Alternativas de financiamentos de longo prazo, típicos do setor de energia, devem se tornar mais atrativas em um cenário de juros baixos no Brasil, incluindo o interesse de investidores por debêntures de infraestrutura. Na visão de Marcelo Girão, head de Project Finance do Banco Itaú, há uma tendência de maior participação de bancos privados e do mercado de capitais no setor.
Marcelo Girão participou nesta terça (6) da terceira edição dos Diálogos da Transição, evento promovido pela epbr e pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), no Rio de Janeiro.
“A ausência de subsídio e juros baixos a longo prazo propiciam que outros atores possam ser os financiadores desses projetos. Notadamente o mercado de capitais, cada vez mais ativo com as debêntures de infraestrutura”, afirmou Marcelo Girão.
Além da recente redução na Selic para 6%, ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça (6), reforça a indicação que a continuidade da agenda de reformas esperada pelo mercado, em especial a da Previdência e a Tributária, deve sustentar uma trajetória de queda na taxa básica de juros.
Sobre subsídios, Girão destacou que além de o BNDES ter reduzido o seu patamar de empréstimos — tendência que deve se manter na nova administração do banco –, a prática de juros mais próximos aos encontrados entre os bancos comerciais colabora para a tendência de crescimento de novas estratégias de financiamento.
“Sabendo que o tamanho do BNDES hoje é um terço do que foi no auge, não tem jeito, vamos ter que buscar outras fontes de financiamento e os bancos comerciais vão continuar tendo um papel super relevante nesse contexto”, destacou Girão.
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Green bonds
Na visão do executivo, ainda é cedo para apostar no crescimento do mercado de green bonds no Brasil. Esse tipo de emissão de dívida vem crescendo no exterior como uma forma de atrair fundos interessados em associar seus investimentos à projetos com benefícios socioambientais bem estabelecidos.
Em linhas gerais, a emissões de green bonds são feitas por meio da qualificação de projetos com benefícios ambientais mensuráveis, como a redução de impacto sobre o aquecimento global. Incentivos e a própria demanda por esse tipo de título tem potencial para reduzir o custo do financiamento para as empresas.
Marcelo Girão acredita que no Brasil os green bonds tem um cenário favorável, mas antes dessa modalidade ganhar tração, o mercado de capital do país precisa crescer para justificar o desenvolvimento de novas soluções.
“O mercado brasileiro tem que crescer um pouco mais, se desenvolver. A gente ter um mercado de capitais ainda pequeno e, para financiar projetos de infraestrutura, menor ainda”, afirmou Girão, lembrando que do estoque de debêntures de infraestrutura ainda há uma boa parte relacionado ao financiamento corporativo das empresas, sem risco de projetos.
“Ano passado foi o recorde de emissões de debentures de infraestrutura. O BNDES desembolsou R$ 50 bilhões e debêntures de infraestrutura [foram] R$ 24 bilhões”, exemplificou o executivo.
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As edições de 2019 dos Diálogos da Transição contam com patrocínio da CDGN, do Itaú e da Shell e apoio institucional do WeWork, que sedia os eventos, no Rio de Janeiro.