Abicom tenta mudar acordo da Petrobras com o Cade

Associação de importadores vê contradição no TCC que visa ampliar concorrência no mercado de refino mas não propõe medidas para ampliá-la na comercialização

Pedido de criação de CPI para investigar cartéis na venda de combustíveis foi feito há dois anos
Pedido de criação de CPI para investigar cartéis na venda de combustíveis foi feito há dois anos

Por Felipe Maciel e Guilherme Serodio

A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) protocolou nesta segunda-feira, 24, embargos de declaração no Cade contra o Termo de Compromisso de Cessão (TCC) celebrado entre o conselho de defesa econômica e a Petrobras em 11 de junho. A Abicom denuncia conduta de exercício abusivo de concorrência pela Petrobras no mercado de comercialização de combustíveis.

Segundo a Abicom, “há evidências estatísticas e econométricas relevantes que indicam que a Petrobras pratica preços abaixo da paridade internacional nesse mercado, nos polos onde existe pressão competitiva dos importadores”. A associação defende que dado o contexto de concorrência do setor, a prática de preços abaixo da paridade internacional pode ser caracterizada como abuso de poder de mercado, significando na predação da concorrência.

Para a associação, o TCC firmado pelo Cade deixou de analisar consequências ao setor de comercialização de combustíveis como um todo. A Abicom afirma que “não há nenhuma medida aprovada no TCC que seja apta a mitigar” os danos à concorrência denunciados pela associação em um pedido de representação (PP) feito em 2018.

A Abicom vê uma “contradição evidente” entre a homologação do TCC na plenária do Cade e as disposições do próprio TCC que visam ampliar a concorrência no mercado de refino sem tomar nenhuma medida efetiva para ampliar a concorrência no mercado de comercialização. A associação de importadores diz ainda que “o preço praticado pela Petrobras inviabiliza economicamente as importações e, no médio prazo, resulta na saída dos únicos concorrentes do mercado”, os importadores.

Para o presidente da Abicom, Sérgio Araújo, o acordo firmado no TCC pelo Cade e Petrobras impõe “falta de segurança e transparência para atrair investimentos” ao setor e pode retirar os importadores do mercado de comercialização.

“O Cade não pode arquivar o processo da ABICOM, nem o Inquérito instaurado pelo seu presidente, com base no estudo realizado pelo Departamento de Estudos Econômicos do Cade e técnicos da Superintendência de Defesa da Concorrência da ANP”, critica Araújo.

Agora a Abicom aguarda um posicionamento do Cade e se diz confiante de que o órgão de defesa da concorrência tome providências para ajustar o TCC, cobrando compromisso à Petrobras de não praticar preços predatórios para deslocar a concorrência.

Os embargos protocolados pela Abicom pedem que o plenário do Cade se manifeste sobre qual é a medida que irá garantir a competição no mercado de comercialização de combustíveis, ou que esclareça, ao menos, quem pode prosseguir com as investigações referentes ao pedido de representação da associação contra a Petrobras.