Diálogos da Transição

Organizações lançam ofensiva contra térmicas da Eletrobras

Estudo do Iema alerta que as térmicas a gás com leilão previsto para esta sexta (30/9) devem emitir 5,2 milhões de toneladas de CO₂ por ano

Organizações lançam ofensiva contra térmicas da Eletrobras. Na imagem: Complexo térmico Jorge Lacerda (SC), 857 MW. Composto por três usinas, a primeira em operação desde 1965 (Foto: Divulgação)
O volume de 5,2 milhões de toneladas de CO₂ por ano está associado à entrada de 2 GW fósseis na matriz elétrica brasileira a partir do fim de 2026 (Foto: Divulgação/Complexo térmico Jorge Lacerda)

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Editada por Nayara Machado
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Ponto de encontro do mercado de energia

A agência epbr entrevista principais executivos e executivas do setor de petróleo e gás em um estúdio diretamente da maior feira e conferência da América Latina. Ampliando o alcance das discussões e levando para quem está fora do evento as pautas que fundamentam decisões no setor de petróleo e gás no Brasil.

Estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) alerta que as térmicas a gás previstas para contratação no leilão de reserva de capacidade de energia desta sexta (30/9) devem emitir 5,2 milhões de toneladas de CO₂ por ano.

O volume de emissões está associado à entrada de 2 gigawatts (GW) fósseis na matriz elétrica brasileira a partir do fim de 2026 — e é quase 30% de tudo o que foi emitido por usinas desse tipo no país em 2020.

O leilão desta semana é o primeiro das termelétricas compulsórias previstas na lei de privatização da Eletrobras, que prevê a contratação de 8 GW de térmicas a gás, boa parte em regiões sem acesso ao combustível. Neste primeiro, serão contratados 2 GWEntenda

O Iema é parte do grupo que lançou uma ofensiva contra as novas térmicas.

Ontem, a Coalizão Gás e Energia e a ONG Arayara pediram à Justiça Federal a concessão de medida cautelar para suspender o leilão.

Caso o certame seja mantido, pedem um inventário de emissões de gases de efeito estufa de todas as termelétricas movidas a combustíveis fósseis do leilão, bem como o impacto das emissões no cumprimento das NDCs brasileiras.

A ação civil pública solicita ainda o cancelamento da licitação organizada pela Aneel e a anulação dos seus efeitos — com determinação de que o governo não possa realizar um novo leilão de reserva de capacidade nos mesmos moldes para contratação de térmicas a gás.

Com contratos de 15 anos, até 2042 o Iema calcula que as novas usinas devem emitir 77,6 milhões de toneladas de CO₂e na atmosfera: 38,8 milhões pela Região Norte; 27,2 milhões pelo Piauí; e 11,6 milhões pelo Maranhão.

Já a contratação total dos 8 GW pode ser responsável por 310 milhões de toneladas de CO₂e até 2045.

Impacto nas contas de energia

Uma simulação feita pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) — também membro da coalizão — aponta que o custo de operação e manutenção dessas usinas térmicas acrescentará R$ 111 bilhões às contas de energia entre 2022 e 2036.

O cálculo utiliza o cenário de referência do plano decenal de energia (PDE 2031) do governo federal.

Como consequência, o custo médio da energia subiria em 70%, de R$ 109/MWh em um cenário de referência para R$ 186/MWh em um cenário com as térmicas inflexíveis.

Outra consequência da obrigatoriedade seria a redução do espaço para fontes renováveis mais econômicas como solar e eólica, e até de operação do parque já instalado, dizem as organizações.

  • Para aprofundar: os leilões de energia nova e a contratação das térmicas da privatização da Eletrobras foram tema do antessala, programa de entrevistas ao vivo da agência epbr. Contou com a participação de Henrique dos Anjos (WoodMac), Ana Carla Petti (Comerc) e Nicole Oliveira (Arayara.org). Assista no canal da agência epbr no Youtube

A conta da segurança

Por outro lado, há quem argumente que a expansão das térmicas a gás tem potencial de evitar que os preços de energia subam muito quando as renováveis não forem capazes de atender a demanda.

Em uma entrevista à agência epbr no início de setembro, Bruno Pascon, sócio-fundador e diretor da CBIE Advisory, observa que cenários de emissões líquidas zero estão colocando grande peso na eletrificação, com consequente aumento da demanda por energia confiável.

“Todo esse problema que Califórnia, Europa, Alemanha e Xangai estão vivendo, por exemplo, vem da falta de preocupação com a segurança energética. No caso da Europa, tem o adicional de concentrar o fornecedor de gás na Rússia”.

“Sem as usinas que podem gerar energia na base, como nuclear ou biogás, o sistema não consegue atender a demanda 24 horas por dia. A partir do momento que eu não puder atender a demanda, o preço da energia vai explodir”.

O diretor da CBIE acredita que o investimento em fontes despacháveis permitirá ao Brasil continuar investindo em renováveis, substituindo, na verdade, outras fontes fósseis mais caras.

“O governo já se prontificou a tirar, até 2031, 16,5 GW de capacidade do sistema, dos quais 9 GW são de térmicas a diesel e óleo combustível, que custam quase cinco vezes mais do que uma a gás natural, além de poluir mais. O Brasil não está trocando renováveis por emissões. Está trocando térmicas de backup que são caríssimas”.

Ele também defende as novas térmicas como indutoras de uma transição mais profunda, extrapolando o segmento de energia e colaborando com outros setores como indústria e agronegócio, com a expansão de infraestrutura que poderia ser aproveitada por biogás, biometano e até hidrogênio.

E critica os cálculos do PDE 2031, cujo modelo de decisão de investimento estaria considerando apenas o atributo preço. 

No cenário de referência elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as políticas atuais levarão à “substituição de parte da expansão indicativa de eólicas e solares centralizadas por termelétricas com geração compulsória movidas a gás natural, carvão mineral e nuclear”.

“Essa mudança de composição da matriz resulta em um maior custo de operação para o sistema”, diz a EPE.

“[Considerando só o preço], solar e eólica são mesmo as fontes mais competitivas no Brasil e no mundo. Só que a EPE deixa de considerar que preço é apenas um atributo da oferta de energia. Existe ainda potência, garantias e suprimento, que solar e eólica não conseguem oferecer”, completa Pascon.

A estimativa da empresa estatal é que quase 60% do total de expansão da capacidade instalada em 2031 seja de usinas a gás natural, carvão mineral e nuclear.

Até 2027, o PDE não prevê expansão da geração solar e eólica. Em compensação, a geração térmica a gás natural flexível e inflexível projetada soma 14,3 GW de crescimento no mesmo período.

Cobrimos por aqui:

Sim, elas na liderança

A iniciativa Sim, elas existem! divulgou a lista de indicadas para cargos de liderança na energia. A lista é resultado de um desafio que colheu indicações entre os agentes do setor de mulheres competentes para exercer altos cargos de liderança no próximo governo.

“Fizemos um filtro dos requisitos mínimos exigidos para ocupar cargos do Executivo e pedimos indicações. O resultado é que temos mais de 400 mulheres nessa lista”, conta Renata Isfer, fundadora da Petres Energia e co-criadora da #simelasexistem.

Ela participou nesta terça (27/9) do BackStage Rio Oil & Gas 2022. Veja a entrevista na íntegra