Acesso à rede

Velocidade do sistema elétrico para absorver data centers é crucial para atrair investimentos, diz A&M Infra

Recentes negações de pareceres de acesso à rede geram insegurança jurídica

IA e energia para data centers: o modelo da DeepSeek pode mudar mercado global? (Foto kewl/Pixabay)
Novo modelo de IA produzido pela startup chinesa DeepSeek promete ser mais barato e consumir menos energia | Foto kewl/Pixabay

A capacidade do sistema elétrico brasileiro de absorver com rapidez as grandes cargas que os data centers podem trazer para o país vai ser uma medida estruturante para a atração desses investimentos, aponta o diretor sênior da A&M Infra, Juan Landeira.  

Nesse contexto, as recentes negações de pareceres de acesso à rede geram insegurança jurídica, afirma o especialista.

“A velocidade com que a gente consegue analisar e programar os investimentos de reforço no Sistema Interligado Nacional para absorver essas grandes cargas é um tema super estruturante que faz toda a diferença, sobretudo quando se está disputando cargas para treinamento de máquinas de inteligência artificial”, diz Landeira. 

O governo federal está concluindo um projeto para criar um regime especial para os data centers. A proposta, batizada como Redata, prevê a desoneração de investimentos, de modo a fomentar a cadeia desse setor no país, incluindo o consumo de energia renovável, já que o segmento tem um consumo intensivo de eletricidade. 

A expectativa é atrair até R$ 2 trilhões em investimentos. O lançamento do programa deve ocorrer durante a visita do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aos Estados Unidos para conversar com potenciais investidores, que está ocorrendo esta semana.

Segundo Landeira, as medidas em debate são estruturantes e podem ajudar a atrair novos investidores, sobretudo se endereçarem questões como a isenção de impostos para a compra de equipamentos e formação de mão de obra especializada. 

Entretanto, ele lembra que a disputa pela atração dos data centers é global. Por isso, o Brasil precisa focar em medidas estruturantes para garantir a atratividade — entre elas, a garantia de acesso rápido à rede elétrica. 

“Esse é um tema que traz arrepios para os investidores”, afirma. 

Recentemente, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) barrou o acesso à rede elétrica de projetos de hidrogênio verde, que também são intensivos em demanda energética. 

Emprendimentos da Solatio, Casa dos Ventos e Fortescue estão tendo dificuldades em avançar devido à limitações na infraestrutura elétrica do país.

Localização pode contribuir para reduzir o curtailment

O diretor da A&M Infra ressalta que os data centers podem ajudar a endereçar problemas de infraestrutura, como os cortes de geração (curtailment), desde que essa carga seja acrescentada nos lugares adequados, próximos à geração. 

Nesse sentido, ele destaca o potencial de criação de hubs, sobretudo fora do Sudeste, onde a capacidade das subestações e linhas de transmissão para suportar essa nova demanda está mais próxima ao limite. 

Hoje, os projetos existentes de data centers no país estão concentrados na região de São Paulo, longe do principal centro de geração de energia renovável, que está no Nordeste. Isso pressiona o sistema e contribui para o curtailment. 

A A&M acredita que serão raros novos pareceres de acesso para grandes cargas na região de São Paulo pelo menos até 2028. 

A consultoria vê potencial para atração desses projetos de agora em diante especialmente na região Sul e no estado do Ceará.

Um estímulo pontual para ajudar a atrair esses investimentos para essas regiões seria a isenção de ICMS, por exemplo. 

A energia elétrica pode representar até 60% dos custos dos data centers, por isso, o preço da eletricidade é um tema muito sensível na modelagem desses empreendimentos. Vale ressaltar que o Redata não trata de impostos estaduais, portanto, eventuais medidas nesse sentido vão precisar partir dos governos estaduais. 

Ainda no tema do custo da energia, Landeira acredita que as medidas propostas pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para a reforma do setor elétrico não devem ter um impacto significativo nesses projetos, mesmo com as alterações previstas para o modelo de autoprodução de energia. 

Até o momento, a contratação de energia no modelo de autoprodução tem sido uma das saídas encontradas pelos data centers já instalados no país para economizar nas tarifas de energia elétrica no Brasil.

“A autoprodução melhora o resultado, mas não necessariamente inviabiliza o investimento no data center”, diz Landeira. 

Por outro lado, um fator que o país precisa cuidar para garantir esses investimentos é a continuidade do alto índice de renováveis na matriz elétrica.

“Ter energia limpa hoje não é nem mais um fator diferencial, é um fator excludente”, afirma. 

Quem está de olho no setor 

Segundo Landeira, a movimentação do Brasil para a atração dos data centers tem atraído a atenção de investidores de capital intensivo, como fundos soberanos e de private equity. 

Além disso, investidores que já têm projetos de data centers no país também estão interessados no movimento, o que gera perspectivas de mudanças no controle dos ativos já existentes. 

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