BRASÍLIA – O presidente do MDB e ex-senador, Romero Jucá, acredita que a conclusão do Linhão de Tucuruí não será o suficiente para garantir eficiência energética para o estado de Roraima, atualmente desconectado do Sistema Interligado Nacional (SIN), e defende que a geração das térmicas deve receber atenção do governo federal. Para ele, nem a construção da extensão do Linhão de Tucuruí para Boa Vista é uma garantia de fornecimento estável ao estado. O ex-senador defende a retomada de um antigo plano, a construção de hidrelétricas nas Guianas. O líder mdebista conversou nesta sexta-feira, 22, com o Político, serviço premium de informações e dados da agência epbr.
“O governo já marcou o leilão com a inclusão de fontes renováveis, mas isso é o suporte. Mesmo que o Linhão saia do papel, será necessário o quadro da geração de térmicas porque Roraima será o final de linha e qualquer problema irá impactar o suprimento de energia. A solução definitiva envolve ampliar a geração no próprio estado, o término do Linhão e também as hidrelétricas de Guiana”, afirmou o ex-senador.
[sc name=”newsform”]
A proposta retomada por Jucá como solução definitiva com construção de hidrelétricas nas Guianas foi denominada de Arco Norte, elaborada pelo então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em 2009. A iniciativa previa na época a construção de pelo menos duas usinas com reservatórios nas Guianas e possivelmente uma no Suriname, com uma linha de transmissão de 1.800 quilômetros, que ligaria o Amapá e Roraima a estes países. As obras seriam feitas pela Eletrobras e, em contrapartida, a energia seria utilizada, em grande parte, por brasileiros.
A ideia das hidrelétricas seria uma opção devido ao cenário de embates que o Linhão de Tucuruí irá enfrentar, segundo Jucá. “Não deveria haver um problema, porque a linha de transmissão passa na faixa de servidão do DNIT [às margens da BR 174], mas o MP diz que o uso da área impacta a vida dos índios”, disse em referência ao impasse que envolve a instalação da linha de transmissão na reserva indígena da população Waimiri-Atroari.
O ex-senador não descarta que as obras parem no Supremo Tribunal Federal, devido a problemas com acordos internacionais que garantem a Consulta Pública aos povos tradicionais, do qual o Brasil é signatário.
A travessia da linha pela reserva era um dos cenários estudados pelo Ibama para o licenciamento ambiental do linhão e foi o traçado escolhido apenas da posição em contrário da Funai, responsável por parte do trabalho de licenciamento na reserva. Hoje a construção da linha está travada, à espera da conclusão do diálogo com os Waimiri-Atroari. Segundo o MPF do Amazonas, nem a divisão das obras para acelerar a construção nos trechos fora da reserva é uma opção, uma vez que uma eventual resposta negativa no diálogo com os índios pode impedir a conclusão das obras e levar a processos por improbidade administrativa.
No começo do mês o governo anunciou a decisão de transformar o Linhão de Tucuruí em obra de interesse de defesa nacional e afirmou que as obras devem ser iniciadas até junho, com previsão de conclusão em dois anos. Mas fontes da Funai ouvidas reservadamente pelo Politico afirmaram que o calendário é improvável inclusive porque o processo de diálogo para a consulta aos Waimiri-Atroari ainda não foi concluído.
A falta de lideranças fortes para articulação com o Congresso Nacional no caso do Linhão de Tucuruí é vista como um problema a mais para as obras por integrantes do Ministério de Minas e Energia. Em conversa com o Político, um assessor da pasta afirmou que faltam nomes fortes e com bom trânsito entre figuras locais e políticos nacionais em Brasília no cenário atual.
Sem citar nomes, o mdebista criticou lideranças políticas que usaram da situação na fronteira entre Venezuela e Brasil para tratar do assunto sobre a linha de transmissão de energia. Para Jucá, não faz sentido os argumentos de que roraimenses estão esperando há 30 anos pelas obras ou que o uso das térmicas encareceria as contas de energia de moradores da região.
“O Linhão inicialmente iria só até Manaus, eu que pedi ao então ministro Lobão para que ligasse ao Amapá e Roraima. O valor das térmicas é pago pelo CCC [Conta Consumo de Combustíveis], que é gerido pelo governo federal é pago por todos, não é coisa nova. Isso é muito discurso político equivocado e gente querendo pegar carona em coisa que não sabe”, declarou.
Jucá foi derrotado na disputa pela reeleição no Senado em outubro. Na bancada do Senado em Roraima entraram Chico Rodrigues (DEM) e Mecias de Jesus (PRB), ambos senadores de primeira viagem. Mecias é pai do deputado Jhonathan de Jesus, líder do PRB na Câmara e que já presidiu a Comisão de Minas e Energia da Casa mas sempre foi visto como um parlamentar distante dos temas do setor de energia. O único senador veterano de Roraima, Telmário Mota (PROS) faz oposição ao governo Bolsonaro.
—
A matéria completa está disponível para assinantes do Político. Para conhecer o serviço exclusivo da epbr, entre em contato.