Energia

Emissões de termelétricas caem 65% com menor geração em 2022, mostra estudo

A redução foi causada pelo menor acionamento das usinas graças às condições climáticas favoráveis, segundo levantamento do IEMA

Emissões de GEE em termelétricas caem 65% com menor geração em 2022, mostra estudo do Iema. Na imagem: Vista das instalações da termelétrica a carvão mineral Candiota III (RS), com capacidade instalada de 350 MW (Foto: Divulgação CGT Eletrosul)
Termelétrica a carvão mineral Candiota III (RS), com capacidade instalada de 350 MW (Foto: Divulgação CGT Eletrosul)

As emissões de CO2 das termelétricas brasileiras caíram 65% em 2022, de acordo com o 3º Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas, lançado nesta quinta-feira (19/10), pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). De 55 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), em 2021, para 19,5 milhões de tCO2e, em 2022.

A redução foi causada pelo menor acionamento das usinas graças às condições climáticas favoráveis. Com reservatórios hidrelétricos cheios e maior geração solar e eólica, houve recorde de geração de energia renovável no ano passado.

O crescimento da geração renovável foi suficiente para suprir o aumento de 3% na demanda nacional por energia elétrica.

“Ano passado, a geração eólica ultrapassou pela primeira vez a geração termelétrica fóssil e a geração solar teve um aumento de 80% em comparação ao ano de 2021”, disse Raissa Gomes, uma das autoras da pesquisa.

A queda nas emissões das termelétricas foi praticamente equivalente à redução na geração das usinas. As usinas consideradas no estudo produziram 31,1 TWh em 2022. Em 2021, esse valor foi de 95,7 TWh, ou seja, houve uma diminuição de 67%.

Veja os principais dados do estudo:

  • As 72 usinas termelétricas fósseis conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) emitiram 19,5 milhões de tCO2e em 2022;
  • É uma queda de 65% em relação às 55 milhões de tCO2e em 2021;
  • A redução nas emissões é atribuída a condições climáticas favoráveis e ao crescimento de fontes renováveis, como energia eólica e solar;
  • Esses fatores reduziram o acionamento das térmicas fósseis ao longo do ano;
  • A geração termelétrica fóssil caiu de 95,7 TWh em 2021 para 31,1 TWh em 2022, uma redução de 67%;
  • A geração eólica ultrapassou a geração termelétrica fóssil pela primeira vez, e a geração solar aumentou 80% em comparação com 2021;
  • Com isso, a taxa de emissão global do SIN caiu de 92 tCO2e/GWh em 2021 para 32 tCO2e/GWh em 2022 – redução de 65%;
  • Apesar da redução nas emissões em 2022, a tendência é de aumento de emissões por usinas fósseis no médio prazo, segundo o Iema.

Veja a íntegra do levantamento do Iema sobre as emissões das termelétricas.

Emissões por fonte e empresa

As quatro usinas que mais emitiram gases de efeito estufa (GEE) em 2022 foram movidas a carvão mineral e estão localizadas no Sul do país. O destaque vai para Candiota III (RS) que, apesar de ter sido a quinta maior geradora em 2022, foi a maior emissora, responsável por 12% das emissões de todo o parque termelétrico estudado. A usina foi vendida recentemente pela Eletrobras, para a Âmbar Energia.

O subsistema Sul foi o maior emissor de GEE, com 40% do total de emissões. Capivari de Baixo (SC) e Candiota (RS) foram os municípios mais emissores.

Quatro empresas foram responsáveis por quase 75% das emissões: Petrobras (22%), Eletrobras (21%), Fram Capital Energy (20%) e Eneva (11%).

A Engie liderou as emissões por eletricidade gerada em 2022. A empresa, no entanto, se tornou 100% renovável com a venda da térmica Pampa Sul em maio (veja a nota da empresa no fim da matéria). A Petrobras teve a menor taxa de emissão. Segundo o estudo, o motivo é a eficiência das tecnologias das termelétricas da estatal.

“Usinas mais eficientes queimam menos combustível e, consequentemente, emitem menos gases de efeito estufa por gigawatt-hora (GWh) produzido. Além da tecnologia de conversão energética (ciclo de potência), a eficiência de uma usina também é afetada pelas condições de manutenção e pela sua idade”, explica André Luis Ferreira, diretor-executivo do Iema.

O que dizem as empresas

A Eletrobras afirmou em nota que, em 7 de setembro, concluiu a assinatura de contrato para a venda do complexo termoelétrico de Candiota para o grupo Âmbar Energia S.A.

“A iniciativa está em linha com o plano estratégico da companhia, que visa a simplificação da estrutura, a redução de passivos e a busca pela redução de emissões de CO2 e meta net zero em 2030”, informou.

A Eneva afirmou que as térmicas têm o objetivo de garantir a segurança e estabilidade ao sistema elétrico nacional. Veja a íntegra da nota:

“As termelétricas operadas pela Eneva têm como objetivo conferir segurança e estabilidade ao sistema elétrico nacional, quando são acionadas a despachar pelo ONS. Vale destacar que, entre todas as alternativas de produção de energia a partir de combustíveis fósseis, o gás natural é a que menos emite gases de efeito estufa.

A Eneva investiu R$ 2,1 bilhões em projetos que aumentarão a eficiência energética do parque gerador, com a conclusão da usina Parnaíba V e o início de construção de Parnaíba VI, no Complexo Parnaíba, no Maranhão. Os empreendimentos são fechamentos de ciclo, ampliando em 478 MW a potência do Complexo Parnaíba sem necessidade de consumir mais gás natural e, portanto, sem impacto em emissões.

A operação das usinas cumpre um importante papel de atender à necessidade de energia elétrica quando outras fontes intermitentes (eólica ou solar, por exemplo) não estão disponíveis ou quando o sistema necessita de reforça na geração, sempre buscando a maior eficiência energética possível. Assim, a Eneva se consolida como importante player de geração de energia no intrincado trilema que envolve segurança no suprimento, sustentabilidade e acessibilidade.

A companhia ressalta ainda que sempre presta todas as informações sobre suas emissões aos órgãos interessados, inclusive ao IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente), entidade com o qual tem uma relação próxima e transparente.”

A Engie afirmou, em nota, que vendeu a termelétrica Pampa Sul este ano, se tornando 100% renovável. E que a eficiência da usina, enquanto era operadora, era superior a 35,55% Veja a íntegra:

“A ENGIE Brasil Energia informa que concluiu a venda da UTE Pampa Sul em maio de 2023, cumprindo com sua estratégia global de descarbonização e consolidando sua posição como geradora de energia 100% renovável.  A Companhia realiza um controle rigoroso das suas emissões desde 2010, avaliando a pegada de carbono de suas atividades e implementando ações de mitigação e adaptação para reduzi-la. O Inventário Corporativo de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) é elaborado a partir dos conceitos, princípios e diretrizes estabelecidos pela metodologia GHG Protocol, divulgados pelo Programa Brasileiro GHG Protocol (PBGHGP), utilizando as suas especificações para contabilização, quantificação e publicação de Inventários Corporativos de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Também são utilizadas equações fornecidas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) para cálculo das emissões de determinadas fontes e sumidouros.

Não temos conhecimento da metodologia da pesquisa referenciada, entretanto, a Companhia esclarece que a eficiência energética da Usina Termelétrica Pampa Sul, durante o período em que operou a planta, foi superior a 35,55% em 2022, com uma intensidade de emissão relacionada ao consumo de carvão de 1,03 tCO2/MWh, os quais não coincidem com o valor citado na referida pesquisa.

A Companhia reitera ainda seu máximo compromisso com uma transição energética justa o que vem se concretizando por meio de investimentos, nos últimos 5 anos, da ordem de mais de R$ 16 bilhões em expansão do seu parque gerador renovável e de suas ações socioambientais em todo território brasileiro.”