Hidrelétricas

O que são hidrelétricas reversíveis e como podem contribuir para o sistema? Entenda

Com dois ou mais reservatórios, usinas reversíveis são capazes de bombear água para gerar energia quando o sistema mais precisa

Barragem Edgar de Souza, em Santana do Parnaíba (SP), parte integrante do sistema de abastecimento de SP, que conta com elevatórias e geração de energia. Brasil não tem projetos recentes de usinas reversíveis (Foto Webysther Nunes/Wiki Commons)
Barragem Edgar de Souza, em Santana do Parnaíba (SP), parte integrante do sistema de abastecimento de SP, que conta com elevatórias e geração de energia. Brasil não tem projetos recentes de usinas reversíveis | Foto Webysther Nunes/Wiki Commons

BRASÍLIA – As usinas hidrelétricas reversíveis (UHR) ou flexíveis são uma modalidade de geração que pode garantir energia elétrica despachável em momentos de maior necessidade do sistema.

Esse tipo de usina tem aparecido nas discussões do setor, em meio à necessidade do Brasil de ter mais potência disponível para atender a momentos de pico de consumo.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê necessidade adicional de 5,5 gigawatts (GW) de potência no sistema em 2028, com déficits em todos os meses a partir desse ano.

Mesmo que o Brasil conte com grandes volumes de geração eólica e solar, o atendimento aos horários de ponta da demanda depende das hidrelétricas convencionais e de termelétricas.

Os níveis de chuva são essenciais para as usinas hidrelétricas, já que, após a geração, as águas são liberadas para seguirem os cursos dos rios.

Em períodos com poucas chuvas ou baixa nos reservatórios, são adotadas medidas emergenciais, como o acionamento de térmicas para complementar a carga.

Enquanto o Ministério de Minas e Energia prepara um leilão específico para baterias de armazenamento de energia, as usinas reversíveis poderiam exercer um papel parecido, já que também guardam eletricidade e podem ser acionadas quando necessário.

O que são usinas reversíveis?

São usinas hidrelétricas que contam com dois ou mais reservatórios, com um desnível entre eles. Fora do despacho, um sistema de bombeamento transporta a água para o nível mais alto. Por isso, deve ser levado em conta o gasto de energia utilizado para bombear a água.

Quando surge a necessidade de gerar energia, as comportas são abertas e a queda da água aciona as turbinas para, em seguida, chegar ao reservatório inferior. O processo pode ser repetido quantas vezes for necessário, levando em conta o tempo de bombeamento da água. 

No Brasil, as hidrelétricas mais comuns são as usinas com apenas um reservatório ou as a fio d’água, que dispensam reservatórios.

Quando essas usinas podem gerar energia?

A queda d’água pode ser acionada em momentos estratégicos para a operação do sistema, a exemplo do fim da tarde, quando a geração solar cai e os consumidores acionam mais eletrodomésticos e iluminação.

Em momentos com poucos ventos, em que as usinas eólicas geram menos energia, por exemplo, é necessário complementar a geração com outras fontes, a exemplo das reversíveis.

Quais são os países com mais usinas reversíveis?

Atualmente, a China tem mais de 50 GW de capacidade instalada em usinas reversíveis, seguida de Japão (21,8 GW), Estados Unidos (16,7 GW), Alemanha (5,4 GW) e Índia (4,7 GW), segundo um levantamento da Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena).

Qual é o futuro das reversíveis?

Um estudo da Agência Internacional de Energia (IEA) de 2021 previa que a energia gerada a partir de hidrelétricas no mundo cresceria 230 GW até 2030, sendo 30% a partir de reversíveis.

O Brasil tem usinas reversíveis?

Até hoje, foram instaladas apenas quatro usinas hidrelétricas reversíveis no Brasil: Pedreira, Traição e Edgard de Souza, no estado de São Paulo, e Vigário, no Rio de Janeiro. As obras foram concluídas entre as décadas de 1930 e 1950.

Atualmente, as instalações remanescentes são utilizadas para controle de cheias em rios e o uso para geração de energia caiu em desuso.

Quanto custam as usinas reversíveis?

A estimativa é que as reversíveis custem entre R$ 6 mil e R$ 15 mil a cada kilowatt (kW) de capacidade instalada no Brasil, segundo o caderno Parâmetros de Custos de Geração e Transmissão, divulgado em agosto de 2024 pela EPE.

O estudo compara os preços de implantação das diferentes fontes de energia e embasará o Plano Decenal de Expansão de Energia 2034.

Os valores estimados para as reversíveis são bastante superiores aos investimentos necessários às usinas solares, que variam entre R$ 3 mil e R$ 6 mil por kW, por exemplo.

Entretanto, as UHR possuem mais flexibilidade e podem ser acionadas durante a noite e em dias nublados, períodos em que as fotovoltaicas não agregam energia ao sistema.

Como comparação, as baterias de armazenamento podem desempenhar papel similar ao das usinas reversíveis e demandam gastos de R$ 5 mil a R$ 9,5 mil a cada kW.

Quais as vantagens das usinas reversíveis?

Segundo a consultoria PSR, as usinas reversíveis operam em circuitos fechados, por isso, têm atributos importantes, como o fato de que acumulam apenas o volume necessário para o armazenamento para operar durante horas ou dias.

Além disso, inundam áreas muito menores que as hidrelétricas convencionais, não interrompem o escoamento dos rios, nem interferem na vida dos peixes