os fatores-chave e modificá-los é fundamental para nossa sobrevivência (IEA 2022).
Cobrimos por aqui
Desafios da implementação
Passar a produzir e consumir energia com baixo impacto ambiental; buscar formas mais eficientes de consumo; redistribuir geograficamente e reduzir o consumo de energia per capita.
Pois é, isso vai demandar muita cooperação internacional, além de tecnologia e investimento.
Parece que há grande acordo sobre o diagnóstico.
Agora, vai convencer quem produz e quem consome, de que deveremos fazer tais esforços, leia-se investir mais, deixar de consumir tanto, pagar mais caro por energia e produtos, reduzir margens de retorno, aumentar riscos financeiros, colaborar para a redução das desigualdades sociais…
Tudo isso em um ambiente polarizado, no qual o nível de confiança nas lideranças anda meio abalado, quando há incerteza quanto aos efeitos geopolíticos dessas mudanças.
Daí que não é difícil compreender a complexidade do momento que estamos vivendo. Do peso das decisões e das ações que a história está depositando sobre os ombros da nossa geração.
Relatórios de entidades de grande reputação internacional como IEA, IPCC, Irena, DoE, WEC etc, indicam que as decisões que tomaremos na presente década ditarão o sucesso ou falha do processo de transição para uma economia de baixo carbono.
Cabe às lideranças como governos, academia, investidores e setor privado em geral, comunicar à sociedade, de forma clara, as exigências impostas pela crise climática e as soluções disponíveis para a descarbonização, bem como engajar a todos nós nesse processo, ajudando na justa repartição de ônus e bônus.
Cabe sobretudo a cada um de nós buscarmos informações confiáveis e nos inteirarmos dessas questões que são cruciais para nossa sobrevivência e das futuras gerações.
E tomar medidas no dia a dia, no sentido de neutralizar nossa própria pegada de carbono. Para assegurar o futuro da humanidade. Porque o planeta já estava aqui muito antes de nós e aqui permanecerá sem nós, caso decidamos que não vale o esforço.
O relógio não está a nosso favor.
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Carlos Peixoto é cofundador e CEO da H2helium Projetos de Energia, presidente do comitê de O&G da Câmara Britânica e head de Marketing da CCSBR – Associação Brasileira de Captura e Armazenamento de Carbono.