É importante enfatizar a importância das mudanças climáticas, da transição energética e do lugar de destaque que o Brasil pode tomar nestes processos.
Mais que isso, o Brasil pode se oportunizar e, ainda mais, contribuir para a mitigação de um problema que tende a prejudicar o bem-estar de todo o planeta.
As mudanças climáticas são uma realidade, a transição energética uma necessidade e como nosso país pode adentrar neste circuito e, além disso, gerar negócios e benefícios para nossa sociedade?
Muito se fala de possibilidades tecnológicas que, de fato, ainda não são viáveis. Pelo menos são inviáveis neste momento, no curto prazo. Problemas ainda relacionados ao desenvolvimento tecnológico, custos e escala de produção estão presentes.
Possibilidades são diagnosticadas, mas que ainda carecem de cálculos de probabilidade para a materialização. Alguns movimentos discutidos ainda são especulativos, sem serem resolutivos para os próximos anos.
Soluções integradas do curto ao longo prazo
No entanto, a emergência climática demanda respostas urgentes. Não estamos desprezando os desdobramentos futuros, mas buscando medidas de longo, mas também de curto e médio prazos. Considerar apenas soluções para o futuro não é suficiente.
É preciso propostas que preencham um contínuo de tempo, desde o presente até a algum momento mais longínquo de prazo.
Considerando esta questão, pensemos em soluções integradas de curto, médio e longo prazos, bem como as oportunidades trazidas pela economia verde no Brasil. Este será o foco de nossa análise.
Reiteramos que há uma necessidade de se reduzir as emissões de carbono equivalente, porém não há necessidade de desprezar nenhuma fonte de energia. Por que esta ênfase?
Somos tardios neste processo, mas o Brasil é uma potência petrolífera. Nosso grau de desenvolvimento não nos permite desprezar tamanha disponibilidade de recursos naturais, o que pode possibilitar pular alguns degraus na busca de um maior nível de desenvolvimento para toda a sociedade.
Então, a questão que se coloca é como investir em petróleo, em especial aquele do pré-sal e sua alta produtividade, e ainda ter uma atitude voltada para a descarbonização?
Gostaríamos de avaliar tudo do ponto de vista da responsabilidade climática, da eficiência, da exploração daquilo que o país pode fazer de melhor. Não somos contra subsídios, porém, nem de perto, nesta manifestação, queremos defendê-los. Buscamos soluções competitivas, produtivas e de mercado.
Vejamos. Inicialmente, imagine um poço de exploração de petróleo na costa brasileira associado a nossas águas profundas ou ultra profundas e, portanto, altamente produtivo. Conseguimos, primeiramente, desfazer a questão dos subsídios e dos custos pela citada produtividade do óleo extraído. Neste momento, no entanto, apenas conseguimos enfatizar que o óleo é extremamente competitivo.
Ainda não falamos nada sobre as questões ambientais, sobre a descarbonização e sobre a transição energética. Neste momento ainda estamos garantindo somente a eficiência energética, o que já representa um valor.
Eficiência, economicidade e responsabilidade socioambiental
Além disso, estamos falando do desenvolvimento de uma atividade produtiva muito importante com todos os seus desdobramentos em termos de geração de emprego e renda, num segmento que já temos competência técnica para sua exploração.
Não se trata de um setor em que ainda precisaríamos alocar grandes montantes de recursos para “aprender a fazer”, temos que destinar recursos para “fazer acontecer”. Logo, temos uma condição de eficiência e de economicidade. A solução energética isoladamente, no entanto, não é suficiente.
O primeiro ponto mitigador, mas não resolutivo dos problemas ambientais derivados da indústria, é que o óleo extraído no país apresenta um conteúdo de carbono equivalente muito inferior à maioria dos óleos explorados no mundo. Isso, contudo, ainda não é suficiente. Vamos adiante na análise.
Como continuar a explorar o óleo brasileiro, uma riqueza, e, além disso, ter responsabilidade ambiental? Como possibilitar segurança energética e, principalmente, segurança social, sem desabilitar a segurança ambiental? Poderíamos trilhar o caminho da busca pelas sinergias.
Na discussão sobre a exploração de petróleo há um longo questionamento sobre a reinjeção de gás natural. Esta técnica aumenta a produtividade em termos de óleo, mas, por outro lado, reduz a exploração do gás, que tem muitos usos industriais e pode representar um custo razoavelmente mais adequado quando comparado com o preço da energia elétrica no Brasil.
Mas, e se pudéssemos reinjetar outra coisa de forma a manter relativamente a produtividade em termos de óleo do poço, e, ao mesmo tempo, aumentar a exploração do gás natural?
De fato, a discussão ora em tela não está voltada unicamente para o gás natural, mas é complementada pelo gás natural. Considere a possibilidade de reinjetar, de forma a manter a produtividade do poço, outro componente diferente do gás natural (ou água).
Imagine a possibilidade de injetar nesses poços, até o momento que ele esteja depletado, gás carbônico (na verdade, podemos injetar gás carbônico mesmo depois de ele estar depletado).
Ao mesmo tempo em que estaríamos explorando petróleo e aumentando a disponibilidade de gás natural, reduzindo, dessa forma, o custo da energia – e aumentando a competitividade industrial brasileira –, estaríamos tirando da atmosfera o gás carbônico. Como?
Super utilização do potencial brasileiro
Seria o CCS (Carbon Capture and Storage, em inglês), que, traduzindo, significa captura e armazenamento de carbono. Numa etapa posterior ainda poderia ter o uso do carbono.
Então, poderíamos dar continuidade à exploração do petróleo brasileiro, aumentar sua produtividade e, ao mesmo tempo e no mesmo local, armazenar carbono? Exatamente.
Tudo isso nos parece uma real possibilidade e uma melhoria de Pareto [alocação de recursos da forma mais eficiente]: conseguiríamos melhorar a situação brasileira ao mesmo tempo em que cuidaríamos das questões climáticas. Nossa análise, contudo, ainda não está completa.
Suponha que nestas mesmas plataformas e poços ao longo da costa brasileira, além de explorar o petróleo, melhorar a exploração de gás natural e ainda injetar gás carbônico da atmosfera, pudéssemos produzir hidrogênio azul ou verde.
Considere a colocação de geradores nestas mesmas plataformas e a possibilidade de instalação simultânea de sistemas de geração de energia eólica offshore?
Teríamos inclusive a produção do hidrogênio verde. O hidrogênio azul nem necessitaria do sistema eólico. De outra forma, o que estamos buscando demonstrar é que há um monumental espaço para sinergias.
Há a possibilidade de criação de uma grande cadeia de valor, onde não desprezamos os recursos naturais do pré-sal ao mesmo tempo em que se trabalha pela segurança energética sem descuidar da segurança climática.
O que estamos propondo é uma super utilização das possibilidades disponibilizadas pela economia brasileira a partir de nossas competências existentes e vantagens comparativas, inclusive a disponibilidade de recursos naturais e clima adequado.
Cuidar do meio ambiente mundial sem descuidar do desenvolvimento é tecnologicamente viável num espaço factível de tempo, e não numa mera promessa de futuro.
Teríamos, no mesmo lugar, extração de petróleo e gás natural, captura e armazenamento de carbono, produção de energia eólica offshore e, ainda, produção de hidrogênio azul ou verde.
O que estamos esperando? Talvez marcos regulatórios e a segurança jurídica necessária. Com a citada segurança jurídica/regulatória haverá um mobilização de capitais possibilitada pela própria agenda climática.
Fernando Antônio Ribeiro Soares é Professor Convidado da Fundação Dom Cabral e Professor Colaborador do IDP.
Este artigo expressa exclusivamente a posição do autor e não necessariamente da instituição para a qual trabalha ou está vinculado.