RIO – Uma falha no controle de tensão de usinas eólicas e solares foi responsável pelo apagão que deixou 30 milhões sem luz em quase todo o Brasil, mostra a minuta do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) divulgado nesta terça-feira (26/9) pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).
Além disso, uma série de problemas com transmissoras e distribuidoras atrasou o restabelecimento da energia, aponta o documento.
O apagão começou com a queda da linha de transmissão Quixadá-Fortaleza II, da Chesf, no Ceará. Sozinho, o incidente deveria ter impacto apenas local. No entanto, os equipamentos de controle de tensão de diversos parques eólicos e fotovoltaicos no perímetro da linha não funcionaram como era previsto, causando desligamentos em cascata ao redor do país, segundo a minuta.
“Esses dispositivos das usinas deveriam compensar automaticamente a queda de tensão decorrente da abertura da linha de transmissão, porém o desempenho no momento da ocorrência ficou aquém do previsto nos modelos matemáticos fornecidos pelos agentes e testados em simulações pelo ONS”, afirma o relatório.
“A diferença entre o desempenho em campo e as simulações não permitiu ao ONS identificar os riscos relacionados ao cenário operativo pré-distúrbio, que resultou nos desligamentos em cascata após a abertura da LT 500 kV Fortaleza II – Quixada.”
Até a divulgação da minuta, o ONS evitava apontar que o problema nos dados usados para simular o controle de tensão das usinas era específico das fontes eólica e solar.
Atraso no restabelecimento da energia
Além dos desligamentos, houve a demora no restabelecimento da energia em diversos pontos, especialmente no Norte e Nordeste, por falhas de transmissoras e geradoras.
Desde agentes que não sabiam como proceder, aos que não atenderam telefone e equipamentos desatualizados que não tiveram o comportamento adequado.
O fornecimento de energia foi interrompido às 8h31. Segundo o ONS, a normalização das cargas da região Sul foi concluída às 9h05min e nas regiões Sudeste/Centro-Oeste, às 9h33min. No entanto, nas regiões Norte e Nordeste só foi totalmente retomado às 14h49min.
De acordo com o operador, foram interrompidos 23.368 MW do total de 67.507 MW que estavam sendo atendidos no momento, sem contar a parcela atendida por micro e minigeração distribuída, representando aproximadamente 34,5% da carga total daquela hora.
O evento provocou a separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul, Sudeste/Centro-Oeste, com desligamento de linhas de transmissão entre essas regiões, afetando 25 estados e o Distrito Federal.
Medidas para evitar novos apagões e atrasos
No documento, constam providências a serem tomadas pelos 122 agentes, incluindo a Chesf, operadora da LT Quixadá-Fortaleza II, assim como para os geradores eólicos e fotovoltaicos. Ao todo, foram centenas de apontamentos que os agentes e o Operador terão de implementar até julho de 2024.
As providências vão desde ajustes em proteções, passando por problemas na comunicação com os agentes no momento da recomposição, até a validação dos modelos matemáticos de todos os geradores eólicos e fotovoltaicos, entre outras.
Além disso, enquanto não tem os dados corretos das usinas, o ONS ajustou sua base de dados para representar a eficiência real desses parques durante eventuais perturbações. Também definiu novos parâmetros de intercâmbios e adotou medidas na região Nordeste com o objetivo de assegurar a estabilidade operacional do SIN. Essa medida, inclusive, já causou reação dos geradores do Nordeste, que ameaçam judicializar a questão.
A minuta do RAP foi enviada aos agentes nesta segunda-feira (26/9). Essa medida faz parte do trâmite de elaboração do relatório que estará finalizado até o dia 17 de outubro – de acordo com o prazo regulamentar de 45 dias úteis. Nesta etapa de agora, os agentes irão se manifestar, fazendo suas contribuições no relatório.