Cortes de geração

Sinal locacional deve ser levado em conta na instalação de data centers, afirma CEO da Engie Brasil

Medida incentivaria implantação de data centers próximos à geração

Venda parcial da TAG pretende ampliar foco em energia renovável e transmissão de energia, diz Engie. Na imagem: CEO da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini (Foto: Fernando Willladino/Fiesc)
Eduardo Sattamini (Foto: Fernando Willladino/Fiesc)

BRASÍLIA — O CEO da Engie Brasil, Eduardo Sattamini, defendeu que os sinais locacionais sejam levados em conta durante a implementação de projetos de data centers.

A fala ocorreu durante a abertura do Engie Day, evento promovido pela empresa no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (23/6).

O sinal locacional é um incentivo à implantação da demanda de energia próxima à geração, para evitar maiores custos de transmissão e indisponibilidade de redes. Esse sinal tem um reflexo nas tarifas de uso dos sistemas de transmissão. Quanto maior a distância entre as usinas e o empreendimento, maior a taxa.

O governo prepara uma medida provisória para incentivar a implementação de data centers no Brasil e aproveitar o potencial das fontes eólica e solar.

O estímulo ao consumo, a exemplo de setores como data centers, é uma saída para a sobreoferta de energia elétrica, na visão do executivo.

Segundo Sattamini, a medida poderia ser importante para mitigar os prejuízos causados pelos cortes de geração (curtailment), mas ele defendeu que é necessário levar em conta as localidades onde há melhor infraestrutura de transmissão.

“Acreditamos que devemos promover o crescimento econômico, promover a demanda através de outros mecanismos de incentivo a indústrias eletrointensivas e, com isso, fazer com que o nosso setor se equilibre entre oferta e demanda, tenha sinais de preços mais adequados, para que as decisões de investimento sejam cada vez mais racionais”, disse.

O CEO exaltou os 85% de fontes renováveis do Brasil no setor elétrico, o que consolida o país como um dos mais avançados na transição energética.

Mesmo assim, os cortes de geração são vistos como um problema a ser combatido.

“O incentivo da demanda é primordial, principalmente na experiência que a gente tem tido com a sobreoferta na região do Nordeste. É uma necessidade premente que novas cargas sejam atreladas ao sistema, para que a gente não tenha um problema crítico, que é o problema do curtailment da sobreoferta”, afirmou.

No mesmo evento, a superintendente de Transição Energética e Clima do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carla Primavera, defendeu a definição de regras para os cortes de geração, para que os investimentos em energia sejam precificados de forma correta.

Ela entende que a decisão deve ser debatida em conjunto pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

“Que o regulador ofereça a metodologia de como a gente vai tratar esse risco daqui para frente, para a gente ter visibilidade de tempo e visibilidade de como mitigá-lo”, afirmou.

Para a superintendente, as normas relacionadas ao curtailment também deverão exercer influência na formatação das linhas de transmissão futuramente necessárias.

“Essa discussão está intrinsecamente ligada aos investimentos do futuro, à decisão de investimento num momento de sobreoferta. Revisitar o planejamento de transmissão faz com que a gente tenha mais ferramentas para assegurar que o nosso país vai continuar atraindo investimento de escala e não um investimento de varejo”, concluiu.

Taxa de juros é entrave

O sócio do BTG Pactual Vittorio Perona apontou o alto custo de capital do Brasil como um problema para o desenvolvimento do setor elétrico.

Segundo Perona, o país poderia construir entre 50 gigawatts (GW) e 70 GW de usinas eólicas com fator de capacidade acima de 50%, o que seria capaz de consolidar ainda mais a posição de protagonista na transição energética.

“O potencial do Brasil em termos de ser um grande fornecedor de produtos limpos, então processamento de dados, aço, alumínio, alumínio, é absolutamente gigantesco”, disse.

A solução, no entendimento do sócio do BTG, passa por diminuir a percepção de risco que o mercado financeiro tem, com a melhoria nas contas públicas.

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