Energia mais cara não evita novas crises no setor elétrico, por Lucas Pimentel

Ao afirmar que "energia mais cara neste ano evita crise em 2022", Guedes e o governo federal ignoram a urgência da regulamentação do setor de energia limpa e renovável no país

Energia mais cara não evita novas crises no setor elétrico, por Lucas Pimentel
Lucas Pimentel, secretário executivo do Inel

As afirmações do ministro da Economia, Paulo Guedes, durante uma live na última quarta (14), reforçam a insistência do governo em resolver o problema sistêmico do abastecimento de energia no Brasil com medidas paliativas e que oneram o consumidor, como o acionamento da bandeira vermelha 2.

Ao afirmar que “energia mais cara neste ano evita crise em 2022“, Guedes e o governo federal ignoram a urgência da regulamentação do setor de energia limpa e renovável no país.

Uma área que, de fato, pode contribuir com a diminuição da pressão sobre o sistema elétrico nacional, mas que vem sendo preterida pelos Poderes Executivo e Legislativo nos últimos anos.

O setor de energia solar é vacina contra o aumento de tarifas e racionamento, pois tem grande potencial para evitar outras crises, com a diversificação da matriz elétrica nacional, diminuição da dependência da geração hídrica e térmica, alinhando o Brasil às melhores práticas internacionais, nos aproximando das metas da agenda 2030.

Ao contrário do que disse Guedes, o acionamento da bandeira vermelha não evitará novas crises.

Enquanto isso, o projeto de lei (PL 5829/19) que institui o novo marco legal da geração de energia descentralizada está travado há meses na Câmara dos Deputados e não há qualquer ação ou esforço do governo federal para que a matéria siga o rito natural da democracia e seja apreciada pelo plenário da Casa.

O projeto, ignorado pelo ministro da Economia, apresenta uma proposta coesa para democratização da energia solar no país, que foi debatida por mais de dois anos e está pronta para votação.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, até o momento, também não assumiu o compromisso de pautar esse projeto estratégico para o país e a proposta segue obstruída.

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Desde 2012, o setor de energia solar gerou R﹩ 38 bilhões em negócios e mais de 224 mil empregos. A previsão é que a aprovação do PL deve resultar na abertura de um milhão de novos postos de trabalho nos próximos 30 anos.

Atualmente, os brasileiros que desejam produzir a própria energia encontram riscos e inseguranças pela falta de regulamentação através da lei, o que reduz crescimento do setor e só garante a manutenção do duopólio das distribuidoras de energia e termelétricas no sistema elétrico nacional.

O Instituto Nacional de Energia Limpa vem a público cobrar que, logo no retorno do recesso parlamentar, o projeto de lei 5829/19 seja pautado em caráter de urgência no plenário da Câmara dos Deputados, diante de mais uma grave crise hídrica que impacta negativamente todo o sistema elétrico nacional.

Apenas com medidas de planejamento e democratização da energia elétrica, como da lei da geração distribuída (PL 5829/2019), será possível garantir que, nos próximos anos, o Brasil não volte a sofrer com falta de energia elétrica e, de fato, possa assumir o protagonismo que seus recursos energéticos renováveis podem proporcionar.

Lucas Pimentel é secretário de Assuntos Regulatórios do INEL (Instituto Nacional de Energia Limpa)

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