Diálogos da Transição

Industrialização verde atrai atenção do setor elétrico

Gigantes do setor elétrico brasileiro apostam em soluções para a eletrificação da indústria nacional

Industrialização verde no Brasil atrai o interesse do setor elétrico. Na imagem: Vista aérea da planta da refinaria de alumina da Alunorte em Barcarena (PA), onde há caldeiras elétricas em operação (Foto: Divulgação Hydro)
Refinaria de alumina da Alunorte em Barcarena (PA), com caldeiras elétricas em operação (Foto: Divulgação Hydro)

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Editada por Gabriel Chiappini
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Duas gigantes do setor elétrico brasileiro, a Comerc – por meio da Comerc Eficiência – e a Casa dos Ventos, apostam em soluções para a eletrificação da indústria nacional, de olho nos estímulos à industrialização e na taxação de carbono no mercado europeu.

Um dos caminhos é a substituição de caldeiras, hoje movidas à gás natural e outros combustíveis fósseis, por caldeiras elétricas, que ajudam a indústria a reduzir suas emissões de carbono.

“A eletrificação é, sem dúvida alguma, na minha opinião, um dos caminhos da baixa pegada de carbono”, diz Marcel Haratz, presidente da Comerc Eficiência, em entrevista à agência agência epbr.

A ideia é entrar como serviço: alugar as caldeiras e fornecer a energia renovável. “Com isso vamos ter um vapor 100% renovável. É descarbonização na veia”, completa Haratz.

A utilização de caldeiras elétricas já é competitiva nas regiões Sudeste e Sul, em comparação a caldeiras a gás natural, segundo levantamento da companhia.

Isso sem levar em conta a possibilidade de emissão de créditos de carbono, ou até mesmo a necessidade de escapar de uma taxação de carbono.

CBAM muda o jogo

Na avaliação do executivo, as indústrias que trabalham com exportação vão abraçar mais rapidamente o benefício da eletrificação. “Se levarmos em consideração que no futuro vai ser taxado sobre o CO2, no que exportar, se eu tiver uma caldeira elétrica eu vou reduzir essa possível taxação”.

Ele se refere em especial ao ao Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) O plano europeu para precificar o carbono das importações para a União Europeia, que inclui a taxação de ferro, aço, cimento, fertilizantes, alumínio, a produção de hidrogênio e eletricidade.

A opinião é compartilhada por Itamar Lessa, diretor de comercialização da Casa dos Ventos. “O CBAM é um game changer e o Brasil tem uma competitividade natural em relação à característica das emissões”, disse Lessa.

A companhia também trabalha em soluções para descarbonizar as atividades industriais, como a mineração e a siderurgia. Lessa acredita que a eletrificação no processamento de minerais pré-exportação, como o HBI, pode induzir o crescimento da indústria nacional.

“Enquanto representamos 18 % do minério de ferro no mundo, representamos só 2 % do aço (…) A mineração brasileira vai ter uma janela de oportunidade, uma vantagem super competitiva para atrair os clientes, os off-takers dela, para se posicionarem no Brasil para uma etapa intermediária”.

E a tal neoindústria?

O Plano Plurianual (PPA) para 2024-2027, enviado ao Congresso Nacional, tem como uma de suas prioridades a chamada neoindustrialização, prevendo R$ 900 bilhões em quatro anos para o programa.

O objetivo geral deste programa, segundo o PPA, é “ampliar a inovação, a produtividade e a competitividade em direção a uma economia verde”.

Um dos fóruns é o Comitê Técnico da Indústria de Baixo Carbono (CTICB), coordenado pelo MDIC, que tem entre as frentes de estudo a descarbonização e transição energética da indústria.

Existe ainda a expectativa de políticas públicas que englobam a temática dentro do futuro plano de transição ecológica, as ideias tocadas pelo Ministério da Fazenda, a exemplo do avanço na emissão dos títulos soberanos sustentáveis, que carimbam o orçamento público.

“Os movimentos que o governo está fazendo da criação das políticas são muito positivos, e estão totalmente aderentes ao que é a plataforma de descarbonização e eficiência energética”, diz o presidente da Comerc Eficiência, Marcel Haratz.

Janela curta

Assim, o Brasil tem que correr na aplicação dessas políticas e aproveitar o que hoje é uma vantagem do país: um grid 90% renovável.

“Essa oportunidade é perecível. O mundo todo está trabalhando para chegar a um grid parecido com o nosso. Hoje, estamos na vantagem, então é muito importante a questão do time”, ressalta Lessa.

No início do ano, a companhia anunciou uma joint venture com francesa TotalEnergies, avaliada em R$ 12,6 bilhões, para expandir a capacidade de atuação em novas fronteiras como hidrogênio, amônia e eólica offshore.

Casa dos Ventos também tem um pré-contrato com o Complexo Portuário do Pecém (CIPP), no Ceará, para a instalação de unidade fabril de produção de hidrogênio e amônia verde. O projeto, em parceria com Comerc Eficiência, está previsto para começar a operar em 2026.

Curtas

Eólicas offshore

A Ocean Winds (OW), empresa dedicada à energia eólica offshore e criada como uma joint venture 50-50 em 2020 pela EDP Renewables e pela Engie globais, e a Prumo Logística, dona do Porto do Açu, assinaram nesta terça (12/9) um memorando de entendimentos para promover iniciativas de energia eólica offshore no país.

OW já conta com 15 GW em projetos eólicos offshore no Brasil em licenciamento, e a Prumo 2 GW.

Investimentos verdes

A Amcham, Câmara de comércio e investimentos entre Brasil e Estados Unidos, e a Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria (SEV) do MDIC assinaram um memorando de entendimento para impulsionar o diálogo público-privado em políticas ambientais.

“Vai gerar um trabalho em conjunto com a Amcham que será fundamental para desenvolver boas regulações para o Brasil até a COP 28 e ajudará no cumprimento efetivo pelas empresas”, afirma o secretário Rodrigo Rollemberg.

Grandes áreas. A Amcham enviou ao governo propostas em seis grandes áreas: florestas e agricultura sustentável; energias eólica, solar e hidrogênio verde; descarbonização; combustíveis de aviação sustentáveis; eletrificação da frota; e financiamento para a sustentabilidade.

Amônia x metanol

Análise da S&P Global aponta que a amônia verde deve ser mais viável que o e-metanol para descarbonização do transporte marítimo no longo prazo. Tanto a produção de e-metanol como a de amônia requer hidrogênio renovável, mas o primeiro também precisa de carbono biogênico capturado e o segundo não.

Hoje, o metanol verde surge como um combustível alternativo favorito, enquanto a amônia ainda é uma rota em desenvolvimento. Entretanto, a produção de amoníaco limpo deverá atingir 87,5 milhões de toneladas em 2030, em comparação com 14,3 milhões de toneladas de metanol limpo, de acordo com a previsão da ABS.