Diálogos da Transição

Brasil está em momento chave para financiamento climático, avalia CBC

Presidência do G20, COP30 e eleições nos EUA fazem de 2024 um ano crítico para fechar parcerias na área ambiental e energética

Brasil está em momento chave para financiamento climático, avalia CBC (Foto: Rubens Gallerani Filho/PR)
Comunidade ribeirinha da Ilha do Combu, em Belém (PA). Capital paraense sediará COP30 em 2025
(Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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Editada por Nayara Machado
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Como presidente do G20 este ano e sede da 30ª Conferência Climática das Nações Unidas (COP30) no próximo, o Brasil precisa aproveitar as oportunidades diplomáticas para atrair os parceiros que vão financiar sua transição – e 2024 é um período chave – avalia Guilherme Syrkis, diretor executivo do Centro Brasil no Clima (CBC).

Em 2023, o Brasil foi o sexto mercado que mais recebeu investimentos em transição energética, com quase US$ 35 bilhões aplicados, de acordo com dados da BloombergNEF, mostrando o apetite de empresas por desenvolver negócios no país.

Eólica, solar, biocombustíveis, hidrogênio de baixo carbono e minerais críticos são algumas soluções de descarbonização que o colocam na rota do capital internacional.

Mas o custo de desenvolver esses projetos aqui é alto e depende de uma combinação de ambiente regulatório favorável e financiamento.

Enquanto governo e Congresso tentam se alinhar e avançar com marcos legais para criar esse ambiente, um novo desafio vai despontando no horizonte: as eleições dos Estados Unidos.

Governos Lula e Biden se aproximaram até então na agenda ambiental, mas um eventual retorno de Donald Trump à presidência dos EUA pode trazer turbulências nesta área.

“O Trump tem pontuado de uma forma bem considerável em relação ao Biden, o que é uma preocupação muito grande, se ele entra de novo, vai ser um balde de água fria para todos os esforços que estão sendo feitos nos últimos anos [na pauta ambiental]”, comenta Syrkis, em entrevista à agência epbr.

“Já vimos, por exemplo, alguns fundos de investimentos nos Estados Unidos que estavam em coalizões importantes relacionadas ao clima, dizendo que não iam mais investir em combustíveis fósseis, agora saindo dessas coalizões como um aceno para a campanha dos Republicanos. Então eu tenho defendido que o momento é agora para o Brasil”, completa.

No final de fevereiro, JPMorgan Chase, BlackRock, State Street e Pimco abandonaram ou reduziram seu envolvimento com a Climate Action 100+, a maior iniciativa de grupos de investimento e grandes empresas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Vale lembrar também que, em 2017, quando assumiu a presidência dos EUA, Trump cumpriu uma promessa de campanha e retirou o país do Acordo de Paris, o que atrasou discussões diplomáticas relacionadas ao clima.

Para Syrkis, uma possível volta de Donald Trump à presidência dos EUA e os impactos da invasão da Ucrânia e da guerra, em Gaza, podem aumentar a volatilidade e vulnerabilidade relacionadas ao financiamento climático global.

“O Brasil precisa conseguir articular muito bem essa mobilização de recursos. É uma oportunidade única que a gente está vivendo. Rapidamente pode mudar o clima. Se o Trump é eleito, acredito até que o próprio clima aqui no Brasil vai se alterar bastante. As pautas [ambientais] têm sido um grande desafio no Congresso Nacional”.

Aplicação do Fundo Clima

Um dos mecanismos utilizados para captar recursos internacionais e financiar iniciativas sustentáveis é o Fundo Clima, sob a gestão do BNDES, com R$ 10,4 bilhões disponíveis.

Os recursos financiarão projetos elencados como prioritários em seis áreas: desenvolvimento urbano resiliente e sustentável; indústria verde; logística, transporte coletivo e mobilidade verde; transição energética; florestas nativas e recursos hídricos; e serviços e inovação verdes.

Além de doações internacionais, o fundo também é composto pela captação de US$ 2 bilhões no exterior com títulos soberanos sustentáveis lançados pelo Ministério da Fazenda.

Na visão de Syrkis, a implementação do fundo é uma oportunidade de mostrar que vale a pena apostar no Brasil e na Amazônia – sede da COP30.

“O Fundo Clima conseguiu captar R$ 10 bilhões, que é um valor bastante expressivo pelo histórico dele. Agora é o momento de implementar. Tem que implementar com bastante compliance e transparência. Fazer a coisa acontecer, porque é um desafio muito grande para o Brasil provar que realmente consegue gastar esses recursos de uma forma eficiente e transparente para dar segurança aos investidores internacionais”, defende o diretor do CBC.

Em tempo: a assinatura do contrato de execução do fundo ocorreu no final da tarde desta segunda (1/4), entre a ministra Marina Silva (Rede) e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Desafio das eólicas offshore

Os projetos de eólicas offshore estão entre as novas energias que o mercado internacional aponta como promissoras no Brasil, mas o país deve aprender com os desafios enfrentados pelos empreendimentos no mundo, como cancelamentos e atrasos de projetos, e o fracasso de leilões, avalia o CEO global da Corio Generation, Jonathan Cole. Leia na epbr

Novos projetos

De olho no potencial em terra, a norueguesa Scatec inaugura, na próxima semana (9/4), seu segundo parque fotovoltaico no Brasil e já estuda novos projetos que podem acrescentar 2 gigawatts ao seu portfólio no país nos próximos três anos. Os negócios estão em diferentes estágios de avaliação e amadurecimento – podendo se concretizar ou não – e englobam tanto geração solar, como eólica.

Estado de desastre

Malawi, Zimbábue e Zâmbia estão entre os países africanos que declararam ‘estado de desastre’ após a grave seca que acompanhou o El Niño destruir suas colheitas. Na Zâmbia, 45% das áreas plantadas foram perdidas, com o custo do milho disparando 76% desde fevereiro de 2023. As secas recorrentes no Malawi afetaram 44% das colheitas de milho. As perdas anuais do PIB relacionadas a desastres climáticos já chegam a 1,7%.

Formação eólica

EDP Renováveis e Vestas abriram inscrições para o Programa Keep it Local, iniciativa que oferece bolsas de estudos no Rio Grande do Norte para formação profissional para operação em parques eólicos. Objetivo é ampliar as oportunidades de emprego aos moradores de zonas de baixa densidade populacional. São 56 vagas distribuídas entre os municípios de Jandaíra, Guamaré e comunidades do entorno.

O curso será ministrado entre os dias 15 de abril e 19 de junho pelo Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) do Senai do Rio Grande do Norte. Confira o edital

Bionegócios

O Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA) disponibilizou a primeira parte do portfólio de projetos e soluções que estão aptos a receber investimentos estabelecidos pela Lei de PD&I. São oito iniciativas envolvendo pesquisas que já estão em desenvolvimento no CBA. O valor dos projetos varia de R$ 1,5 milhão a R$ 4 milhões.