ALTAMIRA – A Norte Energia, controladora da usina hidrelétrica Belo Monte, estuda locações na bacia Rio Xingu para construção de barragens ao longo da área alagada com o objetivo de aumentar a capacidade de reserva de água para os períodos secos.
A companhia entende que a viabilidade de um projeto do tipo precisará levar em conta impactos socioambientais, segundo o presidente da Norte Energia, Paulo Roberto Ribeiro Pinto.
Belo Monte chega a liderar a geração de energia dentre todo o parque gerador nacional no verão, período de chuvas. Em potência, com 11 GW, fica atrás apenas da binacional Itaipu (14 GW), sociedade do Brasil com o Paraguai.
Construir reservatórios de água seria uma forma de gerar mais energia ao longo do ano. A usina foi construída a fio d’agua, sem uma grande barragem e com redução da área alagada. Isso não impediu impasses com as comunidades locais e questionamentos de ambientalistas e do Ibama.
Ainda não existem estudos ou conclusões, mas a intenção foi antecipada Ribeiro Pinto, em conversa com jornalistas na usina, nesta quarta (23/4).
“Estamos fazendo um rastreamento da região a montante da usina para ver se é possível encontrar uma área em que possam ser contornadas as questões ambientais envolvidas e fazer uma espécie de uma caixa d’água”, explicou.
“Seria uma barragem sem máquinas, com vertedouros. Essa área seria enchida durante o período da chuva e, durante os períodos de seca, estaria transferindo essas águas para as turbinas de Belo Monte”.
O Ministério Público Federal abriu, ano passado, uma investigações sobre impactos ambientais de Belo Monte nos ecossistemas e comunidades ribeirinhas. Em fevereiro, o Ibama determinou a redução da vazão usada na geração de energia, levando a uma disputa judicial.
A decisão do órgão ambiental foi justificada por uma necessidade de elevar o nível dos cursos naturais do Xingu. O hidrograma de Belo Monte — o regime de vazão das águas — é alvo de impasse no governo Lula desde 2023, quando uma proposta chegou a ser rascunhada no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), sem avançar.
Limitar a vazão para geração de energia representa uma perda de capacidade de geração em períodos de maior consumo, o que preocupa os órgãos do setor elétrico.
“A empresa não está simplesmente acomodada em cima de 18 máquinas [turbinas] desse porte e sem reservatórios, com essas implicações que eventualmente trazem com essas comunidades e principalmente com o Ministério Público. O esforço é constante”, defende Paulo Roberto Ribeiro Pinto.
Queda de linhas levou à redução de vazão
Em janeiro, o Ibama acionou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e ordenou que Belo Monte reduzisse a vazão por conta do período de reprodução dos peixes, que terminou em 15 de março.
O caso foi desencadeado pelo desligamento de trechos do sistema de transmissão, danificado por tempestades no início do ano. Sem conseguir escoar energia, a usina precisou liberar mais água, elevando os níveis do rio e, assim, a área propícia para a desova de peixes.
Para preservar essa proliferação da fauna local, o Ibama determinou que o hidrograma mais restrito fosse mantido durante o período de reprodução dos peixes, o defeso, quando a pesca também é proibida.
E março, um grupo de pescadores protestou na usina, que levou o caso ao Ministério de Minas e Energia (MME), afirmando ter ocorrido uma invasão na área próxima às turbinas de Belo Monte. O ministro Alexandre Silveira pediu o acionamento da Força Nacional de Segurança, o que foi autorizado pelo Ministério da Justiça há duas semanas.
O jornalista viajou a convite da Norte Energia