RIO — Apesar dos problemas na cadeia mundial de fornecimento, a Gás Natural Açu (GNA) acredita em competitividade no leilão de reserva de capacidade (LRCAP), segundo o diretor-presidente da companhia, Emmanuel Delfosse.
O executivo reconhece que a disponibilidade de turbinas é uma preocupação, dado o crescimento da demanda global pelo equipamento, o que tem colocado pressão na cadeia de fornecimento internacional.
Entretanto, a companhia aposta no fato de ter como sócia a Siemens Energy, uma das maiores fornecedoras globais de turbinas, como uma vantagem para competir no certame.
A GNA é uma parceria entre Prumo Logística, Siemens Energy, bp e SPIC Brasil. Com 3 gigawatts (GW) em operação a partir de duas usinas no Porto do Açu (RJ), a companhia pretende negociar uma nova usina no leilão. Ao todo, a empresa já tem licença para ampliar o parque para até 3,4 GW.
“A gente está buscando atrair novos investimentos ao redor do nosso complexo termelétrico, e o vetor de crescimento que eu estou enxergando agora é exatamente esse leilão de capacidade, que está para vir”, diz.
Além disso, também conta a favor o fato de a empresa já ter licença para a implantação do projeto e o suprimento a gás natural liquefeito (GNL), a partir de uma unidade flutuante de armazenamento e regasificação (FSRU). O terminal é compartilhado com as outras duas térmicas em operação no Porto do Açu, o que otimiza os custos.
“É muito difícil ter um contrato de gás com esse nível de flexibilidade que o leilão de capacidade precisa”, aponta.
Ainda assim, o executivo ressalta que toda a cadeia de fornecimento de equipamentos para geração termelétrica está impactada pela maior demanda no mundo.
Isso ocorre porque o crescimento das fontes de energia renováveis, que dependem das condições climáticas para gerar energia, está levando diversos países a ampliarem o parque de geração termelétrica, para manter a segurança do suprimento.
“A gente está vendo muita dificuldade para operar o sistema, seja na Austrália, na Europa, ou no Brasil. E isso criou uma demanda muito grande para turbinas termelétricas. Então, isso, sim, é uma preocupação: ficar bem na fila para não atrasar a entrada em operação, eventualmente”, explica.
Nesse sentido, Delfosse aponta que o adiamento do leilão ajudou a dar mais folga para a negociação de contratos.
O LRCAP estava previsto para ocorrer este mês, mas a judicialização levou o governo a adiar o certame para reformular as regras. Ainda não há uma nova data prevista para a concorrência.
“A cadeia de fornecimento está sendo recomposta, estão se adequando a uma nova realidade, que é uma demanda maior. Mas é difícil, hoje, saber se daqui a seis meses não vai ter mais desalinhamento entre a demanda e a oferta”, afirma.
Delfosse ressalta que o custo das usinas a serem contratadas no leilão não pode ser visto de forma isolada, mas sim no contexto da necessidade do sistema elétrico.
“Tem que ver o leilão de capacidade como se fosse um seguro. Então o sistema paga um custo fixo para, de vez em quando, usar essa usina”, diz.
Uma das discussões em curso na reformulação do leilão diz respeito ao custo do transporte do gás natural até as termelétricas que ainda não contam com suprimento.
“Tem um leilão, vai ter uma competição, tem que buscar os projetos mais competitivos”, diz o executivo.
Companhia iniciou operação da maior termelétrica do país
A companhia iniciou esta semana a operação da maior termelétrica do país, GNA II. Com 1,7 gigawatt (GW) de capacidade, a usina recebeu R$ 7 bilhões em investimentos.
A unidade entrou em operação de forma flexível. O contrato, negociado no leilão A-6 de 2017, prevê o suprimento de energia ao sistema de forma inflexível de julho a novembro, período em que os reservatórios das hidrelétricas recebem menos chuvas.
É um modelo de contrato diferente do que a empresa busca no LRCAP.
GNA II opera em ciclo combinado, ou seja, também usa o vapor para gerar energia. Com isso, a unidade tem um ciclo de acionamento um pouco mais demorado, mas é capaz de atingir uma eficiência de 62% na geração de energia.
Uma eventual nova usina negociada no leilão, no entanto, vai precisar ter um acionamento mais rápido para atender aos despachos quando houver necessidade de potência no sistema.
De olho no futuro, GNA II conta com turbinas que podem operar com um abastecimento de até 50% a hidrogênio.
Delfosse destaca que isso também posiciona o projeto como um eventual comprador de hidrogênio futuramente, o que pode ajudar a deslanchar empreendimentos no país.
Matéria editada em 5/6 para corrigir a data de realização do leilão A-6, que foi em 2017.