BRASÍLIA – Enquanto faz parte do movimento para recontratação da termelétrica de Candiota, no Rio Grande do Sul, a Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS) procura alternativas para o desenvolvimento das regiões carboníferas. A entidade considera que os críticos da geração a carvão não tem planos concretos para o futuro.
Após o movimento de parlamentares gaúchos e o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), pedindo a recontratação de Candiota, a Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE) criticou a geração a carvão.
A entidade entende que a edição de mais uma medida provisória pode gerar uma “contratação cara, irresponsável e que beneficia diretamente grupos econômicos privados e específicos, que vem patrocinando essa investida”.
A frente disse estar atualizando estudos para embasar o debate técnico sobre a descontinuidade do carvão.
O presidente da ABCS, Fernando Luiz Zancan, critica a falta de ideias para as regiões carboníferas.
“Fazer um plano, um papel, é muito fácil. O problema todo é como você vai executar isso. O que nós estamos fazendo não é fazendo plano. Nós estamos executando. Nós estamos botando dinheiro em pesquisa e desenvolvimento”, disse.
Em relação aos impactos na conta de luz, a associação entende que subsídios concedidos a outras áreas trazem mais problemas.
Zancan vê o argumento de que haverá custos ao consumidor como “totalmente equivocado” e cita outras possibilidades para diminuir as tarifas.
“Quando o pessoal está falando de defesa do consumidor, acho que eles deveriam olhar primeiro para o que está posto na conta do consumidor. Se pegar os R$ 17 bilhões que são os subsídios diretos para as fontes variáveis, tarifa de fio, tudo isso, dá para quase 10% da conta de energia”, disse.
Segundo cálculos da ABCS, caso a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) continuasse subsidiando a geração a carvão, haveria um custo extra de R$ 1 bilhão, o equivalente a 0,7% da conta de energia elétrica paga pelos brasileiros.
Outro argumento da associação é que a energia firme garantida por usinas termelétricas não pode ser obtida a partir de outras fontes, como a solar e a eólica, o que significa que manter os contratos de empreendimentos a carvão pode garantir a segurança energética do país.
Alternativas à geração de energia
Uma das fontes de financiamento dos projetos produtivos é o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), sancionado pelo presidente Lula em janeiro.
O setor de carvão tem estudos para utilização da matéria-prima na fabricação de fertilizantes e aplicações na indústria química.
Para o presidente da ABCS, a recontratação de Candiota será capaz de preservar empregos e dar mais prazo para que a região encontre outras vocações.
“Para você ter o futuro, você tem que ter o presente. E pra ter o presente, você precisa que essas usinas estejam contratadas. Senão, não adianta nada você ir buscar parceria, olhar pro futuro”, disse.
Zancan cita outras iniciativas de descarbonização que causaram problemas para as comunidades. Sem planos concretos, pode haver “caos econômico e social”.
A busca por alternativas, na visão da ABCS, tem que ser paralela ao funcionamento das usinas.
“Qualquer transição é um projeto de anos. Você não só vira uma chave. Eu já passei por transição energética injusta em Criciúma, nos anos 1990. Diminuiu metade do setor do carvão. Milhares de pessoas foram desempregadas e a cidade empobreceu”, afirmou.
Zancan participará de uma reunião do Conselho da Indústria do Carvão (CIAB, em inglês) nos Estados Unidos na próxima semana.
Entre os assuntos do evento estão aplicações do carvão em tecnologias emergentes e usos alternativos da matéria-prima, além da captura e estocagem de carbono (CCUS).
Diante da postura do presidente norte-americano Donald Trump, de estimular a produção de petróleo e outros combustíveis fósseis, o presidente da ABCS entende que não se trata exatamente de uma mudança de posicionamento.
“Os Estados Unidos nunca abriram mão dos seus combustíveis fósseis. Mesmo no governo Joe Biden, que se dizia que era ambientalista, ele impulsionou o uso dos combustíveis fósseis. Nada muda. Simplesmente o carvão não vai ser um palavrão. O país tem 26% da reserva de carvão do mundo, e vai usá-lo com novos produtos, vai reinventar essa indústria”, disse.
Zancan menciona a mudança de planos em relação a usinas a carvão que seriam desativadas, mas devem ser mantidas para a geração que alimentará data centers. “É uma energia que tem que ser [24 horas por dia, 7 dias por semana] e firme”.
“O Trump está falando o real, ele não está dourando a pila. Não vai ficar dizendo uma coisinha e fazendo outra. ‘Continuo produzindo petróleo’. Acho que é mais transparente a postura do Trump em relação a isso”, afirmou.