BRASÍLIA — O perfil dos clientes que negociam energia no mercado livre ficou mais heterogêneo nos últimos meses, com o recorde de migrações de consumidores para esse segmento em 2024.
Alguns dos setores que ampliaram a participação nesse mercado foram o varejo, o agronegócio e hospitais.
Isso ocorre também porque outros setores já tinham iniciado o movimento há mais tempo. Em 2024, 93% do consumo industrial de energia e 41% do comercial foram negociados no mercado livre.
Uma das principais dinâmicas que mudou com a migração do último ano foi a demanda por energia.
Dados divulgados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) mostraram que entre as 26,8 mil migrações ocorridas em 2024, 92% têm carga menor do que 500 kilowatts (kW) médios. No ano anterior, 67% consumiam abaixo desse montante.
Além da abertura de mercado que possibilitou a entrada nesse mercado de consumidores de menor tamanho, o foco das comercializadoras foi direcionado para captar esses clientes.
A Engie Brasil começou a preparação para atender os consumidores comerciais de menor porte em 2018, já se antecipando ao novo cenário.
Um dos principais motivos para aderir ao ambiente de contratação livre é a economia, mas a estabilidade das tarifas também se tornou um dos atrativos, de acordo com o diretor de comercialização de energia da Engie, Gabriel Mann.
A empresa empregou esforços para simplificar os processos de contratação, com três opções de contratos padronizados para clientes com consumo mais baixo.
“Para os clientes de pequeno porte, destaco aqui a opção de economia percentual garantida em relação à tarifa da distribuidora, com uma menor exposição do cliente final às negociações de curto prazo”, afirmou.
Maior conhecimento poderia impulsionar migrações
A Kinsol oferece soluções em energia para clientes residenciais e comerciais. Seja pela geração local ou remota solar ou por migrações ao mercado livre, a empresa é focada em descontos na conta de luz.
Como houve uma mudança no perfil das migrações ao ambiente de contratação livre (ACL), a Kinsol entendeu o movimento e passou a atender os clientes com novo perfil comportamental.
De acordo com o CEO da Kinsol, Maurício Crivelin, ainda não há um conhecimento profundo por parte dos consumidores de pequeno porte.
“Quem pagava ali acima de R$ 80 mil de conta, já sabia o que era mercado livre, ele já tinha um cara fazendo análise ali. O dono de um pequeno comércio que está no grupo A, só começou a ser abordado agora para falar de migração. Ainda vai ter um período de maturação, ainda vai ter o período dele para entender e estudar”, disse.
Crivelin entende que já há mais esclarecimento por parte da população a respeito da micro e minigeração distribuída (MMGD), modelo no qual o consumidor gera a própria energia.
Próximo passo é a abertura
A próxima etapa da liberalização do mercado será a abertura do mercado livre a todos os consumidores, inclusive aqueles que estão na rede de baixa tensão, como os residenciais.
A maior adesão por parte dos clientes de pequeno porte é mais um passo para o processo de abertura total do mercado livre, na visão da sócia da Stima Energia Daniela Alcaro.
A comercializadora é focada no mercado atacadista e lida com grandes consumidores de energia. Mesmo assim, Alcaro entende que nesses dois anos de abertura houve uma boa preparação para a possibilidade de migração de consumidores residenciais.
“Só falta a vontade política. Sendo muito clara, eu acho que falta o Congresso olhar para isso, o Ministério de Minas e Energia priorizar, eu acho que a CCEE já disse mais de uma vez que está preparada para abertura da baixa tensão. Eu acho que já se provou que a abertura da baixa tensão, vai criar um ambiente competitivo entre os fornecedores de energia, propiciando preços mais baixos para o consumidor livre”, afirmou.