Diálogos da Transição

Mobilidade verde contribui para descarbonizar portfólio do setor financeiro

Entrevista com Petrina Santos, gerente executiva de ESG e Sustentabilidade da Volkswagen Financial Services Brasil (VWFS)

Mobilidade verde contribui para descarbonizar portfólio do setor financeiro (Foto: Divulgação VWFS)
Petrina Santos, gerente executiva de ESG e Sustentabilidade da Volkswagen Financial Services Brasil (Foto: Divulgação VWFS)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Logo TotalEnergies

 

Editada por Nayara Machado
[email protected]

Lançado pelo governo federal no final de 2023, o programa Mobilidade Verde (Mover) abre um leque de possibilidades de pesquisa e inovação na indústria automotiva, o que pode contribuir também para a descarbonização do portfólio de instituições financeiras, avalia Petrina Santos, gerente executiva de ESG e Sustentabilidade da Volkswagen Financial Services Brasil (VWFS).

“Como braço financeiro, o que a gente vê de muita oportunidade é que, de fato, agora estão muito claras algumas premissas de sustentabilidade. Logística reversa, economia circular. Quando o governo pauta isso e, de certa forma, subsidia algumas questões de investimento que são importantes, a gente tem uma possibilidade de trazer esse investimento”, explica em entrevista à agência epbr.

Na visão de Petrina, à medida em que as montadoras são induzidas a melhorar seus produtos, com carros mais eficientes e de menor pegada de carbono, a carteira de financiamento também vai ficando mais verde.

“Eu preciso que a montadora tenha produtos que vão corresponder [à minha estratégia de descarbonização]. Para isso, a montadora precisa de programas como o Mover que incentivem a sustentabilidade”.

Corresponsabilidade

A executiva conta que as recentes regulações do Banco Central estão modificando a forma como as instituições financeiras analisam o crédito no Brasil.

“Desde o início do ano passado, temos implementado a análise socioambiental e climática, dentro do nosso processo de análise de crédito para clientes relevantes”.

“No fim do dia, isso contribui para que não tenha trabalho escravo nas cadeias produtivas das empresas. Contribui para o fortalecimento da bioeconomia, principalmente pensando em grandes biomas. Temos clientes, por exemplo, que atuam na região Amazônica. Então, eu tenho uma corresponsabilidade de garantir que essa operação seja adequada ao compliance e às melhores regulações”, explica.

Em setembro de 2021, o BC divulgou normativos que estabelecem regras para que as instituições do Sistema Financeiro Nacional (SFN) elaborassem sua Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC), junto com o fortalecimento de suas estruturas de gerenciamento de riscos.

Além disso, as instituições financeiras passaram a precisar divulgar relatórios com informações sobre a governança e gestão dos riscos sociais, ambientais e climáticos.

Petrina observa que a regulação brasileira tem avançado e se aproximando do modelo europeu, quando o assunto é responsabilidade socioambiental.

Por ser uma empresa de matriz europeia, a VWFS precisa seguir as regulações do bloco.

“A principal nesse momento, que está mexendo muito com o mercado financeiro, é o CSID, que é o novo relatório de sustentabilidade, com muitos indicadores, que a União Europeia está pedindo para todas as empresas de base europeia”.

Internacionalmente, a VWFS desenhou a estratégia Mobility 2030, que tem como pilares a sustentabilidade social, ambiental e de governança, e atua como elo entre as diversas marcas do grupo: Volkswagen, Audi, Porsche, Ducati.

Incentivo ao etanol

Braço financeiro da montadora alemã no Brasil, a empresa atua como um banco, mas também na oferta de produtos e serviços ligados à mobilidade, como a locação de veículos.

“Sendo um banco e também uma empresa do setor automotivo, o nosso principal foco é o ambiental e a descarbonização. A minha responsabilidade é questionar como que eu vou incentivar o meu cliente também”, afirma Petrina.

Aqui no Brasil, ela aponta que há uma série de oportunidades sendo mapeadas – desde biometano a projetos de restauração florestal.

Em andamento está uma iniciativa para incentivar o uso de etanol. A VWFS começou, em 2023, a oferecer vouchers para abastecimento exclusivo com o biocombustível aos clientes que adquirirem veículos financiados pela empresa. A campanha alcançou 8% do volume de carros vendidos da marca em dezembro.

“A gente nunca pode esquecer que está no Brasil e tem uma oportunidade em biocombustíveis muito grande. A gente não pode esquecer que, para toda transformação, existe uma jornada e um ponto de onde a gente começa”, completa a executiva.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Eletrificação avança

A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) estima que mais de um em cada cinco carros vendidos em todo o mundo este ano será eletrificado, com as vendas atingindo cerca de 17 milhões até ao final de 2024. A expectativa é que o aumento da procura por veículos elétricos ao longo da década também ajude a reduzir significativamente o consumo de petróleo no transporte rodoviário.

Escala para CCS

O Conselho de Pesquisa da Noruega vai investir 180 milhões de coroas norueguesas (equivalente a cerca de R$ 84,5 milhões) na criação de um centro de pesquisa dedicado à tecnologia de captura, transporte e armazenamento de carbono (CCS) em escala. Chamado gigaCCS, o projeto quer desenvolver tecnologias para viabilizar o armazenamento de bilhões (giga) de toneladas do gás de efeito estufa.

Poluição plástica

Começou na terça (23/4) em Ottawa, no Canadá, a penúltima rodada de negociações da ONU para a construção de um acordo global de redução da poluição por plástico. A cada ano, de 8 milhões a 12,7 milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos, e as projeções indicam que a quantidade pode triplicar até 2040.

Carne rastreada

Os principais frigoríficos brasileiros aderiram ao recém lançado Protocolo Voluntário de Fornecedores de Gado do Cerrado. Coordenada pelo Proforest, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e National Wildlife Federation (NWF), a iniciativa padroniza práticas e exigências de conformidade ambiental para os fornecedores de carne do Cerrado, um dos focos de desmatamento por atividade pecuária no país.

PPA solar

A Scatec ASA, empresa norueguesa de soluções de energia renovável, assinou um contrato de compra de energia (PPA) de 10 anos com a Statkraft, para uma usina solar de 142 MW em Minas Gerais. O PPA realizado em reais cobre cerca de 75% da energia a ser produzida, enquanto o restante deverá ser vendido sob contratos de curto, médio e longo prazos (PPAs). É o terceiro projeto solar da Scatec no Brasil, elevando o portfólio para 835 MW.

Lubrificantes com renováveis

A subsidiária da petrolífera argentina YPF Brasil fechou uma parceria com a Newave Energia para abastecer toda a sua planta fabril de óleos lubrificantes com energia renovável. Desde o início do ano, toda linha de produção da YPF Brasil passou a usar renováveis, com ênfase em energia solar e eólica.