Energia

Bolsa de energia europeia quer estimular mercado livre brasileiro

Nodal Exchange vai replicar experiência internacional e acredita que câmara de compensação vai acelerar negócios no varejo 

Christian Schneider Foto Nodal Exchange

RIO – Os serviços de compensação de contratos nas câmaras de negociação vão ser importantes para a expansão do mercado livre no Brasil, assim como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos, avalia o diretor de estratégia da Nodal Exchange, Christian Schneider.

“As câmaras de compensação são um dos maiores estimuladores de crescimento, porque criam confiança entre as partes e outras eficiências de capital”, afirma.

A Nodal faz parte do grupo European Energy Exchange (EEX), que opera a bolsa europeia de energia e desenvolveu câmaras de negociação em países como Estados Unidos e Japão.

Junto com o fundo L4 Venture Builder, apoiado pela B3, o grupo inicia nesta quinta-feira (20/6) a operação de uma bolsa para negociação de contratos de energia elétrica no mercado brasileiro, a N5X.

No mercado livre, o consumidor pode escolher o fornecedor de energia. A liberalização dos mercados europeu e americano ocorreu há 30 anos e já inclui todas as classes de clientes.

A abertura se acelerou no Brasil apenas na metade da década passada e ainda está restrito a clientes de alta e média tensão, ou seja, grandes consumidores.

As regras da abertura total para clientes residenciais estão em discussão e devem ser anunciadas ainda este ano, segundo o Ministério de Minas e Energia.

Para Schneider, que já participou do desenvolvimento de bolsas de negociações de energia na Ásia, América e Europa, o mercado livre de energia elétrica tende a ser similar ao redor do mundo, mas com algumas particularidades em cada país.

No caso do Brasil, ele destaca que uma das diferenças é o mecanismo de cálculo dos preços de curto prazo, o preço de liquidação das diferenças (PLD). A diferença decorre da maior presença de geração renovável, incluindo solar, eólica e hidrelétrica, na matriz brasileira.

“Existem padrões específicos sobre esse preço, mas é mais importante saber o que fazer com isso e quais soluções para construir mais segurança no mercado”, afirmou.

É uma das diferenças do mercado brasileiro em relação ao europeu, que viveu o processo de abertura nos anos 1990 e agora avança para discussões sobre a ampliação das renováveis na matriz e a ampliação da integração energética internacional.

Uma das principais discussões na Comissão Europeia no momento é como otimizar o fluxo de energia entre os países, de modo a equalizar os preços e tornar mais eficiente a gestão da geração excedente e dos picos de consumo na região.

O esforço é para ter no continente mecanismos similares aos que já ocorrem entre as regiões dentro do território brasileiro, por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN), que permite o no Sudeste dos excedentes de geração solar e eólica do Nordeste, por exemplo.

Abertura programada

O diretor da Nodal afirma que contribuiu para a confiança no mercado brasileiro a opção do país por fazer uma abertura gradual do mercado livre nos últimos anos, com datas definidas para cada grupo de consumidores poderem migrar, conforme o nível de consumo.

A N5X começa as operações com 160 empresas inscritas, o que superou as expectativas, segundo Schneider. Como comparação, a bolsa de energia japonesa da Nodal foi lançada há quatro anos e tem 58 participantes.

Segundo a CEO da N5X, Dri Barbosa, a meta com o novo balcão é aumentar o giro de negócios no mercado livre brasileiro

“A partir da abertura do mercado livre de energia e, consequentemente, com uma competição mais ampla, acreditamos que o nível de serviços, inovação e volume de negociações irá evoluir significativamente”, diz.

Schneider afirma que após o lançamento da bolsa de energia no Brasil, o grupo pode diversificar negócios e passar a oferecer também outras plataformas de negociação no país em segmentos correlatos, como gás natural. Por enquanto, a bolsa brasileira de energia vai ser a única investida do grupo na América do Sul.

“Não vejo outros mercados na América do Sul tão avançados quanto os brasileiros e em perfeitas condições de entrada, mas isso pode mudar nos próximos anos”, diz.

Bolsa brasileira de energia

O anúncio da criação do balcão brasileiro de negociação de energia pela Nodal aconteceu em outubro de 2023 e nos últimos meses o grupo discutiu soluções para a elaboração da plataforma.

Além da formalização de contratos bilaterais, as bolsas de negociação permitem também a negociação de instrumentos financeiros baseados no setor de energia, como derivativos.

O Brasil já tem balcões de energia elétrica, como o Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), mas apenas 30% do volume negociado no país ocorre por meio de plataformas. O restante é negociado diretamente entre o gerador ou a comercializadora e o consumidor.

A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que tem governança compartilhada entre governo e o mercado, liquida as operações.