Energia

Relatório do ONS sobre apagão confirma causas e pede centenas de correções

Série de problemas atrasou a retomada do fornecimento de energia elétrica no dia 15 de agosto, segundo o documento

Fortaleza, capital do Ceará, fica sem luz quatro dias após apagão nacional afetar todas as regiões do Brasil. Na imagem: Foto à contraluz de sequência de torres de transmissão de energia, no Leste do Texas (EUA), durante pôr do sol com gradação na coloração do céu do azul para o laranja (Foto: Matthew T Rader)
Linhas de transmissão de energia (Foto: Matthew T Rader)

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recebeu 296 contribuições para a versão final do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) que investigou as causas do apagão de 15 de agosto

Os comentários vieram de 23 agentes do setor e confirmaram que o incidente foi gerado pela queda de tensão da linha de transmissão Quixadá-Fortaleza II, da Chesf, no Ceará, seguida por uma falha de equipamentos de controle de tensão de parques eólicos e fotovoltaicos.

O relatório também revelou uma série de problemas nos sistemas de transmissão e distribuição que atrasaram a retomada do fornecimento de energia elétrica após o apagão. 

Desde agentes que não sabiam como proceder, aos que não atenderam telefone e equipamentos desatualizados que não tiveram o comportamento adequado. Eles tiveram a chance de contestar as avaliações do ONS em comentários que foram incluídos no relatório.

Causas do apagão

O problema se iniciou com a queda de tensão da linha de transmissão. Os equipamentos das usinas de geração deveriam ter compensado a interrupção da tensão, o que não ocorreu, e levou a desligamentos em cascata no Sistema Interligado Nacional (SIN). 

Segundo o ONS, o desempenho dos aparelhos de controle de tensão das usinas ficou aquém do previsto em modelos matemáticos fornecidos pelos agentes e usados em simulações pelo operador. 

Na prática, ocorreu um descasamento entre a capacidade de atuação de fato dos modelos matemáticos usados pelas usinas de geração solar e fotovoltaica e o que era esperado deles. 

O apagão de agosto deixou mais de 30 milhões de pessoas sem energia e afetou todos os estados brasileiros. 

Problemas para religar a energia 

O ONS apontou centenas de correções e providências a serem tomadas por 122 agentes que de alguma forma não tiveram desempenho satisfatório durante o apagão. Desde os motivos que levaram ao apagão – a atualização dos dados de geração de eólica e solar e correção dos sistemas de proteção da linha Quixadá-Fortaleza II — até a série de falhas de operação e comunicação que atrasaram a retomada do fornecimento de energia após o incidente.

Entre elas, a necessidade de intervenção do ONS para o religamento de usinas, linhas e subestações e outros como, por exemplo: ligações telefônicas que não completavam ou não eram atendidas; equipes locais que não conheciam os procedimentos; falhas nos sistemas de telecomando e operação remota; demora no restabelecimento das cargas; e restabelecimento de cargas antes do equilíbrio da frequência.

Correção dos problemas

Com a identificação das causas, o ONS estabeleceu centenas de medidas a serem tomadas por 122 agentes até outubro de 2024 para evitar novos problemas na operação do sistema elétrico. A ações incluem ajustes em proteções, soluções para problemas na comunicação entre os agentes e a validação dos modelos matemáticos de todos os geradores eólicos e fotovoltaicos. 

Uma das medidas implementadas após o apagão foi a redução dos limites de intercâmbio da geração do Nordeste para outras regiões do país, o que tem gerado reclamações dos geradores na região. O operador tem sinalizado que os limites voltarão ao normal ao longo do tempo.