Tenho amigos que ainda não entenderam porque é necessário lembrar o dia 8 de Março. Por trás da suposta ” ignorância” se dizem feministas. E por considerarem as mulheres tão competentes e inteligentes quanto os homens, acham que as oportunidades são iguais para ambos.
Infelizmente esses meus queridos amigos ( e são queridos mesmo ) não conseguem ver a conexão da desigualdade de salários entre homens e mulheres, menor presença feminina na politica, inexpressiva presença de mulheres executivas na indústria, com o machismo estrutural da nossa sociedade e os vieses inconscientes que habitam as suas cabeças.
No Brasil a situação ainda é mais dramática, com indicadores que revelam a violência, o desrespeito e o preconceito contra mulheres. Muito já se fez, mas o retrocesso da agenda de costumes bate à porta e atinge em cheio os avanços e as conquistas da pauta de igualdade de gênero.
Artigos, relatórios, análises demonstram o quanto se perde em geração de riqueza por não termos uma sociedade com as mesmas oportunidades para homens e mulheres. Segundo estudo do Banco Mundial, o capital humano é responsável por dois terços da variação da riqueza global.
Como as mulheres ganham menos que os homens, a riqueza do capital humano em todo o mundo é cerca de 20% menor do que poderia ser. Em outras palavras, a estimativa da riqueza total perdida devido a desigualdade de salários entre gêneros cresceu de US$ 123,2 trilhões em 1995 para US$ 160,2 trilhões em 2014, o que equivale ao dobro do valor do PIB global no mesmo ano.
Grandes fundos de investimento abriram os olhos para o valor da diversidade nos conselhos e nos níveis gerenciais de tomada decisão das empresas, e informaram que empresas que não tiverem estratégias para ter ao menos 30% de mulheres nos seus conselhos de administração não terão prioridade para serem investidas.
A liderança feminina foi finalmente mundialmente reconhecida em momento crítico da pandemia da covid 19, onde qualidades como empatia, transparência, honestidade e compaixão foram valorizadas. Elas são essenciais para gerar a resiliência coletiva na sociedade para superar tamanho desafio.
Na indústria de óleo de gás apesar do crescimento da participação feminina nas empresas, sobretudo em relação às executivas do C-level, as mulheres ainda tem menos representatividade, conforme eleva-se o nível hierárquico.
Apenas 11% das empresas tem mais mulheres do que homens no nível executivo. Existe um forte afunilamento no percentual de mulheres que entram, 33%, e as que chegam nos cargos executivos, 10%.
Sim, este é mais um dia internacional da mulher. Mas mais do que este dia, eu diria para vocês que este é o Ano Internacional da Mulher. No ano 2020 as mulheres brasileiras demonstraram mais uma vez a sua força, inovando para manter o sustento de suas famílias quando seus maridos perderam o emprego.
Agiram com liderança firme e corajosa para tomar decisões difíceis garantindo a saúde de suas populações. Perderam mais postos de trabalho do que os homens e serão as últimas também a serem recontratadas no mundo pós covid. E estarão atrás dos homens no retreinamento essencial para trabalharem no mundo digital que se antecipou devido ao isolamento.
Neste Ano Internacional da Mulher precisamos de todas as nossas mulheres inspiradoras sendo vocais, presentes, questionadoras e críticas das politicas públicas. E precisamos dos nossos amigos queridos, aqueles lá do inicio deste artigo, advogando por nós, estendendo a mão, sensibilizados, finalmente, pela importância das celebrações do dia 8 de março, de hoje e de todos os anos futuros.
Cristina Pinho trabalhou por 31 anos na Petrobras, onde teve a oportunidade de passar por várias áreas operacionais da companhia, iniciando sua vida profissional no downstream e depois permanecendo a maior parte dela no upstream.
Após sua aposentadoria em janeiro de 2018 dedicou-se aos estudos de governança corporativa e transformação digital.
Atua como conselheira no Instituto Luisa Pinho Sartori e durante o ano de 2018 deu consultoria a empresas na sua estratégia de implantação de tecnologia digital.
Atualmente ocupa a posição de diretora-executiva corporativa do IBP, onde também participa do comitê de diversidade de gêneros do Instituto, onde junto com outras executivas da área de óleo e gás, temos um programa de mentoria para jovens gerentes mulheres ultrapassarem suas barreiras para se tornarem executivas da indústria.
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