BRASÍLIA — As emissões globais de dióxido de carbono (CO2) relacionadas à energia aumentaram 6% em 2021 para 36,3 bilhões de toneladas e superou os níveis históricos.
O aumento veio na esteira da recuperação da economia mundial após a crise do covid-19, com os países dependendo do carvão — a fonte mais suja de energia — para impulsionar esse crescimento.
Os dados fazem parte de relatório (em inglês) divulgado hoje (8/3) pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
A análise mostra que o aumento nas emissões globais de CO2 de 2,1 bilhões de toneladas foi o maior da história em termos absolutos, mais do que compensando o declínio de 1,9 bilhão de toneladas induzido pela pandemia do ano anterior.
Apesar da geração de energia renovável registrar seu maior crescimento de todos os tempos, a recuperação da demanda em 2021 foi agravada por condições climáticas adversas e do mercado de energia — notadamente os picos nos preços do gás natural — que levaram à maior queima de carvão.
Segundo a agência, os números deixam claro que a recuperação econômica global da crise do covid-19 não foi sustentável, e o mundo agora deve garantir que 2021 seja um ponto fora da curva — e que uma transição energética acelerada contribua para a segurança energética global e preços de energia mais baixos para os consumidores.
Carvão e gás avançam, petróleo tem recuperação limitada
O uso do carvão para geração de eletricidade em 2021 foi intensificado pelos preços recordes do gás natural.
Custos de operação de usinas a carvão existentes nos Estados Unidos e em muitos sistemas de energia europeus foram consideravelmente menores do que os das usinas a gás na maior parte de 2021, mostra o levantamento.
A mudança de gás para carvão aumentou as emissões globais de CO2 da geração de eletricidade em mais de 100 milhões de toneladas, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, onde a concorrência entre as usinas a gás e a carvão é mais acirrada.
O carvão foi responsável por mais de 40% do crescimento geral das emissões globais de CO2 em 2021, atingindo um recorde histórico de 15,3 bilhões de toneladas.
As emissões de CO2 do gás natural se recuperaram bem acima dos níveis de 2019, para 7,5 bilhões de toneladas.
Com 10,7 bilhões de toneladas, as emissões de CO2 do petróleo permaneceram significativamente abaixo dos níveis pré-pandemia devido à recuperação limitada da atividade global de transporte em 2021, principalmente no setor de aviação.
De acordo com a IEA, a recuperação das emissões globais de CO2 acima dos níveis pré-pandemia foi em grande parte impulsionada pela China, onde aumentaram 750 milhões de toneladas entre 2019 e 2021.
Única grande economia a experimentar crescimento econômico em 2020 e 2021, a China teve um aumento de emissões nesses últimos dois anos capazes de compensar o declínio agregado no resto do mundo no mesmo período.
Somente em 2021, as emissões de CO2 da China subiram acima de 11,9 bilhões de toneladas, representando 33% do total global.
A demanda por eletricidade apoiada no carvão foi o principal fator.
Rápido crescimento do PIB e eletrificação adicional dos serviços de energia levaram a demanda de eletricidade na China a um crescimento de 10% em 2021 — acima do crescimento econômico de 8,4%.
O aumento na demanda de quase 700 TWh foi o maior já registrado no país.
“Com o crescimento da demanda superando o aumento da oferta de fontes de baixas emissões, o carvão foi usado para atender mais da metade do aumento da demanda de eletricidade. Isso ocorreu apesar do país também ter visto seu maior aumento na produção de energia renovável em 2021”, completa a IEA.
Emissões de CO2 na Índia também se recuperaram fortemente em 2021 puxadas pelo carvão na geração elétrica. E superaram os níveis de 2019.
Em um recorde histórico, elas saltaram 13% acima do nível de 2020. “Isso ocorreu em parte porque o crescimento das energias renováveis desacelerou para um terço da taxa média observada nos cinco anos anteriores”, explica o relatório.
Recuperação foi menos acentuada em países ricos
A produção econômica global nas economias avançadas se recuperou para níveis pré-pandemia em 2021, mas as emissões de CO2 se recuperaram de forma menos acentuada, o que, na avaliação da agência internacional, sinaliza “uma trajetória mais permanente de declínio estrutural”.
As emissões de CO2 nos Estados Unidos em 2021 ficaram 4% abaixo do nível de 2019. Na União Europeia, foram 2,4% menores. No Japão, as emissões caíram 3,7% em 2020 e se recuperaram menos de 1% em 2021.
Em uma base per capita, as emissões de CO2 nas economias avançadas caíram para 8,2 toneladas em média e agora estão abaixo da média de 8,4 toneladas na China, embora grandes diferenças permaneçam entre as economias avançadas.
Apesar da recuperação no uso do carvão, fontes de energia renovável e nuclear forneceram uma parcela maior da geração global de eletricidade do que o carvão em 2021.
A geração baseada em renováveis ultrapassou oito mil terawatts-hora (TWh) em 2021, um recorde de 500 TWh acima do nível de 2020.
Eólica e solar tiveram crescimentos de 270 TWh e 170 TWh, respectivamente, enquanto a geração hídrica diminuiu devido aos impactos da seca, principalmente nos Estados Unidos e no Brasil.