Diálogos da Transição

Maioria das geradoras renováveis carece de políticas de gênero na América Latina

Emprego das mulheres é considerado um fator crítico para o crescimento econômico da América Larina e Caribe, segundo estudo do BID

Maioria das geradoras renováveis carece de políticas de gênero na América Latina. Na imagem, duas mulheres trabalham em frente a tela de computador (Foto: StartupStockPhotos/Pixabay)
De acordo com o BID, 68% das empresas pesquisadas na Bolívia, Chile, Costa Rica, México, Panamá e Uruguai não tinham uma política de gênero em vigor (Foto: StartupStockPhotos/Pixabay)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com 102 empresas de geração de energia renovável da América Latina e Caribe aponta que as companhias mais eficientes na relação capital-trabalho são aquelas com maior participação de mulheres.

Ainda assim, a diversidade está longe do ideal e nem mesmo os novos empregos em geração renovável estão conseguindo fechar a lacuna.

De acordo com o BID, 68% das empresas pesquisadas na Bolívia, Chile, Costa Rica, México, Panamá e Uruguai não tinham uma política de gênero em vigor.

“Já sabemos a importância das políticas de gênero e equidade, mas este estudo mostra que existe uma relação entre diversidade de gênero e eficiência econômica em empresas de geração renovável”, comenta Michelle Hallack, especialista sênior no BID.

O emprego das mulheres é considerado um fator crítico para o crescimento econômico da América Larina e Caribe.

A estimativa do banco é que o PIB da região poderia crescer em US$ 2,5 trilhões se a disparidade de gênero na força de trabalho fosse totalmente eliminada — em todos os setores.

Mudaram a tecnologia, nada mudou

O setor energético global está passando por grandes transformações e carrega junto a promessa de trazer novas oportunidades para compensar o fechamento de vagas em indústrias convencionais, como o carvão.

Mas os novos empregos correm o risco de repetir velhos padrões.

Uma das conclusões da pesquisa é que não houve mudança estrutural nos papéis que as mulheres ocupam, ao comparar empresas de renováveis ​​com outras de geração.

Nos postos de tomada de decisões, por exemplo, a proporção de mulheres na diretoria e em cargos de gestão é de 24% e 22%, respectivamente — não muito diferente da média geral, 22% e 29%.

Considerando o tamanho, aquelas com maior capacidade de geração instalada tendem a contratar mais mulheres, mas elas ocupam principalmente cargos não técnicos — a participação das mulheres diminui em cargos que exigem ocupações mais técnicas.

As mulheres representam 36% dos funcionários STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), 39% dos funcionários não-STEM e 48% dos funcionários não qualificados das empresas de geração renovável pesquisadas.

“Este estudo confirma que uma mudança na tecnologia por si só não gera mudanças qualitativas no mercado de trabalho na perspectiva de gênero”, dizem as pesquisadoras.

Para alavancar mudanças reais, serão necessárias políticas de inclusão capazes de incentivar as mulheres a estudar carreiras relacionadas à ciência e tecnologia, apontam.

Cobrimos por aqui:

O cenário não é melhor no Brasil

Um estudo publicado em julho do ano passado pela empresa de seleção de executivos FESA Executive Search revela que, nas 25 principais empresas de energia que atuam no Brasil, apenas 6% dos cargos de liderança são exercidos por mulheres.

O levantamento considerou a partição feminina em posições de CEO ou líder de áreas como operações, manutenção, novos negócios e engenharia e construção.

Já nos cargos de direção, as mulheres representam 19%, enquanto em posições de apoio ao negócio, como nas áreas jurídico e regulatório, RH, financeiro ou comunicação, o número chega a 13%.

A situação é um pouco melhor em companhias de capital europeu.

Nelas, a média de mulheres na alta liderança é de 39%, enquanto empresas de origem brasileira e norte-americana possuem 22% e 11% de mulheres, respectivamente.

Ambição e consistência

Um grupo de mais de 500 investidores, com US$ 39 trilhões em ativos para alavancar as ações governamentais, lançou na última semana uma declaração cobrando dos governos a execução de políticas climáticas mais consistentes e ambiciosas.

Declaração Global de Investidores de 2022 pede planos obrigatórios de transição climática e a regulamentação das empresas, para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C até 2100.

Os investidores querem estratégias de médio e longo prazo como a transição energética, o fim do desmatamento, o reforço do fomento climático e o fortalecimento de divulgações climáticas no sistema financeiro.

Parceria na aviação

Raízen e Azul anunciaram nesta segunda (19/9) a assinatura de um contrato de fornecimento de produtos derivados de petróleo para aviação. O acordo torna a Raízen a distribuidora de combustível de aviação para a Azul, inicialmente em 45 aeroportos brasileiros.

Além disso, a parceria poderá desenvolver iniciativas envolvendo o fornecimento de energia elétrica gerada pela Raízen através de geração distribuída e comercialização de combustível sustentável de aviação (SAF).

Para a agenda

19 a 25/9 — Começou hoje a vai até dia 25 a New York Climate Week 2022. O encontro, que ocorre simultâneo à Assembleia Geral das Nações Unidas, reúne os líderes mais influentes em ação climática de empresas, governo e comunidade climática.

Na quarta (21/9), o Climate Action Tracker realiza um evento virtual para analisar e comparar as metas de emissões líquidas zero de algumas dezenas de governos, e o que precisa acontecer até a COP27. A participação ocorre via Zoom

20/9 — Nesta terça, o 1º Congresso Brasileiro de CCS vai discutir o papel da captura e armazenamento de carbono na transição da indústria de óleo e gás, o potencial de combinação na produção de bioenergia e perspectivas regulatórias, entre outros. Programação e inscrições no site do evento

22/9 — Painel da Schneider Electric no seu Innovation Summit World Tour 2022, vai debater redes inteligentes, tendências, desafios e inovações na área de distribuição de energia.

Liderado por Frederic Godemel, vice-presidente executivo de Power Systems e Services da Schneider Electric, o painel abordará as principais questões que envolvem a smart grid no mundo e as possibilidades de crescimento do mercado. É necessário fazer inscrição no site

março/23 — A Enel e a Campus Party lançaram a 3ª edição do PlayEnergy, um concurso digital internacional para estudantes entre 14 e 20 anos. Por meio de uma experiência gamificada de ficção científica, os participantes devem descobrir como as fontes renováveis podem ajudar a combater as alterações climáticas e como eles mesmos podem contribuir para um futuro mais sustentável.

As inscrições estão abertas até 5 de março de 2023 a estudantes do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Grécia, Itália e Peru. Os alunos e professores premiados pela iniciativa vão receber vales-presentes de 500 a 1000 euros. Informações e inscrições no site