RIO – Novos casos de quedas no fornecimento de energia na área de concessão da Enel em São Paulo intensificaram as críticas do prefeito Ricardo Nunes (MDB) à distribuidora.
Em conversa com jornalistas esta semana, o prefeito afirmou que a companhia teria mentido em relação à quantidade de equipes que disponibiliza para restabelecer a energia.
“O presidente mundial da Enel me pediu uma reunião, mas estou resistindo a fazer, porque não tem mais o que conversar com essa turma, são irresponsáveis. Minha relação com a Enel é essa: ficar brigando com esses irresponsáveis enquanto defendo os interesses da cidade”, disse o prefeito na terça-feira (10/12), depois que a falta de energia prejudicou um evento em que participaria em uma universidade, segundo informações da CNN.
Procurada, a Enel optou por não se pronunciar.
A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP) notificou a companhia nesta quinta (11/1) a prestar esclarecimentos sobre as providências tomadas para atender os consumidores que tiveram problemas no fornecimento de luz depois das fortes chuvas esta semana.
O órgão recebeu mais de 500 reclamações contra a companhia nos 11 primeiros dias do ano. Ao longo de todo o ano passado, foram quase 20 mil queixas.
Com a nova crise, a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) divulgou nota em que afirma que os eventos climáticos extremos se intensificaram no Brasil nos últimos anos e têm exigido das distribuidoras uma “intensa revisão dos planos de contingência”.
“A Abradee reforça a importância do diálogo institucional respeitoso entre os agentes públicos e as concessionárias de energia como iniciativa primordial na construção integrada de soluções de mitigação de impactos imediatos à população e aos desafios futuros”, disse a associação.
A entidade também afirma que espera que “as equipes de eletricistas que atuam para o restabelecimento da energia avancem na medida em que as condições de segurança das regiões afetadas sejam liberadas pelas autoridades locais”.
Crise às vésperas da corrida eleitoral
A crise na relação entre a Enel e a prefeitura paulistana começou em novembro de 2023, quando tempestades atingiram o estado de São Paulo e levaram 4,2 milhões de residências a ficarem sem luz em sete diferentes áreas de concessão. Parte dos consumidores da capital, atendida pela Enel, chegaram a ficar sem luz por cinco dias.
À época, Nunes foi criticado por participar de eventos esportivos na cidade, em meio aos blecautes. A crise serviu ao deputado federal Guilherme Boulos (Psol), ambos pré-candidatos à corrida pelo comando da capital.
Mesmo depois do restabelecimento do suprimento, a capital do estado voltou a apresentar quedas de luz ao longo do mês de novembro, quando o país atravessava uma onda de calor que elevou o uso de ar-condicionado e o consumo de energia.
As ocorrências levaram a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a reguladora estadual, a Arsesp, a abrir um processo de fiscalização para verificar se o atendimento da companhia foi adequado. Também foi aberta uma CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
Naquele mês, a companhia também enfrentou problemas de fornecimento depois de um temporal no estado do Rio que deixou Niterói e outras cidades fluminenses sem energia.
O prefeito de São Paulo afirmou que iria pedir o cancelamento do contrato de concessão da distribuidora à agência reguladora. O pedido de Nunes, no entanto, não teria lastro jurídico, pois as concessões de distribuição de energia são de competência federal.
Nunes é pré-candidato à reeleição no pleito de outubro de 2024. O atual prefeito disputa com o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL) o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa contra Guilherme Boulos, que vai concorrer com o apoio do presidente Lula (PT).
Essa semana, a ex-prefeita Marta Suplicy deixou o cargo na prefeitura para ingressar na chapa com Boulos. Ela voltará a ser filiada ao PT.
A italiana Enel passou a ser responsável pela distribuição de energia elétrica para a cidade de São Paulo e outros 23 municípios da região metropolitana em 2018, quando comprou 73% da Eletropaulo por R$ 5,5 bilhões.
Além da concessionária de São Paulo, a Enel também atua na distribuição nos estados do Rio de Janeiro e Ceará, assim como na geração e comercialização de energia elétrica.
Em 2022, a companhia optou por vender a concessionária do estado de Goiás para a Equatorial. A desistência da concessão goianiense ocorreu depois de fortes críticas do governador Ronaldo Caiado (União) à qualidade do serviço prestado.