BRASÍLIA — O uso de energia elétrica para cozinhar cresceu quase dez vezes entre 2005 e 2021 no Brasil, de acordo com o Atlas de Eficiência Energética 2022, recém-publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
O estudo mostra que o percentual de domicílios que usam eletrodomésticos — como microondas, cooktop, fritadeiras air fryer e forno elétrico — para o preparo de alimentos saltou de 7% para 73% no período.
Apesar desse crescimento da eletrificação em 16 anos, o gás de cozinha — ou GLP (sigla para gás liquefeito de petróleo) — ainda é a principal fonte de energia para cozinhar nos domicílios.
O gás de cozinha continua com grande capilaridade no Brasil. Ao todo, 95% dos lares brasileiros usam GLP. Em 2005, eram 85% dos domicílios.
Já o uso de gás natural para a cocção de alimentos ainda é limitado: apenas 6% dos domicílios usam a fonte em todo o país. Esse percentual era quase nulo em 2005.
A utilização de gás natural cresce na medida em que se estabelece uma infraestrutura de distribuição nas áreas urbanas das cidades brasileiras.
Eletrificação da cozinha deve continuar
A tendência é que o uso dos utensílios elétricos nos domicílios continue avançando, sendo impulsionado pelo crescimento da demanda de compras pela internet.
Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), em 2022, os eletrodomésticos representaram quase 20% de todo o faturamento nacional de vendas por e-commerce.
Em 2020 e 2021, com a alteração dos hábitos domésticos devido à pandemia da covid-19, o consumo de aparelhos elétricos cresceu rapidamente.
De acordo com levantamento da GfK, empresa de estudos sobre varejo, as vendas da air fryer — ou fritadeira elétrica — aumentaram 32% entre janeiro e outubro de 2021, se comparado ao mesmo período do ano anterior.
Os fornos elétricos registraram um aumento de 16,8% no faturamento e o crescimento de 4,3% em unidades vendidas de janeiro a dezembro de 2021, segundo uma pesquisa da mesma consultoria.
Uso de lenha aumenta após crise econômica
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2019 (PNAD Contínua) mostraram que 99,8% dos lares no Brasil contavam com acesso à eletricidade, por rede de distribuição convencional ou por fontes alternativas.
Mesmo assim, as biomassas tradicionais, como lenha e carvão vegetal, voltaram a ganhar espaço, ocupando 20% da participação no percentual de domicílios examinados até 2021.
Entre 2005 e 2015, o uso de lenha e carvão vegetal para cozinhar apresentou queda nas residências, principalmente devido ao progresso financeiro de famílias mais desfavorecidas no país.
A partir de 2015 até 2021, houve um movimento de reversão desse cenário, impulsionado pelo agravamento da situação econômica com a crise internacional de covid-19 e a guerra na Ucrânia.
Uma pesquisa do Ipec, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS), concluiu que 46% das famílias brasileiras utilizam mais da metade da renda nas contas de energia elétrica e gás. Ou seja, quanto menor a renda familiar, maior é a proporção da renda comprometida com os gastos.
Embora as biomassas tradicionais sejam economicamente mais viáveis, seu uso tem riscos para a saúde, devido à exposição aos materiais particulados. Além disso, pode trazer impactos negativos ao meio ambiente.
Os indicadores revelam a necessidade de políticas públicas que garantam acesso à eletricidade para as populações de baixa renda, cujas famílias enfrentam carência de recursos para lidar com necessidades básicas que vão além da alimentação.