BELÉM – Nas regiões Norte e Nordeste, 175 localidades seguem fora do Sistema Interligado Nacional (SIN), rede que conecta todo o setor elétrico no Brasil. A interligação desses sistemas isolados representa uma oportunidade de mudança na dinâmica econômica das pequenas cidades e reduz os gastos na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), custeada por todos os consumidores do país.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2023 os gastos com combustíveis para a geração nessas regiões ficou em R$ 7,4 bilhões.
Pela falta de interligação, hoje a geração que abastece essas populações é feita no local, predominantemente a partir do óleo diesel, ou seja, é cara, barulhenta e poluente. Quando as distribuidoras encontram viabilidade econômica para interligar os sistemas isolados, as obras levam melhoria para as populações.
A agência eixos esteve nas ilhas de Cotijuba, Paquetá e Jutuba, que pertencem à região metropolitana de Belém, no Pará.
Não há pontes que ligam a capital a essas ilhas e o transporte é feito via barco. A população desses lugares geralmente se divide entre a pesca e o cultivo do açaí, intercalando as atividades ao longo do ano.
Com conclusão prevista para o primeiro semestre de 2025, a interligação de Cotijuba ao SIN está em curso e é conduzida pela Equatorial Pará, com um investimento previsto em R$ 61,4 milhões.
As obras vão possibilitar que a termelétrica local seja desativada. Quando o projeto for concluído, Cotijuba terá acesso a um volume de energia quatro vezes maior do que o atual. A usina que atende essa localidade atualmente consome 150 mil litros de combustível por mês, o que emite 440 toneladas de CO2.
A interligação, no entanto, ainda não é uma perspectiva para todas as regiões. Em Paquetá e Jutuba, 275 famílias de ribeirinhos receberam kits de geração de energia solar remota do programa Luz Para Todos, já que ainda não há perspectiva para a conexão ao sistema.
Desafios
As equipes da distribuidora de energia trabalham para entregar a obra de Cotijuba dentro do prazo. Entre os desafios envolvidos estão a passagem de cabos subaquáticos e a construção de torres em ilhas sem infraestrutura.
Cada metro do fio subaquático pesa 32 quilos e a obra prevê que sejam instalados dois deles, para menos risco de interrupções no serviço.
As linhas de distribuição contam com torres de até 60 metros de altura, para evitar o contato com a vegetação. A sustentação dessas estruturas é feita por ferragens de até 30 metros no subsolo.
Outra complicação é a falta de mão de obra qualificada nas ilhas, por conta da população carente. Profissionais de Belém e de outras cidades são destacados para trabalhar nas obras.
Impactos
Para o vigilante Luciano Coelho Duarte, a obra de interligação traz sentimentos mistos. Ele trabalha na usina termelétrica local, mas entende que a energia firme que chegará pode trazer desenvolvimento para a ilha de Cotijuba, como um estímulo ao turismo.
“Aqui é um pouco difícil em relação a emprego. As pessoas precisam buscar em outros lugares. Se tivesse mais trabalho, as pessoas poderiam ficar aqui. Eu não troco esse lugar por nada. Aqui é uma paz. Podemos sentar na porta de casa, bater um papo, sem preocupação”, disse.
A repercussão da interligação já foi percebida pela pensionista Maria Oneide Coelho. Um dos filhos e o genro conseguiram empregos nas obras.
Mas a principal vantagem será uma possível diminuição no preço da conta de luz. Atualmente, a moradora de Cotijuba paga entre R$ 300 e R$ 400 por mês, embora viva em uma casa simples, com eletrodomésticos básicos.
“Eu tenho geladeira, televisão e ventilador, mas a conta vem muito alta. Só não vem mais cara porque eu desligo uma parte dos aparelhos”, disse.
O jornalista viajou a convite da Equatorial Pará