BELO HORIZONTE — Os estados de Roraima, Amazonas e Pará concentram os maiores índices de exclusão elétrica entre os estabelecimentos extrativistas na Amazônia Legal, com, respectivamente, 74%, 66% e 45% sem acesso.
Os dados são do estudo Mapeamento da sociobioeconomia: bases para políticas de inclusão energética na Amazônia Legal (.pdf), do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), divulgado nesta quarta-feira (5/11).
Ao todo, mais de 84 mil estabelecimentos extrativistas nos nove estados da região estão sem acesso algum à energia elétrica.
Em números absolutos, o Pará, estado que recebe nos próximos dias a COP30, tem a maior quantidade de estabelecimentos sem energia, sendo cerca de 28,5 mil.
“O acesso inadequado à energia compromete o beneficiamento de produtos perecíveis, a utilização de maquinário, a agregação de valor e a inclusão produtiva dos povos e comunidades historicamente excluídas das políticas públicas nacionais”, aponta Fabio Galdino dos Santos, um dos autores do estudo.
Segundo o Iema, a exclusão energética afeta a autonomia produtiva das comunidades extrativistas, perpetuando ciclos de vulnerabilidade econômica e limitação tecnológica.
“Para manter a floresta em pé, é preciso construir uma nova economia para a Amazônia, muito baseada nos produtos da sociobiodiversidade. A agricultura familiar já apresenta um modelo concreto para essa nova economia. Mas essa economia não se sustenta sem infraestrutura adequada”, diz o diretor-executivo do Iema, André Luis Ferreira.
“A Amazônia precisa de energia e potência, só levar luz não é suficiente para apoiar esse desenvolvimento. É necessário uma energia elétrica de qualidade e suficiente para garantir acesso a direitos básicos”, completa.
O estudo sugere a ampliação do Luz para Todos para atender demandas energéticas vinculadas à produção extrativista, agroflorestal e da agricultura familiar. Atualmente, o programa é limitado ao atendimento residencial mínimo.
Além disso, recomenda investimentos em infraestrutura logística, inclusão digital, assistência técnica e suporte às cadeias produtivas extrativistas.
“Reconhecer o acesso à energia elétrica como vetor central da sociobioeconomia é essencial para reduzir desigualdades, promover cadeias produtivas sustentáveis e garantir que as políticas públicas sejam orientadas por evidências, fortalecendo a economia da floresta em pé e assegurando o bem-estar das comunidades locais”, defende Santos.
