Energia

Presidentes do G7 e do G20, Itália e Brasil devem fortalecer relações para transição verde, diz Cônsul 

Empresas italianas olham investimentos no agronegócio e infraestruturas sustentáveis 

Presidentes do G7 e do G20, Itália e Brasil devem fortalecer relações para transição verde, diz Cônsul italiano em São Paulo, Domenico Fornara (Foto: Douglas Schinatto)
Cônsul da Itália em São Paulo, Domenico Fornara (Foto: Douglas Schinatto)

RIO — O ano de 2024 deve ser crucial para a relação Brasil-Itália em assuntos que incluem a transição energética e investimentos em infraestrutura renovável, com ambos os países presidindo, respectivamente, o G20 e o G7, acredita o cônsul da Itália em São Paulo, Domenico Fornara.

O ano também marca os 150 anos da primeira imigração vinda da Itália ao Brasil, que hoje conta com cerca de mil companhias de origem italiana.

“Os dois grupos têm muitas agendas sobrepostas, que necessitarão de uma forte cooperação. E certamente a transição energética será um tema muito importante para ambos os grupos”, disse o cônsul, em entrevista exclusiva à agência epbr.

Segundo ele, além das discussões em blocos, também haverá a possibilidade de estreitamento na cooperação bilateral entre Brasil e Itália no tema da transição verde.

“Haverá reuniões de alto nível, não só no âmbito dos fóruns multilaterais, mas penso que também na perspectiva bilateral. Portanto, certamente haverá espaço para melhorias em nossas relações bilaterais (…) Estou muito positivo em relação às nossas relações bilaterais”, destaca Fornara.

Recentemente, a Sace (Agência de Crédito à Exportação da Itália), anunciou um investimento de €1,1 bilhão em novos projetos para impulsionar a transição verde no Brasil, iniciativa nomeada Green Push.

Programa de Aceleração do Crescimento

Fornara explica que um dos motivos para isso foi o posicionamento do governo brasileiro em relação aos investimentos anunciados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que destinou boa parte do portfólio a projetos relacionados à transição ecológica.

O programa contempla tanto investimentos privados e como de estatais – majoritariamente da Petrobras.

“Há, em geral, uma grande necessidade de desenvolvimento de infraestrutura no Brasil, que não está apenas estritamente relacionado às energias renováveis. Existem projetos também no sentido de investir em modalidades novas e mais sustentáveis”, pontua.

Entre os R$ 1,7 trilhões em projetos contemplados no PAC, R$ 41,5 são estimados para energia solar e R$ 22 bilhões para eólica. No setor de combustíveis, são R$ 26,1 bilhões para rotas de baixo carbono, além de R$ 8,9 bilhões para tecnologias de descarbonização do setor de óleo e gás.

Já as ferrovias e hidrovias, meios de transporte mais sustentáveis, ficaram com R$ 94,2 bilhões e R$ 4,1 bilhões, respectivamente.

Ferrovias e agronegócio

Outro destaque são os programas de privatização e concessão, em especial de ferrovias, anunciados no país.

“Este é um campo em que a Itália tem um know-how muito interessante para o Brasil. Estamos olhando para estes programas e privatizações, e para estes investimentos em infraestruturas, que estão diretamente, ou de alguma forma, relacionados com as energias renováveis”.

Fornara cita como exemplo o programa de privatizações proposto pelo governo de São Paulo, que deve atrair algumas empresas italianas.

Outra expertise italiana que pode ser aplicada no Brasil está no agronegócio, setor chave também para a transição energética, na produção de biocombustíveis.

“Existe muita tecnologia italiana, principalmente para a economia do agronegócio, que é uma grande parte da economia brasileira, e que está estritamente ligada, claro, à transição energética e à proteção do meio ambiente”, ressalta o cônsul.

“É certamente um dos lugares onde Itália e Brasil podem trabalhar em prol de benefícios mútuos para ambos”, acrescenta.

Acordo com a União Europeia

Além de negócios na área de transição ecológica, a Itália também vê grandes oportunidades com o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

“Da nossa perspectiva, o acordo é extremamente importante. A prova disso é o fato de ter falado com centenas de empresas italianas e nenhuma delas ter sido contra o acordo”.

Segundo o cônsul italiano, o acordo facilitaria ainda mais a transação comercial entre os países.

“É importante porque algumas das nossas exportações são fortemente oneradas por alguns impostos de importação desproporcionais, o que naturalmente cria dificuldades no mercado. Mas também para as exportações brasileiras, que têm um ganho em termos de aprovação mais fácil dos seus bens e dos seus serviços de acordo com os padrões europeus”, avalia.

Em discussão desde 1999, o acordo de livre comércio entre as regiões teve as discussões novamente paralisadas, após novas exigências ambientais serem colocadas em pauta, por pressão, especialmente, da França.

“Foi uma pena não termos conseguido chegar a um acordo no ano passado. Eu sei que o Brasil certamente pressionou muito para isso. É um acordo que existe há anos. Basicamente está tudo negociado. É uma vontade política. Mas certamente do ponto de vista técnico seria incrivelmente positivo”, comenta Fornara.