O ex-presidente Barack Obama, em discurso proferido em dezembro de 2014, na Casa Branca, avisava ao mundo de que, um vírus mortal que poderia vir pelo ar iria gerar uma Pandemia nunca vista em tempos modernos e, que todos os países do mundo precisavam criar uma infraestrutura global para combater tal ameaça em todas as frentes possíveis, inclusive salvaguardando as empresas, os empregos e a geração de renda pós a provável Pandemia.
Pois bem, o que está acontecendo no Brasil e no mundo, com as empresas fornecedoras de bens e serviços no setor de O&G e energia (em quase todos os outros), e com seus empregados:
A Bloomberg[1], em reportagem do dia 22/04/2020, como título: Jobs keep disappearing in US oil and gas industry, que segue anexado por link, pergunta em certa hora: “a 30% decimation?“
E conclui: “De repente, o petróleo e o gás se tornaram um hobby em que apenas as melhores empresas capitalizadas do setor poderão continuar se interessando”, disse Dan Eberhart, diretor executivo da empresa de serviços de campos de petróleo Canary Drilling Services, que demitiu cerca de 200 pessoas e implementou cortes salariais gerais. “Uma grande quantidade de empregos em petróleo e gás é fornecida por empresas de serviços de campos petrolíferos – e essas empresas são mais fracas que as empresas de petróleo e vão começar a desaparecer rapidamente”.
A BBC NEWS[2], em 28/04/2020, publica reportagem com o título: Coronavirus: ‘Thousands’ of North Sea oil and gas jobs under threat e sugere que “the UK’s oil and gas industry is warning that 30,000 jobs could be lost as a result of the coronavirus pandemic and the low oil price”.
Afirma e conclui que, em tradução livre: “se o Reino Unido quiser manter seu suprimento de energia doméstica, proteger empregos e construir a infraestrutura crítica necessária para fazer a transição para um futuro líquido zero, a nossa é uma indústria pela qual lutar”. O corpo Industrial delineou um plano em três etapas, que espera minimizar o impacto a longo prazo. Ele exige o atendimento das necessidades imediatas do setor, seguidas de sua recuperação industrial e, em seguida, uma transição acelerada para emissões líquidas zero de gases de efeito estufa.
A Midland Reporter-Telegram[3] no dia 24 de abril de 2020, reporta: 2,500 oil & gas workers in Texas lose their jobs in 10-day span.
Em tradução livre, diz: “as informações da Comissão de Força de Trabalho do Texas mostram que a indústria de petróleo e gás natural perdeu mais de 2.500 empregos nos últimos 10 dias, de acordo com um relatório do Houston Chronicle.
O relatório mostra que 13 empresas demitiram 2.525 pessoas. O setor de serviços, que inclui operadores de plataformas de perfuração, equipes de fraturamento hidráulico e manufatura, foi o mais atingido, segundo o Chronicle. O relatório culpa os baixos preços do petróleo e a pandemia de coronavírus que afeta a demanda por produtos e serviços. As demissões, de acordo com o artigo da Chronicle, incluíam:
- NexTier Oilfield Services, com sede em Houston – 1.041 funcionários trabalhando em sua sede, outro escritório em Houston e escritórios de campo na Bacia do Permiano e Eagle Ford Shale.
- Empresa de serviços de campo petrolífero Midland ProPetro Service – 584 demissões na Bacia do Permiano, onde as perdas agora totalizam 584 demissões.
- A empresa de serviços de campo petrolífero de Houston Baker Hughes – 184 empregos cortados após a fusão de operações em dois locais em Houston.
O relatório também afirma que a sílica dos EUA demitiu 105 pessoas em Midland; Black Mountain Sand, com sede em Fort Worth, demitindo 87; e Covia, com sede em Ohio, demitindo 82 pessoas.
A Wood Mackenzie[4] no dia 05 de maio de 2020, começa seu artigo afirmando: Cost challenges in a US$20/bbl world. E que “a new approach is needed to ensure supply sector resilience” o grifo em resiliência é meu, esta é a palavra-chave.
Continua seu artigo perguntando, em livre tradução: “Como US $ 20 / bbl afetará a cadeia de fornecimento de petróleo e gás?” Afirma que Vai ficar difícil, muito difícil.
A verdade é que o O Covid-19 já interrompeu a cadeia de suprimentos em todo mundo. A capacidade das empresas de serviços de fabricar e entregar equipamentos e fornecer pessoal aos locais da indústria está seriamente comprometida pelas restrições de viagens e movimentação de pessoas.
Ele afetou as finanças do setor de serviços. As margens das cinco principais empresas de serviços caíram em média 65% entre 2014 e 2019. As margens do EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para o setor em geral diminuíram perto de zero. Vejam quadro abaixo retirado da reportagem:
Finaliza o artigo dizendo, em livre tradução, que as National Oil Companies precisam ter uma visão estratégica de como lidar com o desafio de custo do petróleo de US $ 20 / bbl. Como operadora e “campeã nacional”, o articulista afirma que “muitas National Oil Companies podem moldar o setor de serviços, de maneira não aberta aos IOC. Existem oportunidades para alterar o modelo comercial com fornecedores individuais e trazer práticas de outros setores, como preços reais de livros abertos. Muitos National Oil Companies também poderiam atuar como um agregador de planos, fornecendo ao setor de serviços um perfil de demanda agregada.
Poderíamos seguir este conselho aqui no Brasil? Penso que sim, a Vale está fazendo algo similar agora, mesmo não sendo do setor de O&G, pode ser um bom exemplo.
Já a Rigzone[5] em artigo do dia 16 de abril de 2020, com o título: “Oil Collapse Drags the Whole Service Industry Down With It” (tradução livre, mas importante – O colapso do petróleo arrasta todo o setor de serviços com ele).
Descreve que, em tradução livre: “(Bloomberg) – Ninguém sente mais a dor de um colapso do petróleo do que os produtores de xisto. Exceto, talvez, seus fornecedores.” O grifo é meu. E continua: “Desde o início de 2019, o setor de serviços de campos petrolíferos perdeu quase 50.000 empregos, ou cerca de 13% de sua força de trabalho”.
O articulista durante todo o artigo, discorre sobre as agruras so setor, recomendo a leitura e termina citando outro consultor:
“When a pump breaks, I drag the truck off to the side and I go grab another one that was working last time I had it on a job, put it in line and run that till it breaks,” Richard Spears, an industry consultant who’s worked in and around the oil patch for decades, said on a recent Evercore ISI webinar”.
“You can do this incredible discounting as long as you’ve got idle equipment that was in good shape,” he said. “But eventually you burn through even all that.”
Finalizando o cenário internacional, senão fico nele por mais 20 páginas, cito artigo da NASDAQ[6] do dia 06 de maio de 2020, informa que:” Oilfield services firm Halliburton has laid off roughly 1,000 employees, or 22% of staff, at its corporate headquarters in Houston, a company spokeswoman said on Wednesday, as oil prices colapse”.
Os reflexos já vimos aqui em Macaé, onde a empresa também demitiu.
A reportagem traz ainda um parágrafo que sintetiza o mundo globalizado neste maior “acidente empresarial” (frase minha) que se tem notícia: “”These actions are difficult but necessary as we adjust our business to customers’ decreased activity,” said spokeswoman Emily Mir. She attributed the layoffs to the “unforeseeable, dramatic business downturn caused by the coronavirus and unprecedented commodity price decline.”
Fixando então esta análise no impacto que a crise está gerando nos fornecedores de bens e serviços associados a REDEPETRO BC, que soma mais de 90 empresas filiadas, vimos que a crise já afeta de alguma maneira a todas elas, mas principalmente, na falta de geração de caixa, influenciada pela seguinte equação:
- Petrobras reduz 200Mbpd diário de produção e hiberna 62 plataformas;
- Petrobras reduz significativamente o faturamento de grandes empresas contratadas, principalmente as empresas que executam manutenção nas plataformas;
- Petrobras reduz, também significativamente operações com pequenas e médias empresas em sua cadeia de prestação de serviços;
- As grandes empresas de manutenção de plataformas, são obrigadas a demitir um número alarmantes de colaboradores (veja tabela abaixo) e, também elas, reduzem significativamente seus volumes de negócios com pequenas e médias empresas;
- O home office tanto na Petrobras, quanto em todas as empresas da cadeia, também reduzem significativamente volumes de negócios, pensem por exemplo, nas pequenas e médias empresas de manutenção predial que, deixam de ter o que fazer;
- As pequenas e médias empresas, afetadas nas “duas pontas”, não conseguem lastro para honrar seus compromissos financeiros mais imediatos, como folha de pagamento por exemplo e, começam a também elas a demitir;
- Temos então, um “acidente empresarial” nunca experimentado gerado pela tempestade perfeita vinda do encontro do vírus com a atividade de exploração e produção de óleo e Gás.
Observem nos gráficos (figuras) abaixo, as várias nuances da crise, a partir de perguntas e respostas feitas aos empresários filiados à REDEPETRO BC, período de coleta de 25.03.20 a 14.04.20. 1
Figura 01: Perfil das empresas por nº de colaboradores (%).
Figura 02: Necessidade de esclarecimentos referente a contabilidade da empresa.
Figura 03: Necessidade de crédito após a crise do COVID-19.
Figura 04: Como estará sua empresa após a crise do COVID-19
Figura 05: Esclarecimentos de contas a pagar/receber.
Figura 06: Assuntos que irão impactar sua empresa com a Crise do Covid-19.
SÍNTESE
- 98% da amostra informaram ter sofrido impactos em virtude do cenário atual.
- 47% da amostra informaram que estão com suas atividades paradas e 53% foram muito atingido em suas atividades.
- 54% da amostra que sofreu impactos é de empresas com menos de 20 funcionários e 34% é de empresas entre 20 e 100 funcionários.
- Mais de 85% da amostra informou que recebeu comunicado dos clientes solicitando postergação de pagamento e 11% correm o risco de falência.
Continuando, segundo a EXAME2, mais de 30% das empresas de todos os setores já sentiram os impactos da pandemia de coronavírus sobre seus negócios em março de acordo com levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV). A instituição incluiu nas suas sondagens do mês tópicos especiais para pesquisar os efeitos da crise sobre empresas e consumidores.
Abaixo podemos observar os dados:
Setor | Mês | Impactos COVID-19 |
Indústria | Março | 43,0% |
Comércio | Março | 30,2% |
Serviços | Março | 35,0% |
Indústria | Próximos Meses | 68,3% |
Comércio | Próximos Meses | 59,1% |
Serviços | Próximos Meses | 49,7% |
Na indústria:
Industria | Mês | Impactos COVID-19 |
Petróleo e Biocombustíveis | Março | 83,3% |
Química | Março | 61,40% |
Máquinas e Materiais Elétricos | Março | 91,50% |
Petróleo e Biocombustíveis | Próximos Meses | 90,50% |
Limpeza e Perfumaria | Próximos Meses | 90,20% |
Informática e Eletrônicos | Próximos Meses | 89,40% |
Outros Setores | Próximos Meses | 50% |
No comércio:
Comércio | Mês | Impactos COVID-19 |
Veículos, Motos e Peças | Março | 46,40% |
Material para Construção | Março | 39,90% |
Tecidos, calçados e vestuário | Março | 37,20% |
Hiper e supermercados | Março | 18,80% |
Vestuário e calçados | Próximos Meses | 74,70% |
Veículos automotores | Próximos Meses | 71,60% |
Móveis e eletrodomésticos | Próximos Meses | 71,50% |
Nos serviços:
Serviços | Mês | Impactos COVID-19 |
Informação e comunicação | Março | 35,90% |
Serviços prestados às famílias | Março | 35,20% |
Transportes e Serviços Auxiliares a Transportes e Correios | Março | 34,00% |
Transporte | Próximos Meses | 62,90% |
Serviços prestados às famílias | Próximos Meses | 54,50% |
Já no setor de petróleo e gás, conforme já escrevi antes, a Petrobras cortou 200mbpd de sua produção, em no offshore águas rasas e onshore, afetando diretamente fornecedores de bens e serviços em Macaé, Sergipe / Alagoas e RGN, hibernado ao todo 62 unidades, mas já falei do tema anteriormente.
Mas fica a pergunta: O que se pode fazer de imediato para geração de caixa?
Temos visto uma enxurrada de webinar e Lives tratando do tema, aconselhando, tentando descobrir uma forma” mágica’ para gerar receita, algumas pistas ficaram claras para as pequenas e médias empresas, sem Ativos suficientes para ancorar empréstimos em instituições financeiras. A seguir, anoto 05 sugestões a partir de minhas observações, sem esgotar o tema, obviamente:
1 – A Mão do Estado:
- Negociar com bancos para que estes, sem exceção e sem burocracias, renegociem as dívidas das pequenas e médias empresa, principalmente. Postergando, dividindo, com a menor taxa possível, quiçá sem juros;
- Postergação de todos os tributos possíveis, renegociando prazos e sem multas ou juros;
- Força tarefa para “desbloquear” todas as obras possíveis de infraestrutura, estradas, ferrovias, barragens, casa populares, etc, sempre privilegiando conteúdo local;
2– Sistemas “S”: SEBRAE, SESI/FIRJAN, SENAC e SENAI, principalmente, disponibilizando cursos, Webinar, consultorias financeiras, apoio a empréstimos, etc. e principalmente a parceria SEBRAE / CEF para linhas de crédito às micro / pequenas / médias empresas;
3 – Reestruturação da produção e planejamento de curto e médio prazos:
- É preciso elaborar um plano de guerra, tático e operacional, gerando um plano de negócios crítico para este momento, com metas bem definidas e um plano de ação claro e com firmeza de propósito. Corte de gastos não necessários e, até mesmo, alguns necessários serão inevitáveis, então um desapego será fundamental e fator crítico de sucesso.
4 – Renegociação com fornecedores: o que for desproporcional entre o contratante e o contratado tem de ser revisado, para que desproporcionalidades não seja prejudicial para a pequena empresa;
5 – Força de trabalho: home office, férias aos empregados, usar o banco de horas, propor redução de jornada como redução de salário, etc. O governo federal publicou a Medida Provisória 927 fixando regras para a relação entre empresas e trabalhadores durante a pandemia do novo coronavírus, aprender sobre ela e usá-la em sua plenitude pode ser o diferencial entre a continuidade ou não das empresas.
Mais acima eu citei e grifei a palavra “resiliência” agora eu junto a esta a palavra esperança. Todos nós, líderes nas mais minúsculas células, como um núcleo familiar por exemplo, até os presidentes de grandes corporações, dos menores aos maiores países, precisam levar ESPERANÇA a todos que os seguem de alguma forma.
Em recente webinar da FGV, comandado pelo meu amigo Felipe Maciel da EPBR, 04 CEO de operadoras de petróleo independentes no país, perguntados se tinham intenção de desinvestir, hibernar, descomissionar ou ainda, não mais investir no país com aquisição de novos campos, os quatro foram taxativos: NÃO, viemos para ficar, para expandir e, esta crise vai passar.
Palavras como estas, trazem ESPERANÇA, então tenhamos resiliência, vamos sofre, aprender com a dor e nos adaptar, assim é o ser humano, aliás é isto que nos faz humanos e nos diferencia de bestas
[1] https://gulfnews.com/business/energy/jobs-keep-disappearing-in-us-oil-and-gas-industry-1.71088523
[2] https://www.bbc.com/news/uk-scotland-scotland-business-52446555
[3] https://www.mrt.com/business/oil/article/Report-2-500-oil-gas-workers-in-Texas-lose-15224420.php
[4] https://www.woodmac.com/news/the-edge/cost-challenges-in-a-us$20bbl-world/
[5] https://www.rigzone.com/news/wire/oil_collapse_drags_the_whole_service_industry_down_with_it-16-apr-2020-161788-article/
[6] https://www.nasdaq.com/articles/oilfield-firm-halliburton-cuts-22-of-hq-staff-as-oil-prices-crash-2020-05-06
[7] https://exame.abril.com.br/economia/mais-de-30-das-empresas-sentiram-impacto-de-coronavirus-em-marco-diz-fgv/
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