O presidente do conselho da Raízen, Rubens Ometto, afirmou nesta sexta (16) que a empresa, do setor de combustíveis e energia, está na vanguarda de um esforço para mudar a opinião sobre as políticas ambientais do Brasil. Para o executivo, o país deve montar um programa de marketing para sair da defensiva na questão ambiental.
“Você vê uma campanha mundial, de países europeus, [como a] França etc., querendo preparar armadilhas para o nosso país. Nós temos a matriz energética mais limpa do mundo, temos o maior absorvedor de CO2 do mundo, o maior produtor de oxigênio, que é a Amazônia”, disse Ometto em evento com Jair Bolsonaro (sem partido) e ministros para inauguração de uma usina de geração de energia a biogás da Raízen, em São Paulo.
A França tem sido a origem das principais ofensivas contra a assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. A piora em indicadores ambientais nesses quase dois anos de governo Bolsonaro – aumento das queimadas e do desmatamento, por exemplo – serve como palco para pressão do setor agropecuário francês, contrário a maior abertura comercial para o Brasil e seus pares no Mercosul.
Nesta quinta-feira (15), em debate com deputados brasileiros, o presidente do Comitê de Comércio do Parlamento Europeu, o alemão Bernd Lange, afirmou que a Europa só deve assinar o acordo com o Mercosul se houver compromisso das partes com o desenvolvimento sustentável e frisou que é necessário garantir que a carne e o etanol a serem exportados para o mercado europeu não venham de áreas desmatadas ou queimadas.
O equilíbrio climático e a capacidade de contar emissões de CO2 é, inclusive, um dos argumentos dos ambientalistas do por que é importante conter os crimes ambientais na Amazônia.
Bolsonaro reforçou que seu governo mudou a política de fiscalização ambiental e pediu que a plateia relembrasse “como o Ibama e ICMBio tratavam vocês e como esse tratamento hoje em dia é dispensado”. O evento ocorreu em Guariba, cidade na região metropolitana de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Em diversas ocasiões, Bolsonaro já afirmou, por exemplo, que o Ibama não deve queimar veículos e equipamentos utilizados em crimes ambientais, como a derrubada de árvores e o garimpo em terras protegidas. A destruição dos equipamentos está prevista na legislação ambiental, dada a dificuldade de apreensão.
“Nenhuma reserva foi demarcada até o momento e temos um projeto para permitir que a população indígena possa explorar seu território”, disse Bolsonaro em referência ao projeto de lei que visa permitir a exploração mineral em terras indígenas como exemplo da postura independente de seu governo.
O texto, enviado pelo governo ao Congresso em fevereiro, é um projeto nascido no Ministério de Minas e Energia, que já o apresentou a representantes de países europeus no começo do ano.
Geração de energia com biogás
A usina inaugurada nesta sexta (16) utiliza subprodutos do processamento da cana-de-açúcar como biomassa para produção de biogás e, no fim, geração de energia elétrica.
É um projeto da Raízen Geo Biogás, sociedade entre Raízen (85%) e Geo Energética (15%), de Alessandro Gardemann, atual presidente da Abiogás. A Raízen, por sua vez, é uma joint venture (50%-50%) da Shell com a Cosan, fundada por Rubens Ometto.
A unidade em Guariba é a primeira do tipo a negociar energia em um leilão regulado para suprimento do mercado cativo das distribuidoras. Com 4 MW de capacidade instalada, também vai vender energia no mercado livre.
“É nosso pré-sal caipira”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
A analogia com a produção de gás natural no pré-sal é comum no mercado de biogás. Como uma das fontes são subprodutos e rejeitos da agropecuária, o biogás é apontado como uma alternativa de suprimento de gás e combustível, na forma de biometano, no interior do país. Pode ser usado tanto na geração de energia elétrica, como substituto do gás natural e até do diesel, em motores de combustão.
“Nossos estudos mostram que o potencial de produção de biogás no Brasil a partir da vinhaça podem atingir em 2030 até 35 milhões de metros cúbicos por dia, o que é superior em mais de duas vezes o volume de gás natural importado da Bolívia em 2019″, disse o Bento Albuquerque.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a quem é atribuída a incapacidade do governo de combater os crimes ambientais e impedir o avanço das queimadas que atingiram diversos biomas brasileiros este ano, voltou a defender a pauta da sustentabilidade urbana.
Salles defende que as cidades são o grande problema ambiental brasileiro e que o governo Bolsonaro acerta em priorizar essa agenda, com foco em pautas como o saneamento. O ministro afirmou que a evolução na produção de biogás a partir da vinhaça é esperança para que ônibus possam ser movidos a biogás em breve.
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