Energia

Governo limita despacho de térmicas para reduzir custo após alta nos reservatórios

Energia armazenada no sistema integrado chega a 50% e governo projeta 60% com chuvas intensas

Projeto que beneficia térmicas a carvão de Santa Catarina vai a sanção. Na imagem: Complexo térmico Jorge Lacerda (SC), 857 MW. Composto por três usinas, a primeira em operação desde 1965 (Foto: Divulgação)
Complexo térmico Jorge Lacerda (SC), 857 MW. Composto por três usinas, a primeira em operação desde 1965 (Foto: Divulgação)

O governo decidiu impor um teto de preços e limite de despacho para o acionamento de usinas termoelétricas, se valendo da recuperação dos reservatórios das usinas hidrelétricas, em janeiro, após as intensas chuvas que atingiram o Nordeste e o Centro-Sul.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) tomou a decisão nesta quarta-feira (2/2), em reunião ordinária.

O despacho adicional termoelétrico, em que podem ser acionadas usinas mais caras para garantir o suprimento, fica agora limitado a 10.000 MWmédios, de térmicas com até R$ 600/MWh de Custo Variável Unitário (CVU).

No auge da crise energética, o despacho chegou a superar R$ 2.000/MWh de CVU.

O limite de geração média teria efeito nulo em janeiro. As térmicas, excluindo a nuclear, entregaram 9.696 MWmédios no mês, 13,5% do atendimento ao Sistema Integrado Nacional (SIN), que demandou 71.704 MWmédios.

Em janeiro de 2021, a térmicas entregaram 13.076 MWmédios, ou 19% da carga do SIN, de 68.920 MWmédios. Os dados são do Operador Nacional do Sistemas (ONS), consultados nesta quarta (2/1).

A decisão de hoje fará com que térmicas mais caras sejam menos despachadas. Além dos combustíveis mais caros, em alguns casos subsidiados, como o óleo e o carvão, o preço do gás também disparou entre 2021 e 2022.

A decisão foi tomada após os reservatórios hidrelétricos atingirem 49,4% ao final de janeiro, 5,1 p.p. acima do previsto pelo CMSE.

Para fevereiro de 2022, o colegiado espera um aumento de 4,5% na carga de energia elétrica em relação ao mês anterior, mas com continuidade da recuperação dos reservatórios, previstos para chegar entre 55,2% e 60,6% no final deste mês.

“Além disso, nesse mês, a Usina Hidrelétrica (UHE) Furnas atingiu a cota de 762,0 m, permitindo o pleno uso múltiplo das águas e o desenvolvimento do turismo na região”, disse o MME, em nota.

Custo da crise energética em 2022

Em geral, o governo federal tem mantido uma estratégia de recuperação dos reservatórios. Fenômenos climáticos que provocaram a seca de 2021, levando à nova crise energética, podem voltar a ocorrer este ano. Assim, o CMSE mantém uma margem de despacho termoelétrico para poupar energia para o resto do ano.

“Diante dos resultados apresentados, considerando a continuidade da recuperação dos armazenamentos de relevantes reservatórios de usinas hidrelétricas, o atendimento aos usos múltiplos da água e as incertezas intrínsecas associadas à evolução da estação chuvosa em 2022, o CMSE manifestou-se pela redução da intensidade das medidas excepcionais para o atendimento à carga e a garantia do atendimento em 2022, cuja aplicação continuará a ser reavaliada periodicamente, em reuniões técnicas”, explicou a pasta.

A crise fez o custo da crise disparar em 2021 e parte dos custos ainda estão sendo pagos, tanto pelo novo empréstimo para as distribuidoras, quanto pela bandeira tarifária excepcional de R$ 14,20 a cada 100 kWh, até abril.

Em uma situação normal, a bandeira teria sido mais cara em 2021, no auge do período seco. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o governo articularam o teto de R$ 14,20, mas para equilibrar a conta-bandeiras, o pagamento foi estendido para o período úmido, que começa em novembro.

Os consumidores domésticos enquadrados na tarifa social ficam isentos da cobrança adicional.

Informações técnicas publicadas pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico

Condições Hidrometeorológicas

Em janeiro, a precipitação no Brasil apresentou dois padrões distintos. Na primeira quinzena, permaneceu a condição de precipitação nas bacias da região Norte e no São Francisco, enquanto na quinzena seguinte foi mais favorável para as bacias localizadas na região Sudeste.

Em relação à Energia Natural Afluente (ENA) foram verificados valores abaixo da média histórica para o mês de janeiro para o subsistema Sul. Já as regiões Sudeste, Norte e Nordeste apresentaram resultados de afluências mais favoráveis.

Em janeiro, considerando a ENA agregada do Sistema Interligado Nacional (SIN), foi verificado valor próximo de 125% da Média de Longo Termo (MLT).

Energia Armazenada

Ao final de janeiro, foram verificados armazenamentos equivalentes de 41,7%, 35,4%, 73,3% e 89,1% nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte, respectivamente.

Considerando os cenários prospectivos avaliados pelo CMSE, a previsão é que o armazenamento ao final de fevereiro deva se situar entre 46,6% e 51,9% no Sudeste/Centro-Oeste, entre 29,6% e 52,6% no Sul, entre 86,1% e 87,0% no Nordeste e entre 98,2% e 98,8% no Norte.

Para o SIN, considerando a mesma referência de data, a indicação é de armazenamento entre 55,2% e 60,6% da EARmáx.

Expansão da Geração e Transmissão

Em 2021, a expansão atingiu 7.822 km de linhas de transmissão, por meio de 95 linhas de transmissão em 18 estados da federação, e 18.065 MVA de capacidade de transformação, em 38 subestações em 16 estados da federação, contribuindo para a ampliação dos limites de intercâmbio entre as regiões e aumentando a segurança do fornecimento de energia elétrico.

Ademais, destaca-se que mais de 80% das instalações entraram em operação antes dos compromissos contratuais, evidenciando a dinâmica do segmento de transmissão de energia.

Em janeiro de 2022, a expansão verificada foi de 482 MW de capacidade instalada de geração de energia elétrica e de 687 km de linhas de transmissão. Para 2022, a previsão de expansão é de 7.766 MW de capacidade instalada de geração de energia elétrica, 8.987 km de linhas de transmissão e 31.154 MVA de capacidade de transformação.