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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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No último sábado (2/12), 22 países assinaram uma declaração conjunta com o compromisso de triplicar a energia nuclear, como estratégia para zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050.
Para isso, chamam os acionistas de instituições financeiras internacionais a incentivar a inclusão da energia nuclear nas políticas de empréstimo de energia. Leia a declaração em inglês
O anúncio ocorreu durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), sediada este ano em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
O país – sétimo maior produtor de petróleo – é um dos signatários do documento, junto com Estados Unidos, Bulgária, Canadá, República Tcheca, Finlândia, França, Gana, Hungria, Japão, República da Coreia, Moldávia, Mongólia, Marrocos, Países Baixos, Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Suécia, Ucrânia e Reino Unido.
A declaração veio na esteira do compromisso de 118 países de triplicar a capacidade renovável até 2030.
Entre os que apostam na nuclear, a visão é que a alternativa pode ser expandida sem ocupar grandes áreas, com usinas localizadas onde forem necessárias e apoiar a descarbonização de setores industriais difíceis de abater emissões.
Entram em cena os pequenos reatores modulares (SMRs) e a produção de hidrogênio e combustíveis sintéticos.
Na declaração conjunta, os signatários se comprometem a mobilizar investimentos e apoiar o desenvolvimento e a construção de reatores nucleares, “como reatores modulares pequenos e outros reatores avançados para geração de energia, bem como aplicações industriais mais amplas para descarbonização, como produção de hidrogênio ou combustíveis sintéticos”.
Mercado
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), a energia nuclear — uma fonte de eletricidade comprovadamente carbono zero — atualmente contribui com cerca de 10% da geração global, com 413 GW.
Estudo da McKinsey indica que a demanda por esse tipo de geração pode chegar a 800 GW em 2050 e representar até 20% do consumo futuro, com a eletrificação do transporte e processos industriais exigindo cada vez mais energia.
Veja também:
Em busca de política industrial
Embora o Brasil não tenha assinado a declaração conjunta, há uma movimentação em torno da fonte.
Em maio deste ano, o governo federal incluiu o desenvolvimento de pequenas centrais nucleares entre as prioridades do eixo de descarbonização das diretrizes para novas políticas industriais.
A nuclear também integra a agenda bilateral entre Brasil-Argentina para o mercado de energia, enquanto no Congresso Nacional brasileiro dá alguns passos para fazer parte da política para o hidrogênio de baixo carbono.
Outra agenda no Congresso é um plano apresentado pelo presidente da Frente Parlamentar das Atividades Nucleares, deputado Júlio Lopes (PP-RJ), para reativar o programa nuclear nacional. Lopes fala sobre a proposta em entrevista ao estúdio epbr: Assista no YoutTube
Para Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), é preciso desenvolver políticas que olhem para a fonte como estratégia de descarbonização da indústria intensiva do país.
“Se a gente parar para pensar no volume de energia fóssil que é produzida no mundo, não tem outra fonte que consiga ser limpa, firme e com escala, como uma usina térmica nuclear”.
Em entrevista à epbr em novembro, ele destacou que, desde a COP26 (2021), um número crescente de países vem lançando programas para alavancar a construção de usinas, enquanto plantas antigas estão sendo descomissionadas.
Um levantamento da S&P Global, do início de 2023, indicava cerca de 160 GW de novas adições previstas até 2035, quase o dobro dos últimos 13 anos. Muito dessa nova capacidade foi motivada pela crise energética observada nos últimos anos.
No caso do Brasil, Cunha menciona o Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050), indicando que o país poderia construir de 8 GW a 10 GW de usinas nucleares.
Essa energia, apesar de mais cara, tem potencial de deslocar a geração térmica fóssil a óleo, carvão e gás, garantindo segurança no fornecimento de energia, uma vez que sua geração não depende de condições climáticas como as renováveis.
A questão do custo, segundo o presidente da Abdan, é administrável.
SMRs
Uma das apostas é a tecnologia dos pequenos reatores nucleares, “a nova grande sensação”, diz o executivo, porque por serem menores reduzem o tempo de construção e o risco financeiro. Além disso, a certificação vem de fábrica, o que permite ganho de tempo por causa da produção em escala e torna a solução mais competitiva.
“Vide a Polônia, que está instalando 20 SMRs para substituir as térmicas a carvão”, comenta Cunha.
Aqui no Brasil, a Abdan está trabalhando com o Complexo Jorge Lacerda, em Santa Catarina, em um piloto para substituir térmicas a carvão por reatores nucleares.
Os SMRs são módulos que variam de 50 MW a 300 MW e custam até US$ 500 milhões, enquanto uma usina tipo Angra 3, tem 1,2 mil MW, ou seja quatro vezes esse tamanho e custa cerca de US$ 5 bilhões, estima.
“Vamos pensar nesses pequenos reatores – são pequenos mesmo, cabem em um caminhão – como a descarbonização da nossa indústria. Pensar nas grandes siderúrgicas, que têm um problema de poluição. Hoje o aço verde tem preços fenomenais. Mas para isso, precisa transformar essa indústria em verde”.
Nesse caso, Cunha aponta que seria necessário apenas um ajuste na legislação que trata da autoprodução de energia para que a iniciativa privada possa investir na tecnologia.
Cobrimos por aqui:
- Industrialização verde atrai atenção do setor elétrico
- Brasil pode exportar hidrogênio verde na forma de aço
- Como será a energia da América Latina em 2050?
- Transição justa: mundo precisa triplicar renováveis, mas a que custo?
Curtas
Pico do carvão
Análise da Rystad Energy indica que o uso de carvão e as emissões no setor global de energia caminham para atingir o pico em 2023, à medida que novas fontes renováveis e de baixo carbono se expandem. A geração a carvão é prevista para cair marginalmente para 10.332 terawatt-horas (TWh) em 2024, uma redução de 41 TWh em relação a 2023.
Aeroporto carbono neutro
O BH Airport – operado pelo consórcio formado por Grupo CCR, Zurich Airport e Infraero – acaba de se tornar o primeiro aeroporto neutro em carbono do Brasil. A certificação concedida pelo Conselho Internacional de Aeroportos na América Latina e Caribe (ACI-LAC) avalia iniciativas em seis níveis.
Para que a neutralidade de carbono se tornasse uma realidade, o aeroporto também conhecido como Confins, em Belo Horizonte (MG), comprovou utilização de energia elétrica de fonte 100% renovável. Também investiu na implantação do projeto 400Hz (energia elétrica) + PCA (ar-condicionado para aeronaves) – para que as aeronaves em solo não precisem usar geradores a querosene.
No total, a redução das emissões de carbono diretas do aeroporto já acumulou mais de 4 mil toneladas, o que representa 57% das emissões que o BH Airport registrava no ano base em 2017.
Financiamento para elas
O BID Invest concedeu ao Sicredi um empréstimo de US$ 30 milhões com prazo de 7 anos para apoiar o crescimento de seu portfólio de micro, pequenas e médias empresas de propriedade de mulheres no Brasil. Pelo menos US$ 5 milhões do empréstimo serão destinados exclusivamente ao financiamento de negócios na região amazônica.
Inovação com biogás
A Associação Brasileira do Biogás (ABiogás) e o Instituto E+ Transição Energética assinaram nesta terça (5/12), em Dubai, um acordo de cooperação para incentivo a inovações tecnológicas, fomento a políticas públicas e de estudos de viabilidade técnica e econômica na área.
A parceria terá duração de 30 meses prorrogáveis por igual período, e prevê ainda o desenvolvimento de políticas públicas favoráveis ao uso de biometano, propondo diretrizes e regulamentações que incentivem a adoção dessa fonte de energia renovável.
ONS adere ao Pacto Global da ONU
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) passou a ingressar a iniciativa da ONU para mobilizar a comunidade empresarial na adoção e promoção de Dez Princípios universalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. Desde janeiro de 2023, o ONS também é signatário da iniciativa da ONU que trata dos Princípios de Empoderamento das Mulheres.