Diálogos da Transição

BNDES estuda elétricos no transporte urbano em mais de 30 cidades

De acordo com Luciana Costa, diretora de Infraestrutura do banco, maior desafio da eletrificação é a estruturação do Capex

BNDES estuda elétricos no transporte urbano em mais de 30 cidades. Na imagem: Ônibus articulado elétrico de São José dos Campos (SP) na Linha Verde, primeiro corredor 100% elétrico do país (Foto: Anderson Paguá/Prefeitura de SJC)
Linha Verde em São José dos Campos (SP), primeiro corredor 100% elétrico do país (Foto: Anderson Paguá/Prefeitura de SJC)

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Editada por Nayara Machado
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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está olhando para a eletrificação do transporte urbano em mais de 30 cidades brasileiras, segundo a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática, Luciana Costa.

Ela participou na terça (12/7) de um evento do banco para apresentar a ambição climática na área de infraestrutura.

A instituição de fomento está desenvolvendo uma carteira de projetos para as 21 regiões metropolitanas do país.

“Mobilidade urbana é uma das rotas importantes de descarbonização, junto com hidrogênio verde, e já faz sentido do ponto de vista de investimento, de retorno, substituir ônibus a diesel, por ônibus elétrico”, defendeu.

A diretora conta que o BNDES enxerga um potencial enorme nessa área, do ponto de vista de investimentos, com espaço para diferentes players atuarem – setor privado, bancos, mercado de capitais, instituições multilaterais e fundos de investimentos.

Com uma frota de 107 mil ônibus, o Brasil tem atualmente cerca de 350 veículos eletrificados no transporte público. Renovar toda essa frota levaria 13 anos, a um custo de cerca de R$ 214 bilhões.

“O desafio da eletrificação é a estruturação do Capex, porque o Opex é muito favorável. É uma tendência mundial. 43% da poluição dos grandes centros urbanos vem de ônibus e não só de gases do efeito estufa, mas de material particulado, que faz muito mal para saúde”, comenta.

No caso do Capex, Luciana avalia que o desenvolvimento de um mercado de carbono no Brasil, ao precificar a externalidade negativa do consumo de fósseis, pode acelerar essa transição.

“É uma forma de o Brasil se reindustrializar em bases verdes, porque nós já temos uma indústria de ônibus no país”.

Plano de transição

No início de junho, a brasileira Eletra anunciou o investimento de R$ 150 milhões em um portfólio de ônibus elétricos, durante inauguração de sua fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, com a presença do presidente Lula (PT).

Na ocasião, Lula defendeu o papel do Estado no fortalecimento da indústria nacional, e encomendou ao ministro da Educação, Camilo Santana (PT/CE), a renovação das frotas de ônibus escolares.

“Nossa frota de ônibus já está muito velha. (…) É preciso renovar para vender mais ônibus, gerar mais empregos e fazer a economia brasileira andar para frente”, disse Lula.

A eletrificação também deve entrar no plano de transição ecológica do Ministério da Fazenda. De acordo com o G1, Lula quer apresentá-lo na cúpula que vai reunir países da América do Sul e da União Europeia semana que vem na Bélgica.

Investimento em infraestrutura

Para Luciana, a transição energética não vem dissociada de uma retomada de investimento em infraestrutura.

“Se nós formos grandes exportadores de produtos verdes, vamos ter que adequar portos, vamos ter que adequar a logística”.

Ela chamou a atenção para o papel do banco de fomento como indutor de investimentos em infraestrutura e disse que a ambição, junto com mercado de capitais, deve ser em direção à transição energética.

“É um mundo de trilhões de dólares de investimento e que tende a ser inflacionário. Então o papel dos bancos de fomento aumenta, não somente no Brasil mas no mundo todo”.

Segundo estimativas da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), o Brasil precisará de R$ 3,7 trilhões em investimentos, nos próximos dez anos, em mobilidade urbana, energia, saneamento, transporte e logística.

Transição justa

transição tem que ser justa e contar com todos os tipos de financiamento, porque o mercado privado sozinho não dará conta de preencher todas as lacunas de investimentos, diz Luciana.

“É muito mais sobre como a gente vai se organizar e aumentar os investimentos no Brasil. A chancela do BNDES atrai mercado de capitais privados”.

Outro ponto é que janela para o Brasil se posicionar na economia verde deve se fechar em 2030, avalia, já que o resto do mundo está correndo atrás para estabelecer cadeias de suprimento para a transição, e parte desse mercado tem mais capital e com um custo menor que o Brasil.

“Estamos atrasados, mas ainda dá tempo. Com regulação, com incentivos e subsídios corretos para as indústrias do futuro, de baixo carbono”, completa.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Tarifa zero

O diretório nacional do PT, instância máxima do partido, vai incorporar a defesa da tarifa zero, o transporte público gratuito, como uma bandeira da sigla. A decisão foi aprovada no sábado (8/7), após proposta do secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto.

Também chamada de passe livre, essa política pública prevê a utilização do transporte público sem cobrança de tarifa do usuário final. Nesse modelo, o financiamento do sistema ocorre por meio do orçamento do município. Folha

Política para hidrogênio renovável

Na visão da Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), possíveis incentivos do governo para a produção de hidrogênio de baixo carbono, a partir de gás natural com captura de carbono (CCS) – conhecido como hidrogênio azul – podem levar a uma manutenção da dependência dos combustíveis fósseis.

“É importante que se dê um olhar diferente entre o fóssil com CCS e o renovável. É importante que se dê um olhar específico para o renovável”, afirma Tamar Roitman, diretora executiva da entidade, em entrevista à agência epbr.

Hidrogênio na indústria

A mineradora anglo-australiana Rio Tinto e a japonesa Sumitomo construirão uma planta de hidrogênio verde na refinaria de Yarwun, em Gladstone, na Austrália, como parte de um programa de US$ 75,33 milhões destinado a reduzir emissões de carbono do processo de refino de alumina.

Risco climático

Mais de 90% das maiores empresas do mundo terão pelo menos um ativo exposto financeiramente a riscos climáticos, como estresse hídrico, incêndios florestais ou inundações até a década de 2050, de acordo com pesquisa da S&P Global. Os ativos podem incluir fábricas, armazéns e centros de dados. Bloomberg

Ciclone extratropical no Sul

Rio Grande do Sul e Santa Catarina já enfrentam chuva e vento forte antes mesmo da formação de um ciclone extratropical, previsto para atingir o leste dos estados do Sul do país com mais intensidade entre a noite desta quarta-feira (12/7) e madrugada de quinta-feira (13), com previsão de rajadas de vento de 100 km/h. Folha

Xi pede esforços para cortar emissões

O presidente da China, Xi Jinping, pediu maiores esforços para reduzir as emissões de CO2, mesmo quando o país aumenta a produção doméstica de petróleo e gás, dizendo que a adoção de fontes de energia mais limpas precisa ser acelerada. Bloomberg