O conflito entre Rússia e Ucrânia, além de expor o mundo à tragédia humanitária da guerra, colocou o segmento de energia no centro das atenções da economia global e mostrou como a segurança energética é um fator crucial de soberania no jogo de interdependência entre os países.
A Rússia é a terceira maior produtora mundial de petróleo e a fornecedora mais importante de gás para Europa, produto cujo preço em agosto chegou a alcançar patamar 700% superior ao ano anterior, algo inimaginável até pouco tempo.
Nós, mesmo no Brasil, sentimos o impacto econômico da guerra com o aumento do preço dos combustíveis, bem como a inflação que isso gera em toda a cadeia produtiva do país.
As incertezas sobre o mercado energético tornam-se mais fortes quando, somado a este cenário, observamos nos últimos anos uma tendência de redução de investimentos de exploração e produção de óleo e gás.
Muitas empresas têm optado por reduzir ou até mesmo encerrar por completo seus investimentos o que, apesar de demonstrar um genuíno interesse na descarbonização e maior foco na transição energética, pode gerar um efeito oposto.
O resultado de menos investimentos é menos eficiência, menos tecnologia aplicada, menos inovação, o que é justamente o que não devemos desejar no contexto de transição.
Agenda ESG para a energia
Essa redução de investimentos também é reflexo da importante agenda ESG – sigla em inglês para Environmental, Social and Governance – corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança.
Muito do enfoque nesta agenda tem se concentrado no “E”, em priorizar a redução de emissões, por conseguinte, da aceleração da substituição do óleo e gás na matriz energética.
Dentro de um contexto de transição energética, essa pode realmente parecer a resposta mais lógica: se queremos acelerar este processo, devemos focar em matrizes renováveis em detrimento das não renováveis.
No entanto, ainda que projetos solares e eólicos tenham ganhado eficiência ano após ano, eles ainda não são capazes de sustentar a crescente demanda energética global e apresentam questões estruturais, como a intermitência de fornecimento, dentre outros desafios.
Transição com segurança energética
Os últimos acontecimentos geopolíticos e todo o impacto social e econômico decorrente resultou numa aparente mudança de comportamento dos governos, reconhecendo que não apenas a transição energética é uma discussão fundamental, mas também a segurança energética.
A disponibilização de energia de forma estável e com preço razoável é uma necessidade social, ou seja, é um fator S (Social) do ESG. O óleo e gás é central para isso – Projeções da Agência de Informação Energética (EIA) apontam que fontes não-renováveis como o óleo e gás ainda terão um papel importante na matriz energética global em 2050 – e provavelmente nas décadas seguintes.
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Ao aceitarmos que as fontes não-renováveis ainda estarão presentes nas próximas décadas, nossa decisão não dever ser abandoná-las, e sim torná-las mais eficientes e sustentáveis.
O segmento de óleo e gás, que sempre foi um celeiro de desenvolvimento econômico e financeiro, tem mostrado grandes avanços.
Os FPSOs por exemplo, categoria de navio utilizado pela indústria para a exploração em alto mar, hoje incorporam tecnologias como ferramentas de inteligência artificial alavancando técnicas de machine learning e equipamentos para redução de emissões, já com um alvo ambicioso: o desenvolvimento de um navio mais sustentável e com zero emissões.
Quando estas iniciativas são aplicadas em projetos de larga escala que aliam volume e eficiência, como é o caso dos ativos do pré-sal brasileiro, os ganhos para a sociedade são muito positivos.
Outro ponto que não pode ficar de fora desta equação é que hoje uma parcela considerável dos investimentos em pesquisas de energia renovável é financiada justamente pelas empresas de óleo e gás, operadoras e prestadoras de serviços.
Diante de um futuro em que a transição energética é fundamental, as grandes empresas do segmento estão em busca de diversificar seu portfólio e hoje lideram algumas das principais pesquisas e iniciativas nas matrizes eólica, solar e de hidrogênio.
Sob esta perspectiva, podemos dizer que o óleo e gás é hoje um dos grandes investidores e protagonistas da transição energética. O óleo e gás eficiente e sustentável é ESG!
Felipe Baldissera tem MBA na área de Finanças pela Fundação Getúlio Vargas e acumula as funções de Diretor Comercial da Modec no Brasil e Vice-presidente da Shape, subsidiaria da Modec voltada para soluções digitais.