Diálogos da Transição

China concentra novas usinas a carvão

Escala global de projetos em consideração caiu abaixo de 100 GW no segundo semestre de 2022; em outra direção, capacidade planejada pela China cresceu 77 GW

China concentra comissionamento e construção de novas usinas a carvão. Na imagem: Usina termelétrica movida a carvão lançando grandes volumes de gases de efeito estufa na atmosfera (Foto: Catazul/Pixabay)
(Foto: Catazul/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Levantamento do think tank E3G mostra que todas as principais regiões do mundo continuaram no caminho de afastamento de novos projetos a carvão, mesmo em meio à crise de energia causada pela guerra Rússia-Ucrânia. À exceção da China.

Segundo o estudo, a escala total da energia de carvão em consideração caiu abaixo de 100 GW pela primeira vez desde o início da coleta de dados, com os países diminuindo ou estabilizando a quantidade de novos projetos.

Enquanto isso, a China comissionou, iniciou a construção e permitiu mais usinas a carvão do que todas as outras nações juntas. A nova capacidade planejada cresceu 77 GW no segundo semestre de 2022 – a maior quantidade em um período de seis meses desde 2015.

E iniciou a construção de 41 GW de novas usinas a carvão, fechando o ano com mais de 50 GW no ano inteiro.

Foi o maior aumento de todos os tempos na capacidade de pré-construção no país asiático – que agora responde por 72% da capacidade global planejada, ante 66% em julho de 2022.

“Estamos atingindo o momento marco global de No New Coal. No entanto, o renovado boom do carvão na China ameaça o progresso geral’, observa o E3G.

Nas demais economias, a queda acumulada desde 2015 – quando o Acordo de Paris foi assinado – é de 84%. O número, no entanto, considera a nova capacidade proposta, e não o consumo em si.

Em meio aos altos preços do gás, a União Europeia, por exemplo, aumentou em 6% a geração a carvão em 2022.

Por ser a fonte fóssil de energia com maior intensidade de carbono, o carvão se tornou uma espécie de pária quando o assunto é cortar emissões e conter o aumento da temperatura global a 1,5ºC até o fim do século.

Mas quando entra em cena segurança energética e acesso, economias altamente dependentes da fonte têm uma abordagem diferente. É o caso da China, que no ano passado atravessou ondas de calor e secas que elevaram o consumo de energia ao mesmo tempo em que a geração hidrelétrica caiu.

Destaques do relatório:

  • Apenas sete projetos de carvão foram propostos em todo o mundo fora da China: seis projetos reativados na Índia e um novo projeto na Indonésia;
  • Em janeiro de 2023, 98 países haviam se comprometido explicitamente com o No New Coal (Sem Carvão Novo) ou não tinham mais nenhum projeto ativo planejado;
  • Atualmente, há 32 países (fora a China) com novas usinas de carvão propostas – um a menos que em julho de 2022;
  • 13 países têm apenas um novo projeto de carvão pré-construção ainda em consideração.

Américas

Na análise regional, o Brasil aparece como o único país considerando novos projetos em todas as Américas, com três usinas somando 1,7 GW de nova capacidade. No governo passado, a fonte ganhou programa de estímulo e extensão de subsídios em lei.

“No entanto, nos últimos anos, os projetos de energia a carvão propostos falharam em garantir contratos em leilões de energia, destacando a ausência de um caso de negócios. Essa situação apresenta uma oportunidade para o governo do presidente Lula buscar alternativas de energia limpa”, observa o think tank.

Já a Argentina é o único país da América Latina com um projeto em construção. O Rio Turbio tem enfrentado vários obstáculos, no entanto, desde dificuldades técnicas na usina e na mina até denúncias de corrupção.

Por outro lado, a América do Norte é a segunda região do mundo a atingir o marco No New Coal, depois da União Europeia. E a OCDE está perto de chegar lá, com a expectativa de que os projetos restantes propostos na Austrália, Japão e Turquia não prossigam.

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Curtas

Oferta de hidrogênio

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG), disse na segunda (13/3) ter sugerido ao governo alemão uma parceria comercial para venda de hidrogênio verde ao país europeu. A ideia seria estabelecer um investimento contratual, com demanda firme e previsibilidade, e assim desenvolver o parque industrial brasileiro para atender à demanda.

Vale dizer: a Alemanha já lançou os primeiros leilões para importação de derivados de hidrogênio.

Marina contra perfuração na Foz do Amazonas

A ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima defende que o licenciamento para perfuração de poços na Foz do Amazonas deve partir da avaliação integrada da bacia. Em entrevista à agência Sumaúma, Marina Silva afirmou que um projeto na região “não pode ser licenciado como um caso isolado” – como propõe a Petrobras

A pegada de carbono do ChatGPT

O sucesso do ChatGPT fez com que outras empresas corressem para lançar seus próprios sistemas rivais de inteligência artificial, mas isso tem um preço energético – e em carbono. A IA usa mais energia do que outras formas de computação, e o treinamento de um único modelo pode consumir mais eletricidade do que 100 residências nos EUA. Bloomberg

Cerâmica com eólica

A Enel Brasil fornecerá energia eólica para as fábricas de cerâmica Portobello Grupo. Contrato firmado esta semana prevê o fornecimento de um volume máximo de 10 megawatts médios (MWm), o que equivale ao consumo de 87,6 GWh/ano e pretende suprir metade de todo o consumo do grupo.

A parceria segue o modelo de autoprodução por equiparação, em que o Portobello detém uma participação acionária na usina Ventos de Santa Esperança 21, na Bahia. Após o atendimento do volume contratado, a Enel poderá comercializar o excedente de energia no mercado livre.

bp versus ativistas

O conselho da bp recomendou na segunda (13/3) que os acionistas votem contra uma resolução que pede mais cortes de emissões até 2030 em sua reunião geral de 27 de abril. O grupo ativista Follow This disse em dezembro que apresentou resoluções conjuntas com seis grandes investidores institucionais administrando US$ 1,3 trilhão em ativos antes das assembleias gerais anuais da bp, Chevron, ExxonMobil e Shell. Reuters

VE acessível na Europa

A Volkswagen disse nesta terça (14/3) que ainda quer lançar, até 2025, um veículo elétrico acessível – ao custo de cerca de 25 mil euros nos preços de hoje. A montadora afirma que terá escala significativa – na Europa –, até lá, e que está progredindo na obtenção de suprimentos. Reuters 

Litígio climático

Instituto Internacional Arayara e OAB-DF promovem na quinta (16/3) um seminário para discutir a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI nº 7095), que aponta inconsistências no Programa de Transição Energética Justa de Santa Catarina. Aprovada em janeiro do ano passado, a legislação do programa prorroga até 2040 o funcionamento das termelétricas a carvão mineral do Complexo Jorge Lacerda (SC). Transmissão ao vivo no canal do Instituto Arayara no YouTube