Diálogos da Transição

Mercado livre de energia cresce 19% até janeiro

Ao todo, 4.957 novas unidades consumidoras aderiram ao mercado livre no período de 12 meses até o primeiro mês do ano

Mercado livre de energia cresce 19% até janeiro, com alta parcela de renováveis. Na imagem: Geração centralizada de energia solar fotovoltaica e eólica onshore (Foto: Cornell Frühauf/Pixabay)
Geração centralizada de energia solar fotovoltaica e eólica onshore (Foto: Cornell Frühauf/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Levantamento da Abraceel (associação dos comercializadores de energia) mostra que, em um ano, houve um crescimento de 19% no ambiente de contratação onde os consumidores negociam diretamente com os fornecedores de energia.

Ao todo, 4.957 novas unidades consumidoras aderiram ao mercado livre no período de 12 meses até janeiro de 2023. Agora, 31.686 unidades consumidoras, agrupadas em 11.149 consumidores estão na modalidade. Cada unidade consumidora equivale a um medidor de energia.

Clientes no mercado livre consomem 91% da energia de usinas a biomassa, 57% de PCH, 45% das eólicas e 52% dos parques solares centralizados. Ao todo, 52% das fontes incentivadas.

O crescimento é liderado pela indústria, que já tem 90% da sua demanda por eletricidade atendida desta forma, afirma a Abraceel. Um dos motivos é a economia na conta de energia: pelos cálculos da associação, a diferença chega a 62%.

Em fevereiro de 2023, o custo da energia, que é um dos componentes da tarifa elétrica, foi de R$ 279/MWh no mercado regulado e de R$ 106/MWh do mercado livre.

“Trata-se de um benefício gigantesco que apenas uma pequena parcela dos consumidores de energia pode usufruir por falta de decisão legislativa e normativa”, aponta Rodrigo Ferreira, presidente-executivo da Abraceel.

A associação tem defendido abertura completa do mercado — que a partir de 2024 receberá consumidores com carga individual inferior a 500kW –, com a aprovação dos textos da modernização do setor elétrico.

A cogeração de energia superou a marca de 20 GW

Dados da Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia) mostram que, no final de março, a cogeração em operação comercial no Brasil alcançou 20,5 GW, um crescimento de 4% na comparação anual.

A modalidade representa 10,8% da matriz elétrica brasileira (191,4 GW). São 654 usinas, a maioria (387) utilizando bagaço de cana-de-açúcar, com capacidade instalada de 12,3 GW.

Em segundo lugar, no ranking, está o licor negro, com 21 usinas somando 3,4 GW. Já a cogeração a gás natural tem 93 usinas, e 3,1 GW instalados. Além de cavaco de madeira (880 MW), biogás (376 MW) e outras fontes (299 MW). A cogeração é uma energia produzida próxima aos pontos de consumo.

Newton Duarte, presidente executivo da Cogen, afirma que há um potencial expressivo de crescimento no segmento, especialmente com o aproveitamento da cana e seus resíduos, como vinhaça e torta de filtro, e o biometano.

“Também apostamos no crescimento da cogeração a gás natural, principalmente com as perspectivas de novos ofertantes da molécula a preços mais competitivos, fator que pode trazer uma maior viabilidade para os projetos de cogeração”, diz.

E geração própria com solar também alcançou 20 GW

Em outra frente, entre os consumidores de menor porte, a geração própria com painéis solares instalados nos telhados e terrenos alcançou 20 gigawatts (GW) de potência em abril, de acordo com dados da Aneel.

A solução começou o ano em um ritmo ainda mais acelerado do que em 2022. Entre janeiro a abril deste ano, o segmento adicionou ao sistema 2,1 GW de potência, ante 1,7 GW no mesmo período de 2022, segundo dados consolidados pela Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD).

Solar representa 99% da capacidade. São mais de 1,8 milhão de sistemas fotovoltaicos conectados à rede, com cerca de 2,4 milhões de unidades consumidoras.

São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso lideram nas instalações. Regiões com incentivos estaduais para a fonte.

As instalações também estão muito associadas à renda dos consumidores: aqueles com poder aquisitivo maior conseguem fazer o investimento nos equipamentos e têm acesso a financiamentos.

Para ampliar o acesso à geração distribuída (GD) solar, especialmente à população de baixa renda, Ministérios de Minas e Energia e das Cidades estudam uma parceria com o Minha Casa, Minha Vida para instalação de painéis em prédios e residências.

Curtas

Autoridade Climática depende de orçamento

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), disse que espera poder tirar “em breve” a nova entidade do papel. Ela condicionou a criação do órgão, no entanto, a “um melhor desempenho fiscal”.

“Se Deus quiser, em breve, como parte dos compromissos do presidente Lula de criar a Autoridade Nacional do Clima, e isso vai acontecer à medida que tenhamos um melhor desempenho fiscal”, afirmou, em evento transmitido pelas redes sociais.

Os US$ 100 bi para o clima

Lula voltou a cobrar nesta quinta (20/4) a destinação de recursos, pelos países ricos, para sustentar ações climáticas.

Na esteira das declarações recentes sobre a Guerra na Ucrânia — e a independência do Brasil entre os polos do conflito — o presidente afirmou que “não há sustentabilidade num mundo em guerra”. Mas, “além da paz, é urgente buscarmos uma relação de confiança entre os países”.

Isto é: “o financiamento climático oferecido pelos países desenvolvidos mantém-se aquém da promessa de 100 bilhões de dólares por ano. Como disse no início, é preciso que todos façam a sua parte”. Lula participou do Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima.

US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia

No fórum, Joe Biden anunciou que vai buscar a aprovação do valor para “para ajudar o Brasil a renovar seus esforços para acabar com o desmatamento até 2030”. Valor é dez vez maior que o inicialmente previsto após a viagem de Lula aos EUA.

Políticas para energia limpa

Deputados e senadores lançaram, esta semana, a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Transição Climática Justa. O grupo reúne 210 parlamentares em prol da economia de baixo carbono e terá na transição energética e no mercado de carbono dois dos eixos temáticos de sua agenda.

A frente vê nas renováveis um importante vetor da descarbonização e promete defender a disseminação das energias limpas entre as diferentes regiões do país.

E plano de trabalho para hidrogênio

A Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde (CEHV) aprovou, em reunião nesta quarta-feira (19), o plano de trabalho até o final do ano. Presidida pelo senador Cid Gomes (PDT-CE), a comissão tem o senador Otto Alencar (PSD-BA) como relator.

A primeira audiência pública será feita na próxima quarta-feira (26/4) para debater o papel do hidrogênio verde na descarbonização das economias. Devem participar os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do Meio Ambiente, Marina Silva, além de representantes das embaixadas da Alemanha, China, Arábia Saudita, Holanda, Coreia do Sul, Chile, Estados Unidos e Canadá.

Eólica na produção de aço

ArcelorMittal e Casa dos Ventos vão formar uma joint venture para desenvolver um projeto de energia eólica de 553,5MW. A ArcelorMittal Brasil terá 55% de participação na JV, com a Casa dos Ventos detendo os 45% restantes. A transação foi aprovada pelo Cade em 12 de abril e será concluída nos próximos 15 dias.

Segundo a multinacional de aço, o projeto de cerca de R$4,2 bilhões pretende assegurar e descarbonizar uma parte considerável das necessidades futuras de eletricidade das operações da empresa no Brasil. A estimativa é atender 38% das necessidades totais de eletricidade da ArcelorMittal no Brasil em 2030.

Vale a pena investir em edifícios inteligentes?

Com sistemas automatizados e interligados, é possível aumentar a eficiência energética, segurança, usabilidade e acessibilidade, contribuindo para a redução do consumo e das emissões, avalia Pedro Okuhara.