Opinião

Energytechs: a jornada colaborativa rumo ao futuro do setor elétrico

Startups impulsionam inovação no setor elétrico com soluções de eficiência energética e parcerias estratégicas, enfrentando desafios como regulação e custos de infraestrutura, avalia Luiza Zaide

Três homens e uma mulher jovens reunidos em grupo utilizam notebooks durante o evento Startup Weekend Brasília, em 22/2/2014 (Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Jovens participam do evento Startup Weekend Brasília | Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil)

As energytechs, startups focadas em soluções inovadoras para o setor de energia, estão transformando o setor elétrico brasileiro.

Essas empresas, além de desafiarem o status quo no mercado de varejo, também estão ganhando destaque por sua oferta crescente de produtos e serviços para outras pequenas e médias empresas e para as tradicionais companhias do setor, oferecendo inovações como o monitoramento inteligente de ativos e prevenção de falhas ou manutenção preditiva.

Um mapeamento recente da consultoria Liga Ventures revelou que há atualmente 252 energytechs no Brasil. O setor apresenta uma grande amplitude de segmentos de atuação, principalmente voltados para o mercado B2B, que representa 60% do público-alvo dessas empresas.

O escopo em eficiência energética lidera com 20% das startups, seguida por geração compartilhada (15%), data analytics (12%), sustentabilidade (12%, e que concentrou 24% das energytechs fundadas nos últimos quatro anos) e gestão de consumo (10%). Esses números refletem as múltiplas oportunidades e mostram o quão dinâmico é o setor de energia brasileiro.

Colaboração: a chave para o futuro

O relacionamento entre energytechs e empresas estabelecidas do setor elétrico está se provando mutuamente benéfico.

As grandes corporações acessam tecnologias de ponta e modelos de negócios inovadores por meio de colaborações no desenvolvimento tecnológico, testes de campo, contratos de fornecimento, veículos de corporate venture capital e estratégias de fusões e aquisições, enquanto as startups se beneficiam da escala e experiência de mercado de seus parceiros maiores.

A Neoenergia, que está entre as líderes do setor de energia elétrica do Brasil, tem sido uma das pioneiras nessa abordagem colaborativa. Por meio de uma estratégia de inovação aberta, a empresa tem estabelecido parcerias estratégicas com diversas startups, impulsionando a transformação digital do setor.

Um dos seus cases é com a Sinapsis Energia, spin-off da Universidade de São Paulo (USP), que licenciou comercialmente o GODEL Perdas e o GODEL Conecta, propriedades industriais desenvolvidas e protegidas pela Neoenergia através de seu Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Esses produtos têm como objetivo, respectivamente, o mapeamento das perdas de energia e a avaliação da capacidade para acomodação de geração distribuída da rede de distribuição.

A sinergia entre o conhecimento consolidado e novas ideias tende a pavimentar o caminho para um futuro energético mais inteligente, eficiente, sustentável e justo.

Desafios e oportunidades

Apesar dos benefícios evidentes, a integração entre startups e grandes empresas nem sempre é fácil. Diferenças culturais, processos burocráticos e resistência à mudança podem criar obstáculos. Ainda assim, as empresas que superam essas barreiras colhem recompensas significativas.

Na Neoenergia mapeamos alguns dos desafios encontrados no Brasil para o nascimento e desenvolvimento de startups, especialmente no mercado de energia. Percebemos que as diferenças culturais e processos corporativos desalinhados com a realidade das startups são grandes limitantes. 

A regulamentação e o custo para a estruturação de energytechs também desempenham papeis cruciais. O setor apresenta um alto nível de regulação, a fim de garantir a confiabilidade no fornecimento elétrico a preços justos e proteger diferentes interesses.

Mas essa característica, somada ao custo elevado da infraestrutura que muitas das energytechs dependem, pode desestimular empreendedores a estruturarem negócios neste mercado.

No entanto, a Aneel tem trabalhado para criar um ambiente mais propício à inovação, e recentemente revisou o regulamento do seu Programa de PDI, aumentando o estímulo à interação startups com as corporações. 

O futuro é colaborativo

À medida que o setor elétrico enfrenta desafios como a transição para energias limpas e a modernização da infraestrutura, a colaboração com energytechs se torna não apenas vantajosa, mas essencial. As empresas que tiverem essa visão estarão posicionadas de forma mais estratégica para liderar a transição energética.

A sinergia entre o conhecimento consolidado e novas ideias tende a pavimentar o caminho para um futuro energético mais inteligente, eficiente, sustentável e justo.

Com a multiplicação dessas jornadas colaborativas, o Brasil se posiciona na vanguarda da inovação energética global, com potencial de não apenas atender às demandas domésticas, mas também exportar soluções para desafios energéticos mundiais.

Este artigo expressa exclusivamente a posição da autora e não necessariamente da instituição para a qual trabalha ou está vinculada.


Luiza Zaide é gerente de Inovação da Neoenergia.

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