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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Estudo lançado nesta sexta (26/5) pela Coalizão Energia Limpa afirma que tornar o sistema elétrico brasileiro mais resiliente é possível, inclusive, em função da própria mudança climática.
Segundo os pesquisadores, os modelos climáticos apontam para um incremento nos ventos e na radiação solar na região Nordeste, o que intensifica o potencial desta localidade de ser uma grande exportadora de energia renovável.
Por outro lado, apontam para a alta vulnerabilidade da matriz elétrica frente às alterações climáticas e eventos extremos como secas prolongadas cada vez mais frequentes.
“Quase 60% de toda a eletricidade do país é hidrelétrica. Se de um lado esta energia renovável não contribui para piorar a crise climática, por outro é extremamente vulnerável aos seus efeitos”.
Como exemplo, cita os modelos tradicionais de previsão da precipitação e dimensionamento da operação dos reservatórios, que não estão apresentando resultados consistentes, mesmo para horizontes curtos.
“A busca por modelos de previsão e projeção das variáveis climáticas cada vez mais assertivas é imperativo para enfrentar os desafios da mudança climática”.
O estudo foi elaborado por organizações abertamente críticas à contratação compulsória de 8 GW termelétricos a gás previstos na lei de privatização da Eletrobras.
E propõe, além de uma avaliação mais aprofundada, pelo poder público, das vulnerabilidades climáticas da geração de energia no Brasil, o foco na construção de um sistema diversificado – sempre observando onde cada fonte faz sentido no cenário de mudança climática.
Diversificando
Por exemplo, no Norte e Nordeste, onde, segundo os modelos, existe previsão de diminuição da precipitação, a recomendação é não incluir novas hidrelétricas e apostar na eólica e solar. Veja o sumário executivo (pdf)
“Promover a diversidade nos sistemas de energia, tanto em termos de produção de energia quanto de tipos de consumo de energia, aumenta a resiliência desses sistemas”, defende a coalizão.
A proposta é complementar os fornecimentos tradicionais de energia (petróleo,
gás natural, carvão, energia nuclear e hidrelétrica) com novas tecnologias de geração, a maioria relacionada a fontes renováveis.
“Esses novos tipos de tecnologias incluem tecnologias expansivas de energia solar, eólica, geotérmica, de biomassa e de energia oceânica para geração de energia. A medida da diversidade pode, assim, ser uma boa avaliação da resiliência”, lista o documento.
Como solução à intermitência – quando não houver sol para os painéis fotovoltaicos, ou vento para as turbinas eólicas – baterias e hidrogênio.
“Uma alternativa adicional para enfrentar a ameaça climática seria dispor de tecnologias de armazenamento como baterias, hidrogênio verde, usinas hidrelétricas reversíveis etc. Dessa
forma, a necessidade de termelétricas fósseis ocorreria apenas em situações emergenciais e transitórias”, recomendam os pesquisadores.
Contra expansão de térmicas a gás
Com o estudo lançado hoje, as organizações se propõem a apresentar caminhos para o planejamento energético priorizar as renováveis, sem precisar recorrer a termelétricas a gás, óleo ou carvão.
“A contratação recente de termelétricas durante a crise hídrica soou um alerta para o custo operacional elevado ocasionado pela falta de uma política de enfrentamento às mudanças climáticas”, explica José Wanderley Marangon, consultor da MC&E e secretário de P&D do Inel (Instituto Nacional de Energia Limpa).
“Torna-se importante repensar métodos e estratégias para minimizar a vulnerabilidade do setor elétrico, observando a modicidade tarifária”.
Coautor do relatório, ele considera que o Brasil tenta adotar “de forma atrasada” a ideia de que o gás natural poderia ser uma fonte de transição energética em substituição a alternativas mais sujas, como o carvão e o diesel.
E sugere que, se a estratégia escolhida pelo país for em direção à expansão da rede de gasodutos, que eles sejam construídos com uma visão de futuro, para levar hidrogênio de baixo carbono em misturas com o gás natural.
Cobrimos por aqui:
- Organizações lançam ofensiva contra térmicas da Eletrobras
- Expansão da matriz com fósseis vai sair mais cara, mostra PDE 2031
- Segurança energética versus climática: os dois cenários da Shell
Curtas
COP30 em Belém
O presidente Lula (PT) anunciou nesta sexta (26/5) que a capital do Pará, Belém, foi escolhida pela ONU para sediar a 30ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30). O evento será realizado em novembro de 2025 e eleva a responsabilidade do Brasil em demonstrar que está comprometido com a agenda ambiental.
Rio de Janeiro aposta no hidrogênio azul..
Ao contrário de outros estados brasileiros que estão apostando na produção de hidrogênio verde, o Rio de Janeiro pretende colocar as fichas na produção de hidrogênio azul, feito a partir de reforma do gás natural com captura de carbono.
Para Daniel Lamassa, subsecretário adjunto de Energia do estado, é preciso aproveitar as vantagens de ser o maior produtor de gás natural do país, com quase 71% de toda a produção nacional, e de ter a segunda maior malha de distribuição de gás natural.
…e estados cobram rapidez na regulação
Representantes do Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul pedem celeridade na regulação e na definição de metas objetivas no Programa Nacional do Hidrogênio, sob o risco de o país perder a janela de oportunidades na atração de investimentos para o setor.
Artigos da semana
— Regulação ambiental da geração de energia eólica offshore É preciso atentar para alguns aspectos na regulação ambiental das eólicas offshore, a fim de garantir segurança jurídica e celeridade para os investimentos, avaliam Márcio Silva Pereira, Marlus Oliveira e Alexandre Dantas
— Foz do Amazonas: teste de stress para o ESG? Todo risco de uma atividade deve ser ponderado para atender ao melhor interesse público, inclusive, mas não exclusivamente, de comunidades costeiras, escreve Roberto di Cillo
— Combustíveis sintéticos e hidrogênio verde: limites e oportunidades na transição energética É preciso ampliar a parcela do valor adicionado retida no país, caso contrário, estaremos apenas exportando sol, vento e água, escreve José Sérgio Gabrielli