Dino e família Sarney disputam com nome de Lula eleição no Maranhão

Governador do PCdoB tem 43% das intenções de voto contra 34% da ex-governadora Roseana Sarney

Flávio Dino recebe o vice na campanha presidencial do PT, Fernando Haddad, e sua correligionária Manuela Dávila em São Luís / Foto: divulgação
Flávio Dino recebe o vice na campanha presidencial do PT, Fernando Haddad, e sua correligionária Manuela Dávila em São Luís / Foto: divulgação

Candidato à reeleição ao governo do Maranhão, o comunista Flávio Dino (PCdoB) tem o desafio de manter a oligárquica família Sarney distante do poder. Para isso, conta com a estratégia de unir sua popularidade à do ex-presidente Lula e tentar colar nos Sarneys o insucesso do governo de Michel Temer.

Líder na corrida ao Palácio dos Leões com 43% da preferência dos eleitores, segundo a pesquisa Ibope divulgada na última quinta, 23, Dino está nove pontos à frente da grande adversária, a ex-governadora Roseana Sarney, com 34%.

Mas, apesar da grave crise econômica dos últimos anos que impactou no balanço fiscal dos estados e na consequente popularidade dos governadores, segue melhor posicionado que Roseana também quando o assunto é rejeição. Dino é rejeitado por 30% dos eleitores na mesma sondagem. Roseana, que também governou o estado por quatro mandatos entre 1995 e 2014, conta com a rejeição de 41% dos entrevistados.

Aliança com PT não veio na eleição de 2014, mas manteve-se no impeachment de Dilma

Opositor de primeira hora do governo de Michel Temer (MDB), Dino manteve-se fiel a Dilma e ao PT ao longo dos últimos quatro anos. E mesmo durante todo o processo do impeachment, quando foi apontado como mentor da manobra do deputado Waldir Maranhão (PP/MA), então presidente interino da Câmara dos Deputados, no episódio em que o parlamentar anulou a sessão da Câmara onde o processo contra Dilma foi aprovado. Sob pressão de parlamentares da Câmara e do Senado e até de Gilmar Mendes, do STF, e da OAB, Maranhão revogou a própria decisão no mesmo dia.

Dino manteve-se fiel ao governo do PT mesmo depois de a direção nacional do partido impedir por duas vezes seguidas o apoio estadual às candidaturas do PCdoB em 2010 e 2014. Embora Dino tivesse integrado o governo Dilma como presidente da Embratur por três anos (2011-2014), o pragmatismo da eleição nacional impunha a decisão do Planalto de manutenção com o clã Sarney no Maranhão nas duas corridas.

Em 2014, o candidato do PCdoB saiu vitorioso na disputa com Lobão Filho (MDB) depois de formar uma chapa de 14 partidos, incluindo aí o PSDB de Aécio Neves, e foi eleito com 63,5% dos votos sobre 33,6% de Lobão Filho (MDB). Seu adversário tinha 19 legendas em sua base, entre elas o PT.

O desgaste da imagem do governador na aliança com o então impopular governo Dilma e a insistência na aproximação com o PT agora promete render frutos. Lula e a cúpula do partido veem em Dino hoje um aliado importante. E o insucesso do governo Temer faz da aliança com Lula o melhor caminho para o candidato na disputa estadual.

Roseana apoia “Lula livre”

A candidatura do ex-presidente petista é tão festejada no estado que mesmo Roseana Sarney (MDB) buscou aproximar-se de Lula. Em junho a candidata do MDB divulgou pelas redes sociais seu apoio à campanha “Lula livre”.

“Lula é meu amigo pessoal. Eu não abandono amigo, por mais difícil que seja a situação dele. Enquanto houver recurso possível na Justiça, estarei com ele nessa luta. E, no dia que não houver mais possibilidade de recurso, continuarei sendo amiga e grata por tudo o que ele fez pelo Maranhão”, disse a ex-governadora no Facebook como legenda de uma foto em que aparece abraçada a Lula. A postagem foi apagada posteriormente.

Na disputa pela imagem de Lula, Dino conseguiu uma vitória nos palanques no último fim de semana. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, vice na chapa presidencial do PT fez dois dias de agenda de campanha com o governador em São Luís e na cidade de Viana, na região metropolitana.

Dino aproveitou para reforçar sua identidade com o ex-presidente. ““Vocês estão aqui porque estão do lado da Justiça. A Justiça é maior que a injustiça, o bem vence o mal e é por isso que estou pedindo que vocês me ajudem, nós temos uma batalha no Maranhão”, afirmou o governador.

No dia seguinte, em entrevista a uma rádio local, acrescentou que Lula fez um grande trabalho no estado, citando os programas Pronaf, de amparo à agricultura familiar, o Bolsa Família e o Luz para Todos.

Governador condenado em 1ª instância a perder direitos políticos

Na liderança nas pesquisas de intenção de voto, o atual governador enfrentou mais um obstáculo, dessa vez com a Justiça. No começo de agosto foi condenado por Anelise Nogueira Reginato, juíza em Coroatá, por abuso de poder econômico, político e administrativo em caso ligado a obras de asfaltamento em setembro de 2016, às vésperas da eleição municipal em que um aliado de Dino derrotou a então prefeita Teresa Murad, concunhada de Roseana Sarney. Seu marido, Ricardo Murad (PRP) é irmão de Jorge Murad, casado com a ex-governadora.

Foi Teresa Murad quem recorreu aos tribunais contra o programa de asfaltamento. O caso agora está no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), mas, sem julgamento previsto, não terá impacto no pleito deste ano e só pode cassar os direitos políticos do governador para a eleição de 2022.

Lobão, ex-ministro de Minas e Energia de Lula e Dilma, lidera pro Senado; Sarney Filho, ex-ministro do Meio-Ambiente de Temer, está em segundo

Mas mesmo que derrote o clã Sarney e seus aliados na disputa pelo Palácrio dos Leões, Dino deve continuar convivendo com os adversários. A pesquisa Ibope para o Senado no Maranhão mostra que os Sarneys devem eleger os dois senadores do estado este ano. O ex-ministro de Minas e Energia de Lula e Dilma, Edson Lobão, lidera a disputa com 27% das intenções de voto.

Em segundo lugar aparece Sarney Filho (PV), com 26%. A primeira candidata do grupo político de Dino na disputa, Eliziane Gama (PPS), figura em terceiro na corrida, com 17% da preferência do eleitorado. O outro candidato da base de Dino, Weverton Rocha (PDT) tem 11% e fica atrás do tucano Zé Reinaldo, com 13%.

No Maranhão o PSDB não integrou nenhuma das duas principais coligações ao governo, preferindo lançar candidatura própria na figura do atual senador Roberto Rocha. Ele tem 3% da preferência do eleitorado e fica em terceiro na disputa, empatado com Maura Jorge (PSL), ex-deputada estadual por quatro mandatos e ex-prefeita de Lago da Pedra por dois.

Grupo político de Sarney manteve influência no Planalto, com ministros indicados em todos os governos desde Fernando Henrique

Sarney Filho foi ministro de Meio Ambiente na maior parte do governo de Michel Temer. Sua indicação atendeu interesse do pai, garantindo a influência de Sarney na política nacional mesmo 26 anos após o fim do seu governo, em janeiro de 1990. Mas deixou descontentes os representantes do agronegócio no Congresso. Sarney Filho deixou o ministério em abril deste ano em meio a duas polêmicas envolvendo a pasta: a tentativa de aprovação no final de 2017 da Lei Geral do Licenciamento Ambiental com a aberta oposição do Ibama, submetido ao MMA, e as dificuldades para licenciamento de projetos para prospecção de petróleo na foz do Amazonas envolvendo o mesmo órgão.

Pouco antes de deixar o governo, Zequinha Sarney, como também é conhecido, chegou a dizer que foi “pego de surpresa” em outra polêmica, o decreto presidencial de agosto de 2017 em que Temer extinguia a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) no Pará e Amapá. Dias depois, em meio à oposição de ambientalistas, o governo voltou atrás na medida.

Mas não só de indicações sobrevive a fama e a influência do ex-presidente Sarney em Brasília. Em janeiro ele também foi o responsável pelo veto do nome do deputado Pedro Fernandes (PTB/MA) para o posto de Ministro do Trabalho. Ex-aliado de Sarney, Fernandes transformou-se em desafeto depois de ter deixado as fileiras do grupo político do ex-presidente e debandado para a base do governador Flávio Dino.

Não foi o único a fazê-lo. André Fufuca (PP/MA), atual segundo vice-presidente da Câmara está tenta reeleição este ano na coligação de Dino. Gastão Vieira (PROS/MA), ex-ministro do Turismo no governo Dilma, deixou o MDB e também se aproximou de Dino, que esteve sob seu comando como presidente da Embratur por quase três anos entre meados de 2011 e março de 2014.

O Maranhão reúne alguns dos piores índices sociais entre os estados brasileiros. Em 2014 ficou em antepenúltimo entre dos 27 entes da federação na última comparação pelo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), com nota 0,678. Ficou à frente apenas de Alagoas (0,667) e do Pará (0,675). Mas garantiu o último lugar em longevidade, um dos três índices que compõem a IDH-M, com nota 0,750.

A pesquisa Ibope foi feita entre os dias 20 e 22 de agosto e registrada no TSE com o número BR-02085/2018. Foram ouvidas 1008 eleitores de todas as regiões do estado, com 16 anos ou mais. O nível de confiança é de 95%, com margem de erro de 3 pontos de percentuais para mais ou para menos.