A negociação algorítmica tem desempenhado um papel fundamental na maior eficiência na comercialização de energia. Pode-se dizer que, atualmente, ela é praticamente indispensável até mesmo para pequenas mesas de negociação, uma vez que o volume e a frequência das negociações ultrapassam a capacidade dos operadores humanos.
Segundo dados da European Power Exchange (EPEX), cerca de 55% do volume total negociado no EPEX SPOT está sendo executado automaticamente. A tendência é de alta.
Um dos fatores que impulsionam a comercialização de energia é o crescimento de ativos de energia, como DER e sistemas de armazenamento de energia em bateria (BESS, na sigla em inglês), cuja otimização é mais complexa.
Esses ativos geralmente são de propriedade de pequenas empresas, que percebem ser necessário recorrer à comercialização de energia por meio de algoritmos para competir com os maiores players nos mercados de energia.
Diferentemente da negociação tradicional, a negociação algorítmica se baseia em regras e algoritmos predefinidos para executar negociações de forma autônoma.
Mais recentemente, o machine learning (ML) passou a ser utilizado em conjunto com as abordagens tradicionais de negociação algorítmica para identificar padrões em dados históricos e fazer previsões com base nesses padrões. Com a inclusão do ML, os algoritmos podem aprender com a experiência passada e se adaptar às mudanças das condições do mercado.
Abaixo, cinco fatores que explicam o aumento das negociações algorítmicas nas mesas de negociação:
- Mais velocidade, maior precisão: a negociação algorítmica opera em velocidades impossíveis de serem alcançadas por traders humanos, permitindo que as mesas de negociação respondam às mudanças nas condições em tempo real e sem erros humanos. Essa precisão é crucial na comercialização de energia, onde pequenas discrepâncias na execução podem ter implicações financeiras significativas.
- Melhoria na gestão de riscos: os controles de risco automatizados ajudam a evitar grandes perdas e garantem que as atividades de negociação estejam alinhadas com parâmetros de risco predefinidos, removendo as emoções e os vieses que inevitavelmente afetam a tomada de decisões humanas e levando a decisões de negociação mais racionais.
- Maior liquidez: a negociação algorítmica contribui para a liquidez do mercado, fornecendo ordens de compra e venda continuamente. Essa liquidez beneficia o funcionamento geral dos mercados de energia e garante que as negociações possam ser executadas sem impacto significativo sobre o preço.
- Diversificação: os algoritmos de negociação de energia podem implementar uma gama diversificada de estratégias, desde algoritmos de execução simples até modelos complexos de arbitragem estatística. Essa flexibilidade permite que as mesas de comercialização de energia se adaptem a diferentes condições de mercado e otimizem seu portfólio geral.
- Adaptabilidade: os algoritmos podem se adaptar às mudanças das condições de mercado, ajustando automaticamente as estratégias de negociação com base nos dados obtidos. Essa adaptabilidade é crucial nos mercados de energia, onde fatores como padrões climáticos e eventos geopolíticos podem influenciar os preços rapidamente.
No entanto, como a negociação algorítmica depende fortemente de sistemas tecnológicos, falhas técnicas, como bugs no software ou problemas de conectividade, podem causar perdas financeiras significativas e interrupções no mercado.
Além disso, os algoritmos são baseados em modelos matemáticos e suposições. Se as premissas utilizadas forem incorretas ou não refletirem as condições de mercado em tempo real, isso pode levar a decisões de negociação prejudiciais.
A negociação algorítmica, embora traga muitos benefícios, também apresenta desafios e riscos que precisam ser cuidadosamente geridos. É fundamental que as mesas de negociação encontrem um equilíbrio entre a eficiência proporcionada pelos algoritmos e a supervisão humana, garantindo assim um mercado de energia mais robusto e sustentável.
Raphael Bueno é sócio-líder de Utilities da NTT DATA