BRASÍLIA — A capacidade instalada da micro e minigeração distribuída (MMGD) cresceu 4,697 gigawatts (GW) no Brasil nos primeiros seis meses de 2025, indicando uma desaceleração em relação ao mesmo período do ano anterior, quando a modalidade avançou 5,119 GW. Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Mesmo assim, entre janeiro e junho de 2025, a MMGD teve uma alta de 12,78%, alcançando 41,482 GW de capacidade ao todo.
Como comparação, a capacidade total da modalidade está se aproximando do parque termelétrico do Brasil, que tem 48,885 GW de potência instalada.
Juros altos e contexto político atrapalham
O mercado acredita que a menor expansão da MMGD está relacionada à conjuntura que tem desencorajado os consumidores a instalarem placas solares ou a aderirem a modelos de energia por assinatura.
A alta nos juros e o aumento do imposto de importação de placas solares impactam os investimentos. O aumento de 9,6% para 25% das taxas de importação das células fotovoltaicas utilizadas em painéis solares (extra-quota) pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) passou a valer este ano.
Para o presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída, Carlos Evangelista, existe ainda um contexto político para o arrefecimento do setor.
“Há ainda um cenário político com medidas provisórias MP [1300 e 1304], que podem restringir decisões de investimento para alguns modelos de negócio, principalmente se ferirem a segurança jurídica”, afirmou.
Enquanto a MP 1300 expande a tarifa social e redistribui encargos setoriais, a MP 1304 limita o crescimento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que custeia subsídios como a geração distribuída.
Evangelista projeta que o mercado vai se ajustar ao novo cenário. Ao mesmo tempo, ele acredita que o interesse do consumidor pela modalidade deve se manter.
“Mesmo com os desafios, ainda tem um bom retorno”, disse.
Entre as alternativas para o futuro, a ABGD acredita que os consumidores podem começar a estudar a implantação de sistemas “grid zero” — que não injetam energia na rede — ou soluções com baterias de armazenamento.
Crescimento em junho
Apenas no mês de junho, foram instalados 599 MW na modalidade no Brasil, ao todo.
As residências foram responsáveis por mais da metade desse crescimento, com 348 MW. Os imóveis comerciais conectaram 109,4 MW. O restante corresponde a clientes rurais (71,6 MW), industriais (56,5 MW) e do poder público (13,7 MW).
O estado que mais agregou capacidade de geração em MMGD em junho foi Mato Grosso, com 73,3 megawatts (MW), seguido por São Paulo, com 69,6 MW. Completam o ranking dos cinco primeiros os estados Paraná (49,8 MW), Minas Gerais (40,1 MW) e Ceará (37,8 MW).
Entre os municípios, o destaque foi para os localizados no Mato Grosso. Cuiabá (MT) foi a líder de crescimento em junho, com 10,4 MW, seguida por Campo Grande (MS), com (7,5 MW) e São José dos Quatro Marcos (MT), com 7,1 MW.
Do total instalado em junho, 461,5 MW estão nas próprias unidades consumidoras. O autoconsumo remoto correspondeu a 111,3 MW e a geração compartilhada teve 5,4 MW.
A MMGD está presente em todas as regiões do Brasil, mas o Sudeste concentra a maior parte da capacidade instalada, com 13,5 GW.
O Nordeste aparece em segundo lugar, com 8,9 GW. Em terceiro lugar está o Sul, que possui 8,7 GW de potência. Por fim, estão o Centro-Oeste (7 GW) e o Norte (3,1 GW).
A geração distribuída é predominantemente solar, com 99,34% da capacidade em usinas fotovoltaicas. O restante da potência instalada vem de empreendimentos como biogás, eólicas, centrais geradoras hidrelétricas (CGHs) e térmicas a biomassa.
Por outro lado, a geração solar centralizada — que é contratada a partir de leilões — chega a 17,9 GW, sendo a quarta maior fonte do Sistema Interligado Nacional (SIN), perdendo para hidrelétricas (103 GW), termelétricas e eólicas (33,8 GW).