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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 01/12/21
Apresentada por
Editada por Nayara Machado
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Estudo divulgado nesta terça (30) pelo ClimaInfo indica que a integração de fontes renováveis na América do Sul abre a possibilidade de prescindir de fontes fósseis a partir do potencial de complementaridade horária e sazonal.
A pesquisa analisou dados publicados dos setores elétricos da Argentina, Brasil e Chile e identificou regiões entre os países com maior potencial de complementariedade a ser explorado:
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Ventos no Sul da Argentina e os ventos nos vales do Centro e Sul do Chile;
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Solar no Brasil e os ventos nos vales e a costa do Centro e Sul do Chile;
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Solar no Norte do Chile com praticamente todas as outras regiões.
Segundo os pesquisadores, existem motivações técnicas, econômicas e ambientais que sugerem a integração dos sistemas elétricos como uma medida capaz de gerar sinergia positiva entre os países.
Mas, para que esses benefícios sejam aproveitados, serão necessárias regras comerciais homogêneas e sólidas, com similaridades de estruturas regulatórias, por exemplo.
E o cenário político brasileiro não está muito favorável para a integração, comenta Thauan Santos, professor adjunto da Escola de Guerra Naval.
“Isso demanda engajamento de ministérios, de atores públicos e privados, e infelizmente o nosso momento atual não está pró-integração regional. Temos um desafio de convencer os decisores que isso é importante do ponto de vista de inserção dos países da região em um debate de transição energética”.
Durante webinar para apresentação do estudo, o professor alertou que será preciso encontrar um arranjo institucional que cubra bem os três países e acordos binacionais podem servir de base para novos modelos.
A integração de redes na América do Sul não é novidade. O Paraguai é sócio do Brasil em Itaipu e da Argentina em Yacyretá, por exemplo.
Na região, existem outras trocas de energia, mas, exceto pelas hidrelétricas, elas são pequenas comparadas com as capacidades instaladas em cada país, mostra o relatório (.pdf).
E deixa claro que, apesar de serem muitas as oportunidades para expansão e integração das fontes renováveis no continente, há ainda uma série de questões a serem resolvidas.
Infraestrutura é uma delas.
As distâncias físicas existentes entre as plantas geradoras, os centros de carga e as diferentes extensões territoriais demandam convergências técnicas, afinidades comerciais e grandes investimentos.
“O deslocamento dessa energia traz uma outra questão que é muito importante e que sempre foi um empecilho para a nossa integração, que é a infraestrutura das redes”, comenta Victorio Oxilia, sócio fundador da Associação de Profissionais de Estratégias Energéticas para o Desenvolvimento Sustentável (ESENERG).
Ele explica que será preciso considerar a diferença de frequência entre os países (no Brasil é 60 Hz, Argentina e Chile 50 Hz) e quem vai operar o sistema.
“Precisamos também de um operador regional de energia”, diz Oxilia.
Além de observar os impactos socioambientais de novas linhas de transmissão.
“É preciso manter tais aspectos em vista no decorrer do desenvolvimento de estudos e projetos a fim de que sociedade locais como comunidade ribeirinhas, quilombolas, dentre outras populações nativas não sejam prejudicadas de forma irreversível”, conclui o documento.
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A publicação vem em um momento em que se discutem diferentes alternativas para o planejamento energético evitar novas crises e riscos de apagões, conforme os efeitos das mudanças climáticas impactam o setor elétrico.
Também nesta terça, um estudo publicado na revista Energy Research & Social Science aponta que a transição energética no Brasil depende da descentralização do planejamento e integração de diferentes agentes sociais.
Lira Lázaro, autora principal do artigo, diz que no Brasil o governo não consegue conhecer as realidades de pequenos municípios e não avalia o que os governos subnacionais estão fazendo para contribuir em soluções.
Investimento global em P&D de energia está progressivamente mais diversificado, mostra um levantamento da Agência Internacional de Energia, que avaliou os últimos 40 anos.
Com eficiência energética e energias renováveis expandindo sua participação nos investimentos significativamente mais rápido durante os anos 1990 e 2000, de 7% cada em 1990 para 23% e 21% respectivamente em 2010.
Desde então, a parcela da eficiência energética aumentou ligeiramente para chegar a 26%, enquanto a parte das energias renováveis caiu para 15%.
Na energia nuclear, que representava 75% do total em 1974, os recuos foram anuais até chegar a 21% em 2020.
Já os orçamentos de P&D em combustíveis fósseis, que estavam em seu nível mais alto na década de 1980 e início de 1990, diminuíram desde 2013 (13%) para 7% em 2020.
Hidrogênio e células a combustível mantiveram sua participação em 3% para o período de 2012-2018, aumentando para 4% em 2019 e 2020.
Por falar em hidrogênio, a União Europeia busca “estrelas do hidrogênio” à medida que altos preços do gás natural encarecem a produção de hidrogênio cinza e o custo de emissão de carbono atinge recordes no sistema europeu.
“Por causa do atual aumento nos preços do gás que vemos, o hidrogênio verde hoje pode ser ainda mais barato do que o hidrogênio cinza”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em um evento em Bruxelas.
Em 2020, o hidrogênio cinza poderia ser produzido por cerca de 2 euros (US$ 2,26) por quilo, em comparação com até 6 euros por quilo para a versão verde, segundo estimativas da indústria.
Von der Leyen disse que o hidrogênio verde pode custar menos de 1,8 euro por quilo até 2030.
O chefe da política climática da UE, Frans Timmermans, disse esperar que o bloco e seus vizinhos superem a meta de instalar 40 GW dentro da UE e mais 40 GW em outros países ao leste e ao sul até 2030.
“As estrelas são feitas de hidrogênio, então vamos alcançá-las”, disse ele. Reuters
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