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O que se sabe até o momento sobre o apagão que atingiu todas as regiões do Brasil? Relembre outros casos recentes

‘Não foi falta de energia’, afirma ministro sobre falha no sistema que atingiu 13 estados e o DF

Alexandre Silveira durante coletiva após a inauguração do linhão Manaus-Boa Vista, em 10 de setembro de 2025 (Foto Ricardo Botelho/MME)
Alexandre Silveira durante coletiva após a inauguração do linhão Manaus-Boa Vista, em 10 de setembro de 2025 (Foto Ricardo Botelho/MME)

JUIZ DE FORA — O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que a interrupção no fornecimento de eletricidade que atingiu parte do país na madrugada de terça-feira (14/10) foi causada por um incêndio em um reator na subestação de Bateias, no Paraná.

A ocorrência, registrada às 0h32, cortou cerca de 10 mil megawatts (MW) de carga nos quatro subsistemas do Sistema Interligado Nacional (SIN): Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

A ocorrência teve início com o incêndio, que desligou toda a subestação de 500 kV e ocasionou a abertura da interligação entre as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste. No momento, a região Sul exportava cerca de 5.000 MW para o Sudeste/Centro-Oeste.

Na região Sul houve perda de aproximadamente 1.600 MW de carga. Nas demais regiões, houve atuação do Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC). No Nordeste a interrupção foi da ordem de 1.900 MW, no Norte, de 1.600 MW e no Sudeste, de 4.800 MW.

“Assim que identificou a situação, o ONS iniciou ação conjunta com os agentes para restabelecer a energia nas regiões”, disse o operador.

Segundo o ONS, em até 1h30min todas as cargas das regiões Norte, Nordeste, Sudeste/Centro-Oeste foram restabelecidas. As cargas do Sul — região onde o incidente teve início — a recomposição ocorreu 2h30min após a ocorrência.

“O retorno dos equipamentos e a recomposição das cargas se deu de maneira segura, logo nos primeiros minutos”, informou em nota.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), afirmou que o episódio foi pontual e não decorreu de falta de energia, mas de um problema na infraestrutura de transmissão.

Não foi falta de energia. Foi um problema na infraestrutura que transmite a energia. Então, portanto, quando se fala em apagão, a gente sempre liga para aqueles tristes episódios de 2001 e de 2021, que na verdade aconteceram por falta de energia e falta de planejamento. Hoje não. Hoje nós temos muita energia”, disse Silveira.

Segundo o ministro, o país “está em condições de segurança energética” . Veja abaixo a fala do ministro:

Silveira descartou também a necessidade de retomada do horário de verão. As declarações foram dadas em entrevista ao CanalGov pela manhã.

O ministro citou ainda os investimentos recentes no sistema elétrico.

“Nós inclusive robustecemos o nosso sistema de transmissão, com R$ 70 bilhões de linhas de transmissão que nós contratamos e estamos com obras. Então temos mais segurança energética, mas é um episódio pontual que o ONS deu pronta resposta graças ao moderno sistema do nosso operador nacional”, afirmou.

Silveira acrescentou: “é natural que a gente tenha dados mais apurados para poder passar para a imprensa, mas o fundamental e importante foi o restabelecimento rápido do sistema e, também tão importante quanto, é que agora apurando o que causou o início do processo de apagão, a gente possa evitar novos episódios”.

Uma reunião com os principais agentes do setor foi convocada ainda na manhã desta terça-feira para discutir o ocorrido.

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), equipes foram deslocadas para inspecionar a subestação de Bateias e apurar responsabilidades sobre o evento. A agência também informou que instaurará processos de fiscalização para investigar os agentes envolvidos.

Outros casos recentes de falhas no suprimento elétrico tiveram causas distintas. A seguir, a agência eixos relembra os apagões recentes e as razões que geraram os problemas.

Apagão de 2023 expôs falhas no SIN

Em 15 de agosto de 2023, cerca de 30 milhões de pessoas em quase todos os estados brasileiros ficaram sem luz, em um apagão considerado o maior desde 2018.

O corte afetou todas as regiões interligadas do SIN, exceto Roraima, e atingiu 23.368 MW, equivalente a 34,5% da carga total do momento.

O ONS identificou à época que o apagão teve início com a queda de tensão na linha de transmissão Quixadá-Fortaleza II, da Chesf, no Ceará.

Equipamentos de controle de tensão de usinas eólicas e solares próximas, que deveriam compensar automaticamente a variação, não funcionaram como previsto, provocando desligamentos em cascata pelo país.

O relatório final do RAP foi construído com base em 296 contribuições de agentes do setor e entregue em outubro de 2023, confirmando os pontos críticos e definindo prazos para implementação das correções.

Além da falha inicial, o restabelecimento da energia foi atrasado por uma série de problemas operacionais e de comunicação entre transmissoras, distribuidoras e agentes do setor.

Entre as falhas apontadas estão telefonemas não atendidos, equipes despreparadas, sistemas desatualizados e religamento de cargas antes do equilíbrio da frequência.

Blecaute na Europa alerta sobre resiliência

Em abril, de 2025, um apagão de grandes proporções atingiu a Península Ibérica, afetando milhões de pessoas na Espanha e em Portugal e gerando impactos também na França, Polônia e Finlândia.

O colapso começou com uma forte oscilação na rede espanhola, seguida da desconexão com o restante do sistema europeu, e se espalhou rapidamente devido à complexidade do fornecimento intermitente das renováveis e à alta dependência de importações de energia em Portugal .

Especialistas apontam que o episódio evidencia os desafios de gestão de sistemas elétricos com grande penetração de fontes renováveis.

Maria João Coelho, diretora da Elecpor, destacou que o apagão expôs as fragilidades da rede elétrica e reforçou a urgência de investir em infraestrutura e armazenamento de energia.

Em entrevista ao estúdio eixos (assista na íntegra), durante o EVEx Lisboa 2025, ela reforçou que o episódio evidenciou as novas complexidades do sistema elétrico europeu, cada vez mais dependente de fontes renováveis. 

O caso europeu reforça tendências observadas em outros continentes, como o Brasil, onde eventos climáticos extremos têm pressionado a operação do sistema elétrico.

A Abradee estima investimentos de R$ 30 bilhões por ano até 2027, metade deles destinados à resiliência das redes, frente ao aumento de tempestades, ondas de calor e secas mais intensas.

Relatórios internacionais, como da Agência Internacional de Energia Renováveis (Irena), alertam que a infraestrutura elétrica deve se tornar mais resiliente, flexível e sustentável, tanto para lidar com mudanças climáticas quanto para garantir segurança energética, especialmente em meio à pressão por combustíveis fósseis .

Apagões em SP e crise da Enel

Interrupções de energia em São Paulo têm se tornado recorrentes, evidenciando falhas da distribuidora Enel e da fiscalização da Aneel. Em julho, a CGU apontou deficiências no plano de contingência da Enel SP e recomendou procedimentos específicos de fiscalização em situações de emergência.

Chuvas intensas e temporais afetaram o fornecimento de energia para milhões de consumidores em pelo menos duas ocasiões recentes.

Na terceira semana de outubro de 2024, cerca de 3 milhões de unidades ficaram sem luz. Na época, o ministro Silveira criticou falhas na poda de árvores pelo município e cobrou melhorias nos serviços prestados pela distribuidora paulista. Dias antes, um temporal havia 900 mil imóveis sem energia, levando autoridades a pedirem a caducidade do contrato da Enel.

O caso ocorreu a menos de um ano do apagão causado pelas tempestades de novembro de 2023, quando cerca de 4,2 milhões de residências ficaram sem luz. A Aneel aplicou multa de R$ 165,8 milhões à Enel por falhas no restabelecimento da energia.

Na época, o governo federal e o Ministério da Justiça também cobraram explicações da empresa sobre interrupções prolongadas.

Os casos também levantaram debate sobre a necessidade de enterrar linhas de distribuição e modernizar a rede.

Mesmo com investimentos de R$ 6,2 bilhões entre 2024 e 2026 e aumento do efetivo técnico, o debate sobre a caducidade da concessão segue em pauta.

Nesta terça (14/10) inclusive, Silveira reiterou que a Enel só terá o contrato renovado no estado se cumprir todas as exigências técnicas e regulatórias.

Ele condicionou as renovações a “investimentos robustos” e lembrou que o caso da concessionária está judicializado, após decisão da Justiça Federal de SP suspender, na semana passada, o processo de prorrogação em análise na Aneel.

Texto em atualização.

Com informações dos jornais Estadão e O Estado de S. Paulo.

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