Geração hidrelétrica

Diminuição de vazão de Belo Monte determinada pelo Ibama poderá custar R$ 2,4 bilhões aos consumidores

Medida foi recomendada pelo Ibama por conta do período de reprodução dos peixes

UHE Belo Monte, maior hidrelétrica 100% brasileira, localizada na bacia do Rio Xingu, próximo de Altamira, no Pará (Foto Agência Brasil)
UHE Belo Monte, maior hidrelétrica 100% brasileira, localizada na bacia do Rio Xingu, próximo de Altamira, no Pará (Foto Agência Brasil)

BRASÍLIA — A redução da vazão da usina de Belo Monte (PA) determinada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) pode gerar um impacto de até R$ 2,4 bilhões para os consumidores de energia elétrica. Uma das causas é a queda de linha de transmissão que liga a usina hidrelétrica ao Centro-Oeste e o Sudeste.

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, apresentou as informações sobre a situação nesta terça-feira (18/2) e disse que está em tratativas junto ao Ministério de Minas e Energia (MME), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e o Ibama.

“Os impactos ocorrerão desde o comprometimento da navegabilidade, a não observância do hidrograma B da usina e no descumprimento dos termos da outorga da usina junto à Agência Nacional de Águas. E, no que interessa ao setor elétrico, essa medida trará perda de aproximadamente 2.400 megawatts médios de energia no atendimento essencialmente à ponta do sistema”, disse Feitosa.

Em janeiro, tempestades levaram à queda da linha de transmissão Xingu-Terminal Rio, o chamado bipolo de Belo Monte, e houve uma alteração não prevista da vazão da usina. 

Acionado pelo ONS após a queda da linha e a redução na geração na usina, o Ibama alertou que uma redução abrupta do nível da água pode causar prejuízos aos peixes, que estão em fase de reprodução. Nesta época do ano é o período do defeso, que vai de 15 de novembro a 15 de março, quando a pesca é proibida.

Com isso, o Ibama estipulou medidas à Norte Energia, controladora de Belo Monte:

“Determino que a Norte Energia mantenha o nível da água atual no TVR [trecho de vazão reduzida] até o final do período de defeso e, além disso, evite o rebaixamento abrupto da vazão após esse período de forma a impedir novos danos socioambientais”, informou o órgão ambiental ao ONS, por meio de um ofício.

Consultado, o ONS confirmou que a geração de Belo Monte atenderá ao ofício do Ibama e que a redução da vazão ocorrerá até o fim do período de defeso, em 15 de março.

Queda do bipolo causou alterações na vazão

Com a queda na transmissão de Belo Monte, o aumento da vazão dificultou com que os peixes conseguissem fazer a piracema — reprodução com desova. Por esse motivo, o Ibama recomendou manobras feitas com cuidado, sem a retirada da água de forma abrupta. Mesmo assim, o órgão alega que não houve prejuízos.

“Na região, está chovendo muito e, até o momento, não houve redução alguma na geração de energia”, comunicou.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse em entrevista nesta terça-feira (18/2) que é preciso avaliar a conjuntura em que a recomendação de redução de vazão foi feita, embora critique as ressalvas feitas por ambientalistas à usina hidrelétrica.

“Se for o período da Piracema, às vezes a gente tem que avaliar. É 15 dias, 20 dias. Agora, se for diminuir ou mudar o hidrograma, eu sou absolutamente contra. Primeiro que você quebra a companhia e quebra os acionistas que estão lá. Segundo, que você joga a energia limpa e renovável fora. Você joga um custo brutal que o brasileiro pagou pela usina. Está pronta. Então não tem coerência você fechar a Belo Monte. ‘Não, vamos pagar mais caro porque nós temos aqui tantas espécies de peixe que vão alimentar o povo daquela região’. Tem que sentar na mesa e fazer essas contas”, disse.

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