Crise europeia

Apagão expôs dificuldade da geração intermitente e falta de flexibilidade no sistema ibérico, diz Rystad

Com blecaute ainda sem causa definida, empresa aponta que houve influência da matriz de geração tanto na falha quanto na recuperação elétrica

Comerciantes e restaurantes sem energia elétrica na Alameda Barros durante apagão que atingiu os bairros Santa Cecília, Higienópolis e Vila Buarque, em 18 de março de 2025 (Foto Paulo Pinto/Agência Brasil)
Apagão atinge comerciantes na cidade de SP, em 18 de março de 2025 (Foto Paulo Pinto/Agência Brasil)

LYON (FR) — O apagão de grandes proporções que atingiu a Península Ibérica e também partes da França na segunda-feira (28/4) evidenciou a dificuldade da Espanha de equilibrar o fornecimento intermitente das renováveis, além da falta de flexibilidade e da alta dependência de importações do sistema elétrico de Portugal. A conclusão é da Rystad Energy.

De acordo com a analista sênior da empresa Pratheeksha Ramdas, o blecaute destacou a forte dependência elétrica dos países e a vulnerabilidade do sistema na região.

“Essa interrupção serve como um alerta claro: sem maior resiliência doméstica e melhor coordenação regional, futuras falhas na rede elétrica poderão ter consequências ainda mais graves”, disse Ramdas.

O blecaute começou com uma forte oscilação na rede espanhola, o que levou à desconexão com o resto do sistema europeu à 00h30 de segunda (28/4). Em poucos minutos, a flutuação levou a um colapso energético completo da rede de transmissão da Espanha continental.

Nas horas anteriores ao apagão, o sistema elétrico espanhol operava próximo aos níveis de pico do meio-dia. A demanda estava em cerca de 27.500 megawatts (MW), e era suprida, principalmente, por uma combinação de energia solar fotovoltaica e eólica terrestre, gás natural e uma geração nuclear residual.

Após o apagão na Península Ibérica, o operador da rede elétrica francesa desconectou os interconectores com a região a fim de isolá-la e evitar que a instabilidade se propagasse para a Europa Central.

Assim, Portugal e Espanha tiveram parte da energia cortada.

Com a queda da demanda da Península Ibérica, a França, que estava com a rede elétrica estável, reduziu a geração e redirecionou os fluxos de energia. Quando a estabilidade na Espanha foi parcialmente restaurada, a França voltou a exportar energia.

As causas exatas ainda estão sendo investigadas pelos operadores dos sistemas nacionais, mas uma análise preliminar da Rystad aponta que houve uma influência da matriz de geração tanto na falha quanto na recuperação do fornecimento de energia.

A geração de energia nuclear da França ajudou a fornecer geração estável durante o apagão, enquanto a produção eólica de Portugal caiu mais de 54%.

Em 2024, a Espanha importou cerca de 10,1 gigawatt-hora (GWh) da França e exportou 14 GWh para Portugal.

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