BRASÍLIA — O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) indicou que será necessário uma articulação institucional, não limitada ao setor elétrico brasileiro, para garantir a segurança do suprimento de energia elétrica em 2021 com o agravamento da crise hídrica e o baixo nível de reservatórios das usinas hidrelétricas.
Em nota, o Ministério de Minas e Energia (MME) não detalha as ações além das medidas tomadas pelo CMSE, de aumentar o uso da geração hidrelétrica, além dos limites técnicos dos reservatórios.
O governo decidiu flexibilizar as restrições hidráulicas nas usinas hidrelétricas de Jupiá, Porto Primavera, Ilha Solteira, Três Irmãos, Xingó, Furnas e Mascarenha de Moraes.
A iniciativa tem como objetivo garantir a preservação do uso da água nas bacias dos rios Grande e Paraná durante o período de seca deste ano, quando poderá ser liberada em momentos de necessidade por picos de potência.
“O CMSE registrou a importância da articulação institucional, não limitada ao setor elétrico brasileiro, para que as medidas em curso possam ser efetivas para o incremento da segurança no suprimento de energia elétrica no país ao longo de 2021”, diz a nota.
A crise se arrasta desde o ano passado.
Bolsonaro chegou a afirmar em 2020 que o país estava sob risco de apagão.
De lá para cá, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, vem descartando risco ao suprimento de energia e o governo toma medidas para contornar o problema.
Um efeito imediato é o aumento do custo da energia.
A recuperação da economia, abalada pelo prolongamento da pandemia de covid-19, depende do aumento do consumo de energia.
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O país enfrenta a pior crise hídrica em décadas
Desde o ano passado, é preciso explorar volumes adicionais de reservatórios das hidrelétricas de Furnas, Itaipu e de São Francisco para dar conta de suprir o consumo de energia, o que diminuiu o nível dos reservatórios.
O MME chegou a ser pressionado por Rodrigo Pacheco (DEM/MG), ainda em 2020, pela preservação de uma cota mínima no Lago de Furnas que pudesse garantir outros usos econômicos do rio.
O CMSE ressaltou que a falta de chuvas que permaneceu em maio deve continuar nos próximo meses, especialmente no Sudeste e Centro-Oeste, com piores índices de chuva para o Sistema Interligado Nacional (SIN) em 91 anos de histórico do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
No início do mês, o ministro de Minas e Energia já tinha informado que pretendia acionar todas as usinas termelétricas para evitar apagões ou a necessidade de racionamento de energia.
“Desde o ano passado nós decidimos despachar as nossas usinas termelétricas fora do padrão normal, justamente para preservar os nossos reservatórios e aquilo que nós ainda temos de agua neles”, disse o ministro à época.
Governo emite alerta de emergência hídrica para cinco estados
Órgãos do governo emitiram nesta quinta (27) um alerta de emergência hídrica para cinco estados brasileiros no período de junho a setembro.
O Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) classificou como ‘severa’ a situação de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Paraná, com previsão de pouco volume de chuva para o período.
São justamente os estados da bacia do Rio Paraná, que abastece o reservatório de Itaipu Binacional, Furnas e pelo menos outras seis grandes usinas hidrelétricas.
É um sistema novo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), criado para antecipar riscos meteorológicos.
Pela primeira foi emitido um Alerta de Emergência Hídrica em todos os mais de cem anos de serviços meteorológicos no país.
De acordo com nota técnica do órgão, a falta de chuvas está provavelmente relacionada ao La Niña, fenômeno climático que altera a temperatura da superfície do mar e reduz chuvas no Sul do Brasil, e também à Oscilação Antártica, que altera a pressão atmosférica na região e impede que sistemas de chuva se desloquem para regiões continentais da América do Sul.
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Veja a nota do CMSE, na íntegra
CMSE avalia em reunião extraordinária condições de atendimento ao Sistema Interligado Nacional
As afluências permanecem abaixo dos valores médios históricos, com a caracterização dos piores montantes verificados para o SIN no período de setembro a maio em 91 anos de histórico.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) se reuniu nesta quinta-feira (27/5), em caráter extraordinário, para avaliar as condições de suprimento energético ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Conforme destacado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em maio de 2021, não foram observados valores significativos de precipitação, comportamento típico da estação seca, condição que deverá se manter nos próximos meses especialmente na região Sudeste/Centro-Oeste.
Além disso, as afluências permanecem abaixo dos valores médios históricos, com a caracterização dos piores montantes verificados para o SIN no período de setembro a maio em 91 anos de histórico.
Foi também informada a situação hidrológica crítica atualmente vivenciada na bacia do rio Paraná, que engloba as bacias dos rios Paranaíba, Grande, Tietê e Paranapanema.
Nessas bacias estão localizadas as usinas hidrelétricas com os principais reservatórios de regularização do SIN, cujos recursos são operados de maneira que, nos períodos secos, seus estoques possam ser utilizados de forma otimizada e com vistas a garantir o devido atendimento à carga.
Diante do cenário apresentado, foram especificadas, dentre outras medidas para enfrentamento da escassez hídrica vivenciada e seus impactos diversos, inclusive sob a ótica do setor elétrico brasileiro, alternativas referentes a flexibilizações de restrições hidráulicas.
Dessa maneira, diante do reconhecimento da severidade da atual situação hidroenergética de algumas das principais bacias hidrográficas do SIN, que registrou o pior período hidrológico de setembro de 2020 a maio de 2021, tendo em vista os estudos apresentados pelo ONS, e com vistas a garantir a governabilidade das cascatas hidráulicas no País, o CMSE reconheceu a importância da implementação das flexibilizações das restrições hidráulicas relativas às usinas hidrelétricas Jupiá, Porto Primavera, Ilha Solteira, Três Irmãos, Xingó, Furnas e Mascarenhas de Moraes.
Ressalta-se que as iniciativas relativas à flexibilização de restrições hidráulicas de empreendimentos localizados nas bacias dos rios Grande e Paraná visam a mitigar o risco da perda do controle hídrico na bacia do rio Paraná.
Portanto, para além de questões energéticas, o intuito das medidas é garantir a devida governabilidade das cascatas hidráulicas, inclusive quanto à preservação do uso da água, ao longo do período seco de 2021.
Além disso, o CMSE deliberou por recomendar à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) que seja reconhecida a situação de escassez hídrica na Bacia do Rio Paraná, bem como encaminhar as propostas deliberadas pelo Colegiado ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), tendo em vista se tratarem de relevantes ações que objetivam a manutenção da segurança no abastecimento e no atendimento eletroenergético.
Por fim, o CMSE registrou a importância da articulação institucional, não limitada ao setor elétrico brasileiro, para que as medidas em curso possam ser efetivas para o incremento da segurança no suprimento de energia elétrica no País ao longo de 2021.