Diálogos da Transição

Indústria solar dispensa subsídios, diz CEO global da Trina

Para Helena Li, “O principal desafio agora não é subsidiar a fábrica, mas sim tentar reduzir o subsídio no uso da eletricidade”

Indústria solar fotovoltaica dispensa subsídios e deve confiar no livre mercado, diz CEO global da gigante chinesa Trina Solar, Helena Li (Foto: Divulgação)
Helena Li, presidente global da chinesa Trina Solar (Foto: Divulgação)

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Editada por Gabriel Chiappini
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Para Helena Li, presidente global da gigante chinesa Trina Solar, que fabrica equipamentos fotovoltaicos, a indústria já é competitiva o suficiente para garantir o aumento da demanda globalmente, e não depende de subsídios nem para a instalação de fábricas, nem para o consumidor final da energia.

“O principal desafio agora não é subsidiar a fábrica, mas sim tentar reduzir o subsídio no uso da eletricidade, para que a economia de mercado desempenhe o seu papel, impulsionando a procura e a oferta”, diz a executiva, em entrevista à agência epbr.

Isto é, na avaliação da executiva, o mais importante para justificar investimentos por aqui é confiar na demanda e na cadeia de suprimentos.

“Se tiver mercado, e o cliente quiser que um produto seja feito aqui ao lado, nós estaremos lá (…) Depender de tarifas ou subsídios elevados, na cadeia de suprimentos da indústria ou da própria economia – independentemente do local onde estamos a construir –, não é sustentável”.

Por enquanto, a subsidiária Trina Tracker anunciou a instalação de uma fábrica de rastreadores solares em Salvador, na Bahia. Previsão é que entre em funcionamento ainda neste ano.

O Brasil, segundo a companhia, é o terceiro maior mercado depois da China e dos EUA – excluindo o bloco europeu.

O custo para produção de painéis aqui é maior, diz. “Se construirmos uma fábrica aqui, o custo da cadeia de suprimentos será definitivamente maior que na China”.

Mas se o mercado for abastecido localmente…”[Se] o governo estiver estudando como desenvolver a energia solar como uma indústria local, estaremos definitivamente interessados, como um dos primeiros players, em vir aqui e construir uma fábrica”, completa.

Aproveitamento dos recursos naturais

A executiva lembra que diversos países emergentes estão adotando políticas de industrialização – a exemplo do que o governo brasileiro vem defendendo – para aproveitar e beneficiar domesticamente seus recursos naturais, tais como os minerais críticos.

Hoje, grande parte da produção de equipamentos solares, bem como do processamento de minerais, está concentrada na China.

“Acho que deveríamos aproveitar melhor a capacidade ou os recursos de diferentes países, tentar cooperar, colaborar uns com os outros para trazer o melhor para todos os lados, em vez de um ganha e outro perde”.

Ela cita o exemplo da Indonésia, um dos principais mercados de níquel cerâmico, usado na fabricação de baterias para veículos elétricos (EV).

“Eles esperam não exportar níquel, mas construir fábricas de baterias, nas quais usarão seu suprimento de níquel (…) E vemos muitas empresas chinesas indo para lá para desenvolver conjuntamente o mercado de EV e fabricar o mercado lá”.

Ainda caras, as baterias são a próxima fronteira

Segundo Li, o desenvolvimento das tecnologias de baterias vai aumentar sua eficiência e competitividade frente a outras fontes. “Acreditamos que o armazenamento terá um crescimento de 200% a partir deste ano, no próximo ano”.

E hidrogênio verde na mira

Além de rastreadores, painéis e baterias, a Trina também está de olho no promissor mercado de hidrogênio verde, e já começou a produção de eletrolisadores – equipamento responsável por separar as moléculas de água.

O maior desafio não é a escalabilidade na produção dos eletrolisadores, mas sim a viabilidade financeira no transporte do hidrogênio verde, avalia a empresa.

O mundo olha para diferentes tipos de soluções de transporte que incluem a amônia, o hidrogênio liquefeito, e os corretores líquidos de hidrogênio (LOHC), além da distribuição via gasodutos dedicados, ou com mistura com gás natural.

“Acho que ampliar a fabricação do eletrolisador não é realmente a chave. A chave é como torná-lo economicamente viável (…) O transporte do hidrogênio verde é o principal custo geral da cadeia de abastecimento. Mas claro, se o consumo for local é muito mais fácil”, explica Li.

Assim como no armazenamento, a companhia olha no primeiro momento para os mercados da China e Europa e, posteriormente, países da América Latina, como Brasil, Argentina e Chile.

Alvaro García-Maltrás, vice-presidente para a América Latina da Trina Solar, cita o Chile e a Argentina como grandes fornecedores de lítio e o Brasil como um produtor de aço.

“Especificamente no lado mineral, gostaríamos de apoiar as empresas locais para encontrar algumas soluções vantajosas para todos que possam nos ajudar a usar esses minerais, mas talvez processá-los localmente, utilizando o aço brasileiro”, disse à agência epbr.

Gigantes adormecidos

Segundo o executivo, além do Brasil, há “alguns outros países que enfrentam situações políticas e econômicas muito difíceis, como Argentina, Peru, Equador, que os considero uma espécie de gigantes adormecidos”.

Maltrás destaca que a energia solar, em todos esses países, na matriz energética, ainda tem um peso muito baixo.

“Isso significa que o espaço para crescimento é enorme em todos esses mercados. Mesmo o Brasil, com toda a grande evolução que a tecnologia solar teve aqui, o peso na matriz energética é inferior a 5%”.

Dois terços do mercado solar da América Latina

Nossa esperança é que a partir do próximo ano o país continue seu crescimento. E isso significa que nossos investimentos são justificados. Acreditamos no longo prazo aqui. Trina estabeleceu uma presença forte aqui para ficar e crescer”, diz Maltrás.

Curtas

Consumidor americano vai seguir com carros a combustão

Em entrevista a repórter da epbr Gabriela Ruddy, o presidente do American Petroleum Institute (API), Mike Sommers, disse que mesmo diante do aumento de vendas de – e das políticas para – carros elétricos, muitos consumidores vão continuar a preferir os veículos com motores a combustão interna. (epbr)

Marco legal do CCS

A Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado Federal aprovou, nesta quarta (30/8), o projeto de lei que cria o marco legal da captura e armazenamento de carbono (CCS). O PL 1425/2022 pode seguir direto para a Câmara dos Deputados. Tramita de forma terminativa em comissões e faltava apenas o aval da CMA. (epbr)

Já o mercado de carbono…

O projeto negociado entre Ministério da Fazenda, CNI e presidente da comissão, senadora Leila Barros (PDT/DF) foi embarreirado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que se posicionou contra a votação, mas ainda não apresentou suas propostas.

5ª maior usina solar do Brasil entra em operação

A Mercury Renew, subsidiária da Comerc, anunciou a entrada em operação, nesta terça-feira (29/8), do complexo fotovoltaico Hélio Valgas, em Várzea da Palma, Minas Gerais. É a quinta maior usina de energia solar fotovoltaica do Brasil, com 662 MWp e a maior da empresa.

O investimento no complexo é de aproximadamente R$ 2 bilhões. A energia é destinada ao mercado livre.

Angra 3 no PAC

Tema que divide opiniões no setor elétrico brasileiro, a conclusão da usina nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis (RJ), ainda vai passar por uma análise do governo federal para possível inclusão em uma atualização no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – o anúncio, em agosto, deixou de fora a finalização do empreendimento. (epbr)