Diálogos da Transição

Demanda de eletricidade coloca sistemas de energia sob pressão e eleva emissões

Relatório da IEA mostra que procura global por eletricidade cresceu 6% e emissões elevaram 7%

Termelétrica alimentada a carvão na China (foto: Dhiraj Singh/Getty Images)
Termelétrica alimentada a carvão na China (foto: Dhiraj Singh/Getty Images)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 19/01/22
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Editada por Nayara Machado
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Após uma pequena queda em 2020, a procura global por eletricidade cresceu 6% em 2021, no maior aumento anual histórico em termos absolutos (mais de 1.500 TWh) e o maior aumento percentual desde 2010, aponta a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

Quase metade dessa expansão ocorreu na China, onde a demanda aumentou cerca de 10%. O setor industrial foi o que mais contribuiu para o crescimento, seguido por comércio, serviços e, por último, setor residencial.

Já as emissões de CO2 da geração de energia aumentaram 7%, atingindo também um recorde, depois de terem caído nos dois anos anteriores.

Dados são da edição de janeiro de 2022 do relatório semestral do mercado de eletricidade da IEA. Íntegra em inglês (.pdf)

Em abril do ano passado a agência já alertava para o recorde nas emissões relacionadas à energia. A causa: o crescimento da demanda de combustíveis fósseis, em especial o carvão — que atendeu a mais da metade da elevação da demanda global.

  • Eletricidade produzida a partir de fontes renováveis ​​cresceu 6% em 2021, mas não foi suficiente para acompanhar a demanda;

  • Geração a carvão cresceu 9%, atendendo a mais da metade do aumento da demanda e atingindo um novo pico histórico, já que os altos preços do gás natural levaram à troca do gás para o carvão;

  • Geração a gás cresceu 2%, enquanto a nuclear aumentou 3,5%, quase atingindo seus níveis de 2019.

Uma rápida recuperação econômica, combinada com condições climáticas mais extremas do que em 2020, incluindo um inverno mais frio que a média, impulsionaram a demanda por eletricidade e combustíveis fósseis, o que resultou em escassez e altos preços de energia.

O índice de preços da agência para os principais mercados atacadistas de eletricidade quase dobrou em comparação com 2020 e aumentou 64% em relação à média de 2016-2020.

Na Europa, os preços médios de eletricidade no atacado no quarto trimestre de 2021 foram mais de quatro vezes superiores à média de 2015-2020.

Além da Europa, também houve aumentos acentuados de preços no Japão e na Índia, enquanto foram mais moderados nos Estados Unidos, onde o abastecimento de gás foi menos perturbado.

A geração por combustíveis fósseis deve estagnar nos próximos três anos, como consequência da desaceleração do crescimento da demanda de eletricidade e acréscimos significativos de capacidade de energia renovável, diz a IEA.

Expectativa é que a geração a carvão caia ligeiramente. Os planos pós-COP26 de eliminação desta fonte e a baixa competitividade em relação ao gás natural em mercados como Estados Unidos e Europa devem perder impacto com o crescimento do uso na China e na Índia. A geração a gás deve avançar cerca de 1% ao ano.

Nesse período, a agência alerta que as emissões do setor de energia permanecerão estáveis entre 2021 e 2024, caso não haja grandes mudanças nas políticas para eficiência e fornecimento de baixo carbono do setor elétrico.

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Por aqui, o gasto com energia aumentou para 60% dos brasileiros e 90% notaram o aumento na conta de luz. Quase nove entre dez consumidores temem novos aumentos no preço da energia em 2022.

Os números são de uma pesquisa Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), encomendada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS).

A grande maioria dos entrevistados (70%) considera que houve descaso do governo federal no enfrentamento da crise hídrica e 36% não acreditam na sua capacidade de combater a crise.

Cerca de oito em cada dez (79%) consideram as propostas de Jair Bolsonaro insuficientes para reduzir o consumo de energia no país, sendo que quase a metade (48%) avalia negativamente tais propostas.

Do grupo de 2002 pessoas, 71% afirmam não ter tomado conhecimento sobre as propostas do Planalto para a redução voluntária no consumo.

Não à toa, o custo da energia deve entrar na agenda dos candidatos ao Planalto, na corrida eleitoral deste ano.

A próxima gestão do governo federal terá de lidar com aumento da tarifa de energia elétrica, após contratações feitas para garantir o suprimento durante a crise hídrica de 2021.

E terá que enfrentar questões de revisão do setor elétrico, caso queira buscar soluções estruturais para as contas mais caras. Leia em epbr: Próximo governo vai herdar aumento de tarifa de energia e deve reorganizar setor, defendem especialistas

  • Em 2021, as hidrelétricas, principal fonte de energia do país, entregaram 42.462 MW médios para o SIN, quantidade 8,8% menor em relação à 2020, como consequência da crise hídrica que afetou os reservatórios.

  • Já o acionamento de termelétricas para garantir o fornecimento de energia gerou uma alta de 43,5% na comparação anual, alcançando 16.245 MW médios, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Enquanto isso, 2021 ficou entre os sete anos mais quentes da história, aponta a Organização Meteorológica Mundial (OMM) em alerta divulgado nesta quarta (19).

A temperatura média global no ano passado ficou cerca de 1,11 (± 0,13) °C acima dos níveis pré-industriais — o Acordo de Paris prevê manter o aumento abaixo de 2°C, com esforços para limitá-lo a 1,5°C.

Mesmo com o ano sendo marcado pelo fenômeno La Niña, que resfria as águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical, 2021 foi mais quente do que anos anteriores também influenciados pelo La Niña (como 2016 e 2020).

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